Estudo prospectivo realizado por pesquisadores da Unicamp com 42 pacientes com nódulos tireoidianos suspeitos sugere que técnicas como cintilografia por SPECT/CT e biópsia radioguiada do linfonodo sentinela podem reduzir o subestadiamento do carcinoma papilar de tireóide (CPT), auxiliando a identificação de metástases ocultas. Os resultados foram publicados no JAMA Otolaryngology Head and Neck Surgery e podem impactar a gestão do CPT. O cirurgião Marco Aurélio Vamondes Kulcsar comenta para o Onconews, ao lado do patologista Venâncio Alves.
Linfonodo Sentinela e Carcinoma Bem diferenciado da Tireóide (CBDT) - Um método para melhorar o tratamento
*Por Marco Aurélio Vamondes Kulcsar
O câncer bem diferenciado da tireoide, principalmente o carcinoma papilífero, aumentou a sua incidência nas últimas décadas, provavelmente devido a melhora na acurácia do diagnóstico com a utilização de métodos de imagem e sua associação à biopsia aspirativa e estudo citológico dos nódulos da tireoide, além de outros fatores. Assim, diante de um diagnóstico de carcinoma papilífero, qual seria a melhor conduta a ser adotada?
Em tumores menores de 1 cm, restritos à glândula e único, pode-se adotar a conduta expectante ou tireoidectomia parcial ou a tireoidectomia total, sendo essa um consenso entre clínicos e cirurgiões pois favorece o acompanhamento para a observação de uma recidiva, com maior frequência nos linfonodos cervicais.
Nos tumores maiores de 4 cm, a tireoidectomia total é sempre realizada, mas fica a controvérsia da necessidade de um esvaziamento profilático do compartimento central, devido ao percentual elevado de micrometástases para os linfonodos do nivel VI, conforme trabalhos japoneses e coreanos, mas esses também ao estender a pesquisa para os tumores menores observaram a presença dessas metástases, as quais não alteravam o prognóstico e aumentavam a taxa de hipoparatireoidismo e disfunção da prega vocal.
Tais fatos determinaram que o último consenso da ATA recomendasse somente esvaziamento terapêutico nos tumores menores de 4 cm.
Portanto, o trabalho de pesquisa do linfonodo sentinela apresentado pela equipe da UNICAMP torna-se mais uma arma no arsenal para evitar a recidiva do CBDT e evitar as complicações nas reoperações (hipocalcemia e disfonia), mas infelizmente essa tecnologia está restrita aos centros com medicina nuclear e tem uma curva de aprendizado para a familiarização com o método, sendo assim de difícil inclusão nas diretrizes do tratamento da tireóide.
*Autor: Marco Aurélio Vamondes Kulcsar é Livre Docente Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Chefe Clínico do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto do Câncer do estado de São Paulo (ICESP) e médico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Casuísticas maiores
*Por Venâncio Alves
Considero este trabalho muito interessante com principal impacto cirúrgico. Como leitor crítico, mesmo sendo patologista, ouso considerar o trabalho muito bem conduzido, ressalvados os limites do possível, sendo de instituição única e com intervenção terapêutica em pacientes.
No entanto, face ao custo dos procedimentos e ao número de casos avaliados, antes de ser aplicável na prática médica, provavelmente as sociedades científicas de especialidades, principalmente as sociedades de cirurgia de cabeça e pescoço, aguardarão que tais achados sejam reproduzidos em outras casuísticas, eventualmente em redes multi-institucionais.
*Autor: Venâncio Avancini Alves é diretor do Centro de Patologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), em São Paulo, e professor titular e chefe do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
O estudo
Estudo prospectivo realizado por pesquisadores da Unicamp com 42 pacientes com nódulos tireoidianos suspeitos sugere que técnicas como cintilografia por SPECT/CT e biópsia radioguiada do linfonodo sentinela podem reduzir o subestadiamento, com a identificação de metástases ocultas no carcinoma papilar de tireóide (CPT). Os resultados foram publicados no JAMA Otolaryngology Head and Neck Surgery e podem impactar a gestão do CPT.
Resultados
Dos 42 pacientes inscritos, 37 foram considerados na análise, incluindo 6 homens e 31 mulheres, com idade média de 47 anos. No estadiamento, 23 pacientes foram T1 (62,2%); 8 pacientes T2 (21,6%) e 6 T3 (16,2%). Foram identificados linfonodos sentinelas em 92% da amostra avaliada e metástases estavam presentes em 17 pacientes (46%). Em 37,8% dos casos, as novas técnicas levaram a mudanças na conduta terapêutica; metástases do CPT foram identificadas em 7 pacientes (18%) do estudo.
Referência: The Role of SPECT/CT Lymphoscintigraphy and Radioguided Sentinel Lymph Node Biopsy in Managing Papillary Thyroid Cancer - Raquel Novas Cabrera; Carlos T. Chone; Denise E. Zantut-Wittmann; Patrcia S. Matos; Daniel M. Ferreira; Pablo S. Pereira; Mariana P. Ribeiro; Allan O. Santos; Celso D. Ramos; Agrício N. Crespo; Elba C. Etchebehere - JAMA Otolaryngol Head Neck Surg. Published online June 30, 2016. doi:10.1001/jamaoto.2016.1227