Resultados do estudo TANIA, randomizado de fase III, demonstraram que associar bevacizumabe à quimioterapia de segunda linha melhorou significativamente a sobrevida livre de progressão (SLP) em comparação com quimioterapia sozinha (HR = 0,75) em pacientes com câncer de mama HER2 negativo que progrediram após tratamento de primeira linha contendo bevacizumabe. Os dados foram publicados no Annals of Oncology de 8 de agosto.
"Esse estudo sugere fortemente que a manutenção de um anti-VEGF após a primeira linha impacta no tempo livre de progressão, fato também observado em outros cânceres como cólon (com bevacizumabe e VEGF trap) e pulmão (com ramucirumabe e nintendanibe)", afirma o oncologista Antonio Carlos Buzaid, chefe-geral do COAEM e membro do comitê gestor do Centro de Oncologia e Hematologia Dayan-Daycoval, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Métodos
Pacientes com câncer de mama HER2-negativo com recorrência local ou metastática (LR/MBC) queprogrediram durante ou após bevacizumabe na primeira linha mais quimioterapia foram randomizados para receber quimioterapia padrão de segunda linha com ou sem bevacizumabe. Na segunda progressão, pacientes inicialmente randomizados para bevacizumabe continuaram a receber quimioterapia na terceira linha.
O desfecho primário foi SLP na segunda linha; endpoints secundários incluíram SLP na terceira linha, sobrevida global, qualidade de vida e segurança.
Resultados
Dos 494 pacientes randomizados, 483 receberam terapia de segunda linha; 234 pacientes (47%) continuaram a receber tratamento em terceira linha. Ofollow-up foi em média de 32,1 meses no braço de quimioterapia e de 30,9 meses no braço tratado com bevacizumabe mais quimioterapia. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos na terceira linha de tratamento em termos de SLP (HR = 0,85, 95% 0,68-1,05) e sobrevida global OS (HR=0.96, 95% CI 0.76–1.21).
Resultados de segurança na terceira linha de tratamento mostraram aumento na incidência de proteinúria e hipertensão com bevacizumabe, consistente com os resultados de segurança observados na segunda linha. Não houve diferença na QVRS.
Conclusão
Neste ensaio, os dados mostram que continuar bevacizumabe além da primeira e segunda progressão melhora a SLP na recorrência da doença local e na recorrência da doença metastática, sem comprometer a qualidade de vida (ClinicalTrials.gov) NCT01250379.
Estes dados são consistentes com os resultados do estudo IMELDA2 que sugerem que o uso de QT de manutenção com capecitabina e bevacizumabe podem ser úteis após resposta máxima com taxano e bevacizumabe", diz Buzaid.
O estudo IMELDA, de Joseph Gligorov e colegas, contou com a participação do oncologista brasileiro José Bines, e apresentou mediana de 11, 9 meses versus 4, 3 meses em favor do braço de combinação, assim como ganho de sobrevida global, com 39 meses vs 23,7 meses.
Segundo o mastologista Silvio Bromberg, do Hospital Israelita Albert Einstein e da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP), o estudo estimula a concepção de que a associação de anticorpos com ações específicas à quimioterápicos beneficiam em muito os pacientes metastáticos. "O estudo TANIA veio para enfatizar o tratamento em múltiplas linhas do câncer metastático, mostrando que mesmo tendo a progressão da doença com bevacizumabe, quando recebem novamente o anticorpo com o quimioterápico o bloquei o VEGF se mostrou benéfico.
Referências:
1. Final results of the TANIA randomised phase III trial of bevacizumab after progression on first-line bevacizumab therapy for HER2-negative locally recurrent/metastatic breast cancer- E. Vrdoljak1 et al - Ann Oncol first published online August 8, 2016 doi: 10.1093/annonc/mdw316
2. Maintenance capecitabine and bevacizumab versus bevacizumab alone after initial first-line bevacizumab and docetaxel for patients with HER2-negative metastatic breast cancer (IMELDA): a randomised, open-label, phase 3 trial - Joseph Gligorov, Dinesh Doval, José Bines, Emilio Alba, Paulo Cortes, Jean-Yves Pierga, Vineet Gupta, Rômulo Costa, Stefanie Srock, Sabine de Ducla, Ulrich Freudensprung, Giorgio Mustacchi - Lancet Oncology, 2014 - http://dx.doi.org/10.1016/S1470-2045(14)70444-9