Depois de demonstrar atividade como agente único em pacientes com mieloma múltiplo recidivado ou refratário, belantamab mafodotin apresenta resultados em combinação com terapias padrão nessa população de pacientes. Vânia Hungria (foto) e colegas relatam os principais endpoints de eficácia e segurança em artigo na New England Journal of Medicine, mostrando que a adição de belantamab mafodotin a bortezomibe e dexametasona conferiu benefício clínico e estatisticamente significativo a essa população de pacientes, com mediana de sobrevida livre de progressão de 36,6 meses versus 13,4 meses no braço controle com daratumumabe, bortezomibe e dexametasona.
Pacientes com mieloma múltiplo são tratados inicialmente com regimes de combinação triplete ou quadruplo que incluem inibidores de proteassoma, imunomoduladores e anticorpos monoclonais anti-CD38. A maioria dos pacientes tem progressão da doença após o tratamento inicial, o que destaca a necessidade de combinações eficazes de segunda linha que incorporem novas opções terapêuticas.
Neste ensaio clínico randomizado, aberto, de fase 3 (DREAMM-7; NCT04246047), os pesquisadores avaliaram belantamab mafodotin, bortezomibe e dexametasona (BVd), em comparação com daratumumabe, bortezomibe e dexametasona (DVd) em pacientes que tiveram progressão de mieloma múltiplo após pelo menos uma linha de tratamento. O desfecho primário foi a sobrevida livre de progressão. Os principais desfechos secundários foram sobrevida global, duração da resposta e status negativo de doença residual mínima (MRD).
No total, 494 pacientes foram randomizados para receber BVd (n= 243) ou DVd (n= 251). Em um seguimento mediano de 28,2 meses (intervalo, 0,1 a 40,0), os autores descrevem que a sobrevida livre de progressão mediana foi de 36,6 meses (intervalo de confiança [IC] de 95%, 28,4 a não atingido) no grupo BVd e de13,4 meses (IC de 95%, 11,1 a 17,5) no grupo DVd (razão de risco para progressão da doença ou morte, 0,41; IC de 95%, 0,31 a 0,53; P < 0,001).
Os resultados de Vânia Hungria e colegas mostram que a sobrevida global em 18 meses foi de 84% no grupo BVd e de 73% no grupo DVd. Análise da duração de resposta média restrita favoreceu BVd sobre DVd (P < 0,001). Uma resposta completa ou melhor, mais status negativo para MRD ocorreu em 25% dos pacientes no grupo BVd e em 10% daqueles no grupo DVd.
Em relação ao perfil de segurança, eventos adversos de grau 3 ou superior ocorreram em 95% dos pacientes no grupo BVd e em 78% daqueles no grupo DVd. Eventos oculares foram mais comuns no grupo BVd do que no grupo DVd (79% vs. 29%), todos controlados com modificações de dose.
“Em comparação com a terapia DVd, a terapia BVd conferiu benefício significativo de sobrevida livre de progressão entre pacientes que tiveram mieloma múltiplo recidivado ou refratário após pelo menos uma linha de tratamento”, concluem os autores.
O antígeno de maturação de células B (BCMA) é um alvo estabelecido para o tratamento de mieloma múltiplo. Belantamab mafodotin é um conjugado anticorpo-fármaco direcionado ao BCMA com diversos mecanismos de atividade antitumoral.
Além da primeira autora, Vânia Hungria, médica hematologista na Clínica São Germano, o estudo internacional tem outra participação brasileira, da hematologista Ana Carolina Ribas de Almeida, do Centro de Pesquisa e Ensino em Saúde de Santa Catarina, Florianópolis.
Referência:
N Engl J Med 2024;391:393-407
DOI: 10.1056/NEJMoa2405090