Rachel Riera (foto) e colegas já publicaram dados sobre o impacto da COVID-19 em atrasos e interrupções no tratamento oncológico. Agora, reportam no JCO Global Oncology resultados de revisão que reforça a necessidade de métodos padronizados para monitorar as estratégias propostas para mitigar os efeitos da pandemia no tratamento do câncer. “Os resultados enfatizam a raridade de medir e relatar estratégias que abordem especificamente os resultados dos pacientes e, portanto, a escassez de evidências de alta qualidade”, destacam os autores.
Afinal, que estratégias podem reduzir o impacto da pandemia de COVID-19 no tratamento do câncer? Nesta revisão sistemática, 6.692 referências foram revisadas e 28 foram consideradas elegíveis, resultando na inclusão de 9 estudos, com qualidade metodológica baixa a moderada.
Das nove estratégias identificadas e analisadas, cinco constituíram um conjunto de múltiplas ações voltadas para a mudança nos serviços oncológicos, com foco na comunicação de rotina com os pacientes e no suporte remoto. Enquanto isso, outras quatro estratégias englobaram uma única ação para tratar de fatores relacionados aos pacientes ou ao sistema. É o caso, por exemplo, da implementação bem-sucedida de esquemas de radioterapia hipofracionada, estratégia que resultou em baixa frequência de atraso no tratamento de radioterapia.
Reduzir a complexidade dos serviços cirúrgicos também parece ter impacto positivo. Rivera e colegas ilustram estudo sobre reconstrução cirúrgica no mesmo dia para pacientes com câncer de mama, estratégia que revelou baixa frequência de readmissões e visitas ao departamento de emergência. Outra medida que arrefeceu os reflexos da COVID-19 na oncologia foi o uso de hemodiluição normovolêmica aguda durante cirurgias de grande porte, eficaz em mitigar os efeitos da escassez de suprimento sanguíneo, resultando em uma frequência menor de interrupções da cirurgia e eventos adversos significativos.
“A tomada de decisão compartilhada mantém os serviços essenciais, especialmente para aqueles com maior risco de sofrer resultado desfavorável com interrupções ou atrasos no tratamento”, acrescentam os autores. Um estudo descobriu que a tomada de decisão compartilhada em terapias adjuvantes reduziu a frequência de interrupção do tratamento entre pacientes de risco intermediário ou alto, ilustram. No entanto, a revisão reforça a carência de estudos comparativos. O único estudo comparativo relatou redução de 48,7% no número de consultas ambulatoriais acompanhada por pequeno aumento nos tratamentos de radioterapia refletindo a implementação de uma estratégia organizacional.
“Esta revisão reforça a necessidade de adotar métodos padronizados para monitorar o impacto das estratégias propostas para reduzir os efeitos dos atrasos e interrupções no atendimento ao câncer por causa do COVID-19”, concluem os autores.
O oncologista Felipe Roitberg, autor correspondente, lembra que o trabalho reflete o esforço da Organização Mundial de Saúde (OMS) para amparar a tomada de decisões . “Isso mostra como a OMS, por meio dos estados membros, se vale da geração do melhor nível de evidência possível para fomentar políticas públicas de impacto e, nesse caso, modelagens matemáticas como as que estamos finalizando”, ressalta Roitberg, Cancer Control Management da OMS.
Referência: Rafael Leite Pacheco, Ana Luiza Cabrera Martimbianco, Felipe Roitberg, Andre Ilbawi, and Rachel Riera. Impact of Strategies for Mitigating Delays and Disruptions in Cancer Care Due to COVID-19: Systematic Review. JCO Global Oncology 2021 :7, 342-352 - DOI: 10.1200/GO.20.00632 JCO Global Oncology no. 7 (2021) 342-352. Published online March 3, 2021.
Leia mais: Revisão sistemática discute impacto da COVID-19 no tratamento do câncer