A epidemiologista Maria Paula Curado (foto) é coautora de estudo publicado no periódico da União Internacional de Controle do Câncer, em análise que avaliou o efeito protetor da ingestão de folato no risco de câncer gástrico (CG), a partir de dados agrupados do Consórcio  StoP (Stomach Cancer Pooling Consortium). Os resultados fornecem mais evidências do papel do folato na redução do risco de CG, mas sugerem que o consumo de mais de duas bebidas alcoólicas por dia parece neutralizar esse benefício.

Vários estudos apontaram que a maior ingestão de folato na dieta está associada a um risco reduzido do câncer de orofaringe, laringe, câncer esofágico, gástrico, pancreático e colorretal, entre outros. O folato está presente em muitos alimentos comuns, como vegetais, leguminosas ou nozes, mas a deficiência de folato é muito prevalente em todo o mundo, provocada inclusive pelo consumo crônico de álcool.

Neste estudo, os pesquisadores reuniram dados de 2.829 casos de  câncer gástrico (CG) confirmados histologicamente e 8.141 controles de 11 estudos de caso-controle do Consórcio StoP. O objetivo foi avaliar o efeito protetor da ingestão de folato no risco de câncer gástrico, além de explorar se o consumo de álcool modificou essa associação. A ingestão dietética de folato foi estimada usando questionários de frequência alimentar. Modelos lineares mistos foram utilizados para calcular razões de risco ajustadas (OR) e intervalos de confiança de 95% (IC) para cada estudo.

Os resultados mostram que a maior ingestão de folato foi associada a menor risco de CG, embora essa associação não tenha sido observada entre os participantes que consumiram > 2,0 bebidas alcoólicas/dia. A razão de risco (OR) para o quartil mais alto da ingestão de folato, em comparação com o quartil mais baixo, foi de 0,78 (IC de 95%, 0,67–0,90, tendência P = 0,0002). A OR para cada incremento de quartil foi de 0,92 (IC de 95%, 0,87–0,96) e para cada 100 μg/dia de ingestão de folato foi de 0,89 (IC de 95%, 0,84–0,95). A análise também revela que houve interação significativa entre a ingestão de folato e o consumo de álcool (interação P = 0,02). O menor risco de CG associado à maior ingestão de folato não foi observado em participantes que consumiram > 2,0 bebidas por dia, ORQ4v Q1 = 1,15 (IC de 95%, 0,85–1,56) e o OR100 μg/dia = 1,02 (IC de 95%, 0,92–1,15).

“Nosso estudo apoia um efeito benéfico da ingestão de folato na redução do risco de câncer gástrico, embora o consumo de > 2,0 bebidas alcoólicas/dia neutralize esse benefício”, concluem os autores.

O câncer gástrico é a quarta causa de morte por câncer e o quinto câncer mais frequentemente diagnosticado no mundo. Entre os fatores identificados na etiologia do CG, a infecção crônica por Helicobacter pylori desempenha papel fundamental, embora fatores modificáveis ​​adicionais tenham sido relacionados ao CG, incluindo tabagismo, consumo excessivo de álcool e dieta.

A íntegra do artigo está disponível em acesso aberto no International Journal of Cancer.

Referência:

https://doi.org/10.1002/ijc.35004