Onconews - Eficácia e segurança da cirurgia oncoplástica versus cirurgia conservadora de mama convencional

O tratamento cirúrgico do câncer de mama passou progressivamente da mastectomia radical para a cirurgia conservadora da mama. Meta-análise de Tian et al. publicada na The Breast comparou a cirurgia oncoplástica  com a cirurgia conservadora da mama convencional em termos de eficácia e segurança, com achados que favorecem a oncoplástica nos principais desfechos avaliados, incluindo redução significativa da taxa de reexcisão, redução da taxa de recorrência local e redução de margens cirúrgicas positivas, além de maior satisfação cosmética. Comenta o trabalho, Cícero Urban (foto), mastologista e especialista em cirurgia oncológica do Hospital Nossa Senhora das Graças e do Centro de Doenças da Mama em Curitiba.

A cirurgia conservadora da mama convencional é adequada para pacientes com tumores menores que 2-3 cm e menos de 20% do volume da mastectomia, conforme evidências da literatura. Para tumores maiores, a cirurgia conservadora convencional (BCS, na sigla em inglês) pode necessitar da remoção de mais tecido para obter margens claras e alterar a aparência da mama. Além disso, 25-30% das mulheres ainda apresentam deformidades perceptíveis após a BCS. A cirurgia oncoplástica combina BCS com técnicas plásticas e reconstrutivas para minimizar as deformidades.

Nesta meta-análise, o objetivo foi refinar comparações anteriores, fornecendo uma avaliação mais abrangente da eficácia clínica e segurança dessas duas cirurgias conservadoras da mama. Dados de estudos de coorte e ensaios clínicos randomizados foram incluídos, a partir de busca nas principais bases de dados (Medline, Web of Science, Embase, Cochrane, Clinicaltrial.gov e CNKI), realizada até 30 de abril de 2024. Como endpoint primário os autores definiram reexcisão, recorrência local, margem cirúrgica positiva e mastectomia, refletindo  desfechos que refletem o sucesso da cirurgia do câncer de mama. A meta-análise também considerou desfechos secundários e de segurança comparando oncoplástica e BCS. A Cochrane Risk of Bias Assessment Tool e a Newcastle-Ottawa Scale foram usadas para avaliar a qualidade dos trabalhos.

Os resultados mostram que 52 estudos foram avaliados, incluindo 46.835 pacientes, e revelam diferenças significativas favorecendo oncoplástica em relação à cirurgia conservadora da mama convencional em relação aos desfechos primários de  reexcisão, recorrência local, margem cirúrgica positiva e mastectomia (RR 0,68 [0,56, 0,82], RR 0,62 [0,47, 0,82], RR 0,76 [0,59, 0,98] e RR 0,66 [0,44, 0,98] respectivamente), indicando eficácia superior da oncoplástica nos principais endpoints avaliados. Além disso, os autores relatam que a oncoplástica demonstrou benefícios estéticos significativos (RR 1,17 [1,03, 1,33] e RR 1,34 [1,18, 1,52]).

Embora as complicações totais tenham sido significativamente menores no grupo de oncoplástica  (RR 0,70 [0,53, 0,94]), as diferenças em complicações específicas não foram significativas.

“Nossa meta-análise investigou minuciosamente a eficácia comparativa e a segurança de oncoplástica versus BCS na prática clínica. Ao compará-las, a oncoplástica mostrou resultados superiores ou pelo menos comparáveis ​​em vários aspectos”, destacam os autores, apontando desfechos superiores da oncoplástica em relação à reexcisão, recorrência local, margem cirúrgica positiva e mastectomia, além de maior satisfação cosmética e menor ocorrência de complicações.

A íntegra do artigo de Tian et al. está disponível em acesso aberto.

O estudo em contexto
Por Cícero Urban, mastologista e especialista em cirurgia oncológica do Hospital Nossa Senhora das Graças e do Centro de Doenças da Mama em Curitiba

Este mês tivemos uma publicação importante no The Breast, uma metanálise comparando a cirurgia conservadora no câncer de mama com a cirurgia oncoplástica. Os resultados foram favoráveis à cirurgia oncoplástica nos parâmetros mais importantes avaliados, tanto do ponto de vista oncológico quanto do ponto de vista estético. Inclusive no que se refere às complicações, a cirurgia oncoplástica apresentou índices menores do que as cirurgias conservadoras convencionais. Contudo, este é um resultado que pode estar relacionado a um evento conhecido como “viés de seleção”. Em cirurgias mais extensas como a oncoplástica esperaríamos resultados piores em termos de complicações. Este resultado, entretanto, seria fruto de uma seleção de pacientes operadas em serviços de excelência (que oferecem a cirurgia oncoplástica na prática e com cirurgiões mais especializados), comparados aos serviços menos especializados onde este tipo de cirurgia não é realizado. Mesmo assim, os resultados desta metanálise demonstraram que a cirurgia oncoplástica tem resultados similares aos da cirurgia conservadora no câncer de mama e que seus resultados justificam suas indicações para a maioria das pacientes, sobretudo para aquelas com tumores mais avançados, multifocais ou multicêntricos.

Referência:

Open Access Published: August 05, 2024, DOI: https://doi.org/10.1016/j.breast.2024.103784