Em resposta à necessidade emergente de padronizar o desenvolvimento de medicamentos tumor-agnósticos, a Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO) desenvolveu o ESMO Tumor-Agnostic Classifier and Screener (ETAC-S), um conjunto facilmente aplicável de requisitos mínimos para rastrear e reivindicar o potencial agnóstico de opções de tratamento de câncer guiadas molecularmente. Benedikt Westphalen (foto), presidente do Grupo de Trabalho em Medicina de Precisão da ESMO, é primeiro autor de artigo publicado no Annals of Oncology que apresenta a metodologia utilizada para a criação da ferramenta.
Os avanços na oncologia de precisão levaram à aprovação de opções de tratamento molecularmente guiadas (do inglês, MGTOs - molecularly guided treatment options) tumor-agnósticas. No entanto, os requisitos mínimos para determinar o potencial tumor-agnóstico permanecem indefinidos.
"Até agora, não estava claro quando um medicamento poderia ser considerado tumor-agnóstico. O ETAC-S visa preencher essa lacuna fornecendo um conjunto padronizado de requisitos mínimos e um sistema de classificação projetado para ser integrado às várias etapas do processo de desenvolvimento de medicamentos", observou Westphalen. "O uso do ETAC-S dará suporte a pesquisadores, empresas farmacêuticas e reguladores para avaliar se um MGTO tem potencial tumor-agnóstico, informando assim as próximas etapas do processo de desenvolvimento de medicamentos", acrescentou.
No artigo, os especialistas revisaram dados disponíveis publicamente usados para avaliação regulatória de sete indicações independentes de tumores aprovadas pela U.S. Food and Drug Administration (FDA) e/ou pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) em dezembro de 2023.
Diferentes cenários de taxa de resposta objetiva (ORR) mínima, número de tipos de tumores investigados e número de pacientes avaliáveis por tipo de tumor foram avaliados para desenvolver uma ferramenta de triagem para potencial tumor-agnóstico.
Os requisitos mínimos que compõem o rastreador foram então definidos e testados positivamente em dados disponíveis para duas novas aprovações aceleradas do FDA tumor-agnósticas no primeiro semestre de 2024, o conjugado de anticorpo-medicamento trastuzumabe deruxtecana para pacientes com tumores sólidos HER2-positivo (IHC 3+) irressecáveis ou metastáticos e o inibidor de quinase repotrectinibe para pacientes com tumores sólidos localmente avançados ou metastáticos com fusão do gene NTRK.
Especificamente, a terapia deve ter mostrado uma resposta objetiva em pelo menos um em cada cinco pacientes (ORR≥20%) em dois terços dos tipos de tumores investigados (e em ≥4 tipos de tumores), com pelo menos cinco pacientes avaliáveis em cada tipo de tumor, no cenário de doença refratária.
Para fornecer uma categorização realista que vá além de traçar uma linha entre os efeitos tumor-agnósticos e tumor-específicos de um MGTO, o grupo também propôs uma taxonomia conceitual para classificar o efeito terapêutico de terapias investigacionais considerando o contexto biológico completo do tumor além de uma alteração molecular driver alvo principal. O grupo de trabalho propôs três categorias: Tumor-agnóstico, quando alvejar uma alteração molecular driver define predominantemente o efeito terapêutico, independentemente da biologia específica do tumor; Modulado por tumor, quando o efeito terapêutico em uma alteração driver molecular é modulada pela biologia específica do tumor; e Restrito a tumor, quando o efeito terapêutico em uma alteração molecular driver alvo está presente apenas em um contexto de biologia específica do tumor.
“Categorizar terapias contra o câncer de acordo com seus determinantes moleculares/tumorais de efeito com base em uma taxonomia robusta mudaria profundamente a maneira como tratamos o câncer”, disse Diogo Martins-Branco, coprimeiro autor do artigo. “O próximo passo será revisar a literatura para coletar dados de publicações de ensaios experimentais de desenvolvimento de medicamentos tumor-agnóstico que serão essenciais para definir os limites entre o que é puramente tumor-agnóstico e o que é modulado por tumores", explicou, ao delinear o futuro trabalho metodológico do grupo, visando refinar a solidez do ETAC-S.
“O ETAC-S será útil para destacar a mudança em como classificamos doenças dentro do grupo mais amplo chamado ‘câncer’, focando nas alterações moleculares que impulsionam o desenvolvimento do tumor em vez do órgão de origem”, acrescentou Westphalen. “Em um cenário de casos de câncer dramaticamente crescentes que exigem medidas urgentes, otimizar o processo de desenvolvimento de medicamentos propondo uma estrutura padronizada útil para avaliação regulatória agilizará o acesso a terapias eficazes, particularmente naquelas condições com opções de tratamento limitadas”, concluiu.
Referência:
Westphalen CB, Martins-Branco D, Beal JR, et al. The ESMO Tumour-Agnostic Classifier and Screener (ETAC-S): a tool for assessing tumour-agnostic potential of molecularly guided therapies and for steering drug development. Ann Oncol. 2024;35(11) DOI: 10.1016/j.annonc.2024.07.730