O oncologista Andrey Soares (foto) é autor sênior de estudo de revisão publicado no Journal of Global Oncology, que discute medidas para substituir a terapia intravesical com Bacillus Calmette-Guérin (BCG) no carcinoma urotelial de bexiga não músculo invasivo. “A escassez mundial de BCG nos últimos anos e a oferta intermitente podem afetar os cuidados dos pacientes com câncer de bexiga, impondo decisões clínicas difíceis para urologistas e oncologistas”, sustentam os autores, em artigo que propõe alternativas para enfrentar o problema no cenário brasileiro e em outros países de baixa e média renda com dificuldades semelhantes.
No Brasil, apenas um laboratório, a Fundação Ataulpho Paiva, é responsável pela produção e fornecimento de BCG para terapia Intravesical. “Temos enfrentado vários períodos de escassez de fabricação, afetando negativamente o tratamento de vários pacientes”, descreve o artigo, contextualizando um cenário que não é exclusividade brasileira. Na última década, vários outros países também sofreram com a escassez de oferta de BCG, dimensionando a extensão do problema.
Para auxiliar oncologistas clínicos e urologistas na tomada de decisões durante períodos de desabastecimento de BCG, o estudo brasileiro argumenta que a administração dependerá da estratificação de risco do paciente, considerando características clínicas e patológicas: tumores multicêntricos, tamanho do tumor, estágio T1, grau, histórico de recorrência, carcinoma in situ (CIS) associado e localização desfavorável. A partir dessas características, os pacientes podem ser estratificados de acordo com o risco de recorrência da doença (baixo, intermediário e alto – Tabela 1).
Alternativas
Os autores sustentam que uma opção razoável para superar a escassez de suprimento de BCG no Brasil é importar outras cepas, principalmente para pacientes de alto risco, ainda que existam limitações relacionadas ao tempo, além do custo dos impostos e das remessas de importação.
Com base nas evidências disponíveis, a redução da dose e / ou da duração dos ciclos de indução e manutenção também figuram entre as recomendações, assim como a cistectomia radical, que pode ser uma alternativa e deve ser considerada em locais com problemas de acesso à terapia com BCG. “Os riscos e benefícios da cistectomia radical, incluindo mortalidade, morbidade e qualidade de vida devem ser discutidos com os pacientes”, defende o estudo.
Na escassez de BCG Intravesical, outras drogas também foram avaliadas após ressecção transuretral (TURBT) e são consideradas na revisão brasileira, como mitomicina-C, epirrubicina e tiotepa. “A lógica para administrar quimioterapia intravesical 24 horas após TURBT é impedir a implantação de células tumorais, reduzindo assim a recorrência”, esclarecem os autores. Outra terapia promissora é a gemcitabina, especialmente para pacientes de risco intermediário e alguns pacientes de alto risco. “A gemcitabina pode ser considerada, principalmente quando a mitomicina-C não estiver disponível”, propõem.
O estudo tem a participação de Marcelo Langer Wroclawski, Jonathan Doyun Cha, Fabio A. Schutz e Andrey Soares.
Para conferir a íntegra, acesse:
https://ascopubs.org/doi/full/10.1200/JGO.19.00112
TABLE 1. NMIUCB Risk of Recurrence Stratification
Risk Group | Clinical and Patologic Features |
Low | First occurrence AND |
Single lesion AND | |
Stage Ta or PUNLMP AND | |
Low-grade tumor AND | |
Tumor size , 3 cm AND | |
Favorable location AND | |
Absence of CIS | |
Intermediate Not low risk and not high risk | |
High | Stage T1 OR |
High grade OR | |
Presence of CIS OR | |
Unfavorable location OR | |
Recurrent tumor, with multiple lesions, tumor size . 3 cm, but with a low grade |
Abbreviation: CIS, carcinoma in situ; NMIUCB, nonmuscle invasive urothelial carcinoma of the bladder; PUNLMP, papillary urothelial neoplasm of low malignant potential.
Referência: Wroclawski, M. L., Schutz, F. A., Cha, J. D., & Soares, A. (2019). Alternative Therapies to Bacillus Calmette-Guérin Shortage for Nonmuscle Invasive Bladder Cancer in Brazil and Other Underdeveloped Countries: Management Considerations. Journal of Global Oncology, (5), 1–9. doi:10.1200/jgo.19.00112