Análise secundária do estudo Aspirin in Reducing Events in the Elderly (ASPREE) demonstrou maior risco de acidente vascular cerebral (AVC), infarto e internação hospitalar por insuficiência cardíaca em sobreviventes de câncer mais velhos. “A quimioterapia também foi associada a taxas mais elevadas dessas condições”, afirmaram os autores do trabalho publicado na Cancer, periódico da American Cancer Society (ACS).
“Embora os avanços no tratamento tenham levado à diminuição da mortalidade por câncer na última década, o número crescente de sobreviventes pode sofrer efeitos de longo prazo da doença e do tratamento oncológico. O coração pode ser especialmente vulnerável à inflamação desencadeada pelo câncer e aos efeitos tóxicos da quimioterapia e da radioterapia”, afirmaram os autores. “Existem estudos que investigam a relação entre câncer e doenças cardiovasculares, mas poucos examinam o risco em adultos mais velhos, o impacto do tratamento do câncer ou o efeito da aspirina na redução do risco nesta coorte”, acrescentam.
Para investigar a incidência de doenças cardiovasculares em sobreviventes de câncer mais velhos e o impacto de tratamentos específicos de câncer na saúde cardíaca, uma equipe liderada por Suzanne Orchard, da Monash University, analisou informações do estudo ASPirin in Reducing Events in the Elderly (ASPREE), que incluiu adultos com 70 anos ou mais que viviam na Austrália e nos Estados Unidos.
O endpoint composto de doenças cardiovasculares compreendeu hospitalização por insuficiência cardíaca (HHF), infarto do miocárdio (IM) e AVC.
Resultados
De 15.454 participantes, 1.392 desenvolveram câncer em um acompanhamento médio de 4,6 anos. As taxas de doenças cardiovasculares foram maiores no grupo de risco de câncer em comparação ao conjunto de risco sem câncer (20,8 versus 10,3 eventos por 1000 pessoas-ano; razão da taxa de incidência, 2,03; IC de 95%, 1,51–2,66), com incidência aumentada observada em infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, AVC geral e AVC isquêmico. A incidência aumentada permaneceu após o ajuste para fatores de risco clinicamente significativos para doenças cardiovasculares.
A incidência foi maior em pacientes com câncer metastático, hematológico e de pulmão. Além disso, a quimioterapia foi associada a um risco 2 vezes maior de eventos de doenças cardiovasculares.
As análises foram inconclusivas em relação a outras terapias sistêmicas, como terapia hormonal, terapia-alvo, imunoterapia e radioterapia — embora a radiação torácica seja conhecida por conferir um risco elevado. A aspirina (a intervenção do ensaio clínico no ensaio) não impactou a incidência de doenças cardiovasculares.
"Nossa pesquisa contribui para o crescente corpo de evidências que indica que a doença cardiovascular relacionada ao câncer e ao tratamento é um risco muito real em sobreviventes do câncer", ressaltaram os autores. "A doença cardiovascular pode ter um impacto significativo na qualidade de vida e na sobrevida de pacientes com câncer. Felizmente, com a triagem precoce e medidas preventivas, alguns dos riscos relacionados ao câncer podem ser mitigados", concluíram.
Referência:
Cardiovascular disease and stroke following cancer and cancer treatment in older adults. - Jaidyn Muhandiramge, John R. Zalcberg, Erica T. Warner, Galina Polekhina, Peter Gibbs, G J. van Londen, Wendy B. Bernstein, Finlay Macrae, Andrew Haydon, Jeanne Tie, Jeremy L. Millar, Victoria J. Mar, Lucy Gately, Andrew Tonkin, Leslie Ford, Asad Umar, Andrew T. Chan, Robyn L. Woods, and Suzanne G. Orchard. CANCER; Published Online: September 23, 2024 (DOI: 10.1002/cncr.35503).
