Onconews - Epidemiologia dos tumores urológicos no Brasil

thiago camelo mouraoO urologista Thiago Camelo Mourão (foto) é primeiro autor de estudo publicado no Journal of Epidemiology and Global Health que buscou analisar as tendências nas taxas de mortalidade por câncer urológico no Brasil, considerando as disparidades e desigualdades socioeconômicas observadas nos recursos de saúde entre as regiões do país.

Os óbitos relacionados aos tumores de próstata (CaP), bexiga (BCa), rim (KC), pênis (PeC) e testículo (TCa) entre 1996 a 2019 foram recuperados do banco de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade. Padrões geográficos e temporais foram analisados ​​usando taxas de mortalidade padronizadas por idade (ASMRs). Um modelo de regressão joinpoint foi usado para identificar mudanças nas tendências e calcular a mudança percentual média anual (AAPC) para cada região.

Resultados

No Brasil, ao longo do período avaliado, os ASMRs (por 100.000 pessoas/ano) foram 11,76 para câncer de próstata; 1,37 para câncer de bexiga; 1,13 para tumores renais; 0,33 para câncer de pênis; e 0,26 para câncer de testículo. Tendências crescentes de mortalidade foram registradas para câncer de bexiga (AAPC = 0,45 em homens; 0,57 em mulheres), rim (AAPC = 2,03 em homens), pênis (AAPC = 1,01) e testículo (AAPC = 2,06).

A mortalidade por câncer de próstata apresentou redução significativa após 2006. As regiões Nordeste e Norte apresentaram os maiores aumentos na mortalidade por câncer de próstata. O Sul registrou os maiores ASMRs para câncer de bexiga e renal, mas as maiores tendências de aumento ocorreram nos homens do Nordeste. O Norte apresentou o maior ASMR para câncer de pênis, enquanto o Sul registrou o maior ASMR para tumores testiculares.

“As diferenças entre as regiões podem ser parcialmente explicadas pelas disparidades nos sistemas de saúde. Ao longo do período estudado, as regiões Norte e Nordeste apresentaram taxas de mortalidade mais discrepantes. Esforços devem ser feitos para garantir o acesso aos recursos de saúde para pessoas em risco, principalmente nessas regiões”, concluíram os autores. 

Tendências nas taxas de mortalidade ao longo de mais de duas décadas 

Por Thiago Camelo Morão

O banco de dados do DATASUS é uma valiosa fonte de informação em saúde, que pode ser acessada gratuitamente via internet. Quando fazemos atualmente uma pesquisa no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), que é um sistema gerido pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, encontramos dados desde 1996, quando as declarações de óbito passaram a ser codificadas pelo CID-10 (Classificação Internacional de Doenças).

É importante frisar que estudos utilizando grandes bancos populacionais, como esse, necessitam da correta alimentação desses dados. A causa básica de óbito é codificada pelo médico que preenche a Declaração de Óbito e, posteriormente, todos os números são agrupados e enviados pelas Secretarias ao Ministério da Saúde. Este é um ponto primordial na análise crítica de nosso trabalho, pois eventuais erros de preenchimento e/ou envio podem influenciar as análises.

Quando falamos de cânceres urológicos, consideramos neste estudo o câncer de próstata (primeiro em incidência e segundo que mais mata os homens), o câncer de bexiga (5º em incidência e 9º em mortalidade em homens; 16º em incidência e 18º em mortalidade em mulheres), o câncer de rim (9º em incidência e 13º em mortalidade em homens; 13º em incidência e mortalidade em mulheres), além dos cânceres de testículo e pênis, com incidência e mortalidade menores, mas não menos importantes, uma vez que o primeiro é o que mais acomete o homem jovem e, o outro, muito relacionado com disparidades socio-econômicas e má higiene.

Utilizar a taxa de mortalidade ajustada pela população mundial como um indicador de saúde em oncologia é um parâmetro mais simples e fidedigno do que a incidência, por exemplo. Essa taxa pode ajudar a analisar as condições de assistência de saúde de uma determinada região.

Em nosso estudo, as regiões Norte e Nordeste mostraram uma tendência de aumento das taxas de mortalidade padronizadas por idade em todas as cinco neoplasias analisadas, inclusive no câncer de próstata, que teve diminuição no nível nacional. Uma possível hipótese para isso é um menor acesso ao sistema de saúde, dificultando o rastreamento, o diagnóstico e, por sua vez, o tratamento e seguimento apropriados.

No artigo podem ser verificadas as curvas de tendência paras as cinco neoplasias em nível nacional e para as regiões brasileiras, e podem ser acessados nos materiais suplementares os gráficos com a comparação da distribuição geográfica da médias das taxas de mortalidade padronizadas por idade entre os períodos de 1996-2004 e 2005-2019.

Referência: Mourão, T.C., Curado, M.P., de Oliveira, R.A.R. et al. Epidemiology of Urological Cancers in Brazil: Trends in Mortality Rates Over More Than Two Decades. J Epidemiol Glob Health (2022). https://doi.org/10.1007/s44197-022-00042-8