Diagnósticos e prognósticos precisos de síndromes mielodisplásicas (SMD) dependem de uma forte colaboração entre médicos e patologistas qualificados. O alerta é de Gorak et al., em artigo na Blood Advances, com indicadores que demonstram que o diagnóstico incorreto de SMD pode levar a decisões de tratamento abaixo do ideal e a erros nas estimativas populacionais de incidência e mortalidade. "Este é um estudo muito relevante, que nos mostra que mesmo em países mais desenvolvidos, o diagnóstico correto das doenças onco-hematólogicas ainda é um problema muito sério a ser enfrentado", observa o onco-hematologista Carlos Chiattone (foto), Professor Titular de Hematologia e Oncologia da FCM da Santa Casa de São Paulo e Coordenador da Onco-Hematologia do Hospital Samaritano-Higienópolis.
As síndromes mielodisplásicas são um conjunto de distúrbios hematopoiéticos com prognósticos e opções de tratamento amplamente variáveis.
Nesta análise, os pesquisadores compararam os diagnósticos clínicos de 918 participantes inscritos em um estudo de coorte observacional prospectivo com suspeita de SMD ou neoplasias mieloproliferativas - MPN (NCT02775383). Os diagnósticos locais foram submetidos à revisão central.
Localmente, 264 (29%) foram diagnosticados como tendo SMD, 15 (2%) sobreposição SMD/MPN, 62 (7%) citopenia idiopática de significado indeterminado (ICUS), 0 (0%) leucemia mieloide aguda (LMA) com < 30% blastos e 577 (63%) outros. Os autores descrevem que aproximadamente um terço dos casos foram reclassificados após revisão central com 266 (29%) diagnosticados como SMD, 45 (5%) sobreposição SMD/MPN, 49 (5%) ICUS, 15 (2%) AML <30% e 543 (59%) outros.
Os achados de Gorak e colegas mostram que os erros de codificação do site representaram mais da metade (53%) dos erros de diagnóstico locais, deixando uma taxa de erros de diagnóstico verdadeiro de 15% no geral, 21% para SMD.
A indicação de terapias foi relatada em 37% dos pacientes, incluindo 43% daqueles com SMD, 49% de SMD/MPN e 86% de LMA<30% de blastos. As taxas de tratamento foram menores (25%) em casos com discordância verdadeira no diagnóstico em comparação com aqueles em que os diagnósticos locais e centrais concordaram (40%) e a indicação de terapia inadequada ocorreu em 7% dos casos com diagnóstico incorreto.
Em síntese, o estudo revela que diagnósticos discordantes foram frequentes, o que tem claras implicações para a precisão dos registros nacionais e pode levar ao tratamento inadequado.
Chiattone observa que o esforço para termos disponibilidade de novas terapias para a população latino-americana, particularmente no setor público de saúde, é obviamente relevante, particularmente no que tange a disponibilização de mais estudos clínicos para a nossa região. “No entanto, o diagnóstico correto é sempre o primeiro passo. A SMD, onde o diagnóstico e classificação de risco são dependentes de múltiplos e integrativos fatores, clínicos, morfológicos e moleculares, é um claro exemplo de necessidade médica não atendida”, conclui.
Referência: Edward Gorak, Michael Otterstatter, Tareq Al Baghdadi, Nancy Gillis, James M Foran, Jane Jijun Liu, Rafael Bejar, Steven D Gore, Steven H Kroft, Alexandra M Harrington, Wael Saber, Daniel T Starczynowski, Dana E. Rollison, Ling Zhang, Lynn C Moscinski, Steffanie H Wilson, Jason Thompson, Christine Borchert, Seth Sherman, Donnie Hebert, Mary Ellen Walker, Eric Padron, Amy DeZern, Mikkael A. Sekeres; Discordant Pathologic Diagnoses of Myelodysplastic Neoplasms and Their Implications for Registries and Therapies. Blood Adv 2023; bloodadvances.2023010061. doi: https://doi.org/10.1182/bloodadvances.2023010061