Onconews - Estudo descreve desfechos substitutos e limitações no tratamento do câncer

Os desfechos clínicos, como a sobrevida global, medem diretamente resultados relevantes. Por outro lado, os surrogates ou desfechos substitutos são medidas intermediárias que se propõem a substituir métricas relacionadas ao tumor, como a redução do tumor em um dado período de tempo (por exemplo, taxa de resposta) ou o status da doença avaliado por algum biomarcador (ex. DNA tumoral circulante, ctDNA). “Os desfechos substitutos podem resultar na interrupção ou troca inapropriada da terapia”, descrevem Vinay Prasad (foto) e colegas, em artigo que analisa as limitações dos surrogates em malignidades sólidas e hematológicas à beira do leito do paciente, fora do cenário de ensaios clínicos.

Os desfechos substitutos são cada vez mais usados ​​em ensaios que apoiam a autorização de comercialização de novos medicamentos oncológicos. No entanto, Prasad e colegas sustentam que a correlação entre surrogates e melhora no desfecho direto é frequentemente moderada a baixa. Neste estudo, o objetivo foi descrever uma classificação abrangente de desfechos substitutos em malignidades sólidas e hematológicas, além de discutir um aspecto negligenciado: as limitações dos surrogates fora do contexto de ensaios clínicos, à beira do leito do paciente.

Nesta análise, os autores lembram que os desfechos substitutos podem ser usados ​​para inaugurar novas estratégias (por exemplo, ctDNA no tratamento adjuvante do câncer de cólon),  “o que pode corroer os resultados do paciente”. Em malignidades hematológicas, argumentam que surrogates “podem induzir a usar novos medicamentos e substituir padrões comprovados de tratamento por medicamentos caros. Os surrogates podem levar alguém a intensificar o tratamento sem melhora clara e possivelmente piorar a qualidade de vida”, destacam.

Os desfechos substitutos são cada vez mais usados em ensaios clínicos, por vários motivos, incluindo o objetivo de obter autorizações de marketing (ou seja, aprovações) de novos medicamentos, com a ideia de que podem permitir aos pacientes acesso mais rápido à inovação.

Os autores alertam que os médicos devem estar cientes do papel dos desfechos substitutos no desenvolvimento e regulamentação de medicamentos e reafirmam que o  uso de surrogates pode ter implicações no mundo real, à beira do leito.

“Uma questão-chave que é frequentemente esquecida é como o uso de desfechos substitutos em ensaios clínicos afeta a prática clínica diária. Aqui, descrevemos desfechos substitutos em cenários de tumores sólidos e hematológicos, com medidas de redução do tumor (taxa de resposta (RR) e doença residual mínima (MRD) e desfechos de tempo para evento (sobrevida livre de progressão (PFS) ou sobrevida livre de recidiva (RFS). Descrevemos o impacto e as potenciais limitações do uso de surrogates em decisões de tratamento que ocorrem à beira do leito”, descrevem.

A íntegra do artigo está disponível em acesso aberto na BMJ Oncology.

Referência:

Timothée Olivier, Alyson Haslam, Dagney Ochoa, Eduardo Fernandez, Vinay Prasad - Bedside implications of the use of surrogate endpoints in solid and haematological cancers: implications for our reliance on PFS, DFS, ORR, MRD and more: BMJ Oncology 2024;3:e000364.