As estatinas redutoras de colesterol podem reduzir a incidência e a mortalidade do câncer colorretal em pacientes com colite ulcerativa, como sugere estudo publicado por Sun et al. na eClinicalMedicine. Os resultados também sugerem que o uso de estatinas reduziu o risco de mortalidade por todas as causas em pacientes com colite ulcerativa ou doença de Crohn e o risco foi significativamente menor após ≥2 anos de uso de estatinas. O cirurgião oncológico Benedito Mauro Rossi (foto) comenta o estudo.
O uso de estatinas tem sido associado a um risco reduzido de adenomas colorretais avançados, mas sua associação com câncer colorretal (CCR) em pacientes com doença inflamatória intestinal (DII) - uma população de alto risco para CCR - permanece inconclusiva.
Nesta análise, os pesquisadores consideraram uma coorte sueca de pacientes com doença inflamatória intestinal e no período de julho de 2006 a dezembro de 2018 identificaram 5.273 usuários de estatinas e 5.273 não usuários de estatinas (correspondência de escore de propensão 1:1). O uso de estatinas foi definido como a primeira prescrição para ≥30 doses diárias. O endpoint primário foi a incidência de CCR. Os endpoints secundários foram mortalidade relacionada ao CCR e mortalidade por todas as causas. A regressão de Cox estimou a razão de risco ajustada (aHR) e intervalos de confiança de 95% (IC).
Os autores descrevem que durante um seguimento mediano de 5,6 anos, 70 usuários de estatinas (taxa de incidência (TI): 21,2 por 10.000 pessoas-ano) versus 90 usuários de não estatinas (RI: 29,2) foram diagnosticados com CCR (diferença de taxa (DR), −8,0 (IC 95%: −15,8 a −0,2 por 10.000 pessoas-ano); aHR = 0,76 (IC 95%: 0,61 a 0,96).
Os resultados mostram que o benefício para CCR foi dependente da duração: em comparação com o uso de curto prazo (30 dias a <1 ano), as razões de probabilidade ajustadas foram de 0,59 (0,25 a 1,43) para 1 a <2 anos de uso, 0,46 (0,21 a 0,98) para 2 a <5 anos de uso e 0,38 (0,16 a 0,86) para ≥5 anos de uso (P = 0,016). Sun e colegas também destacam que os usuários de estatinas tiveram risco reduzido de mortalidade relacionada ao CCR (RI: 6,0 vs. 11,9; RD, -5,9 (-10,5 a -1,2); aHR, 0,56 (0,37 a 0,83) e de mortalidade por todas as causa (RI: 156,4 vs. 231,4; RD, −75,0 (−96,6 a −53,4); aHR, 0,63 (0,57 a 0,69).
“O uso de estatinas foi associado a um menor risco de CCR, mortalidade relacionada ao CCR e mortalidade por todas as causas. O benefício foi dependente da duração, com um risco significativamente menor após ≥2 anos de uso de estatinas”, concluem.
As estatinas primariamente são prescritas para tratar hipercolesterolemia e seus efeitos deletérios cardíacos, mas estudos in vitro e em animais têm sugerido efeito anti-inflamatório, anti-proliferativo, pro-apoptótico e antineoplásico”, explica Benedito Mauro Rossi, Professor livre docente em Oncologia pela FMUSP e cirurgião oncológico do Hospital Sírio Libanês e da BP, a Beneficência Portuguesa de São Paulo.
“A comparação entre dois grupos de pacientes com IBD demonstrou que no grupo de usuários de estatinas houve menor incidência de CCR (HR=0,76), menor risco de mortalidade por CCR (HR=0,56) e menor risco de mortalidade por outras causas (HR=0,63) para aqueles com uso prolongado de estatinas (acima de 2 anos, pelo menos) “, observa Benedito, para quem este
estudo abre perspectivas otimistas sobre o efeito quimiopreventivo das estatinas em CCR.
A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto.
Referência: Open Access. Published:August 24, 2023. DOI: https://doi.org/10.1016/j.eclinm.2023.102182