Onconews - Estudo descreve incidência de câncer após 15 sintomas frequentes na atenção primária

Estudo que buscou avaliar o risco de diagnóstico de câncer para 15 sintomas frequentemente apresentados no contexto da atenção primária traz insights importantes para o gerenciamento de pacientes sintomáticos. “Evidências sobre o valor diagnóstico dos sintomas de câncer podem ajudar a identificar quais pacientes na atenção primária precisam de avaliação urgente de um especialista”, analisam os autores.

Atrasos no diagnóstico de câncer estão associados à experiência adversa do paciente e piores resultados clínicos. A maioria dos pacientes com câncer é diagnosticada após apresentação sintomática, mas suspeitar apropriadamente do diagnóstico de câncer em pacientes sintomáticos é sempre um desafio.

Neste estudo, Barclay et al consideraram dados de pacientes com idades entre 30 e 99 anos no período de 2007 a 2017, extraídos de um banco de dados de atenção primária no Reino Unido (CPRD Gold). A análise compreendeu um grupo de referência selecionado aleatoriamente e uma coorte sintomática de pacientes apresentando um dos 15 sintomas de início recente (dor abdominal, distensão abdominal, sangramento retal, mudança no hábito intestinal, dispepsia, disfagia, dispneia, hemoptise, hematúria, fadiga, suores noturnos, perda de peso, icterícia, nódulo mamário e sangramento pós-menopausa). O risco específico de  diagnóstico de câncer e mortalidade não relacionada ao câncer foi avaliado por idade, sexo e tabagismo.

Os dados incluíram 1.622.419 pacientes, dos quais 36.802 tiveram diagnóstico de câncer e 28.857 morreram sem diagnóstico de câncer em 12 meses. A distribuição dos sintomas foi desigual, com 14,6% da coorte apresentando dor abdominal como sintoma inicial, seguida por fadiga (8,9%), dispneia (8,8%), dispepsia (6,8%), sangramento retal (3,0%), nódulo mamário (2,4%), hematúria (1,6%), distensão abdominal (1,4%), perda de peso (1,2%), alteração do hábito intestinal (1,1%), disfagia (0,9%), sangramento pós-menopausa (0,5%), suores noturnos (0,5%), hemoptise (0,4%) e icterícia (0,1%).

Os resultados mostram que o status de tabagismo foi altamente informativo para o risco de câncer de pacientes com sintomas respiratórios ou não específicos de órgãos. Os fumantes normalmente atingiram o limite de risco de 3% que no Reino Unido justifica o encaminhamento para investigações de câncer,  em achado que  compreendeu pacientes até 5 anos mais jovens do que os não fumantes. Curiosamente, sintomas com associações fortes e bem estabelecidas com tipos específicos de câncer, como a dispneia, que normalmente é considerada um sintoma de câncer de pulmão, também foi associada a um HR para cânceres hematológicos de cerca de 1,7 em homens e mulheres.

A hematúria em mulheres foi associada principalmente a cânceres urológicos (HR 57, IC de 95% 48 a 67) e a cânceres ginecológicos (HR 4,6, IC de 95% 3,7 a 5,6)

Para sintomas não específicos de órgãos, o risco de câncer em locais individuais não atingiu o limite de 3% em nenhuma idade ou atingiu o limite apenas em pacientes mais velhos. A análise revela que certos sintomas, como icterícia e disfagia, foram associados a um alto risco de morte não relacionada ao câncer em pacientes mais velhos. Outros sintomas, como perda de peso não intencional, fadiga e dor abdominal, foram associados ao risco maior de diferentes tipos de câncer.

“Fornecemos evidências e resultados detalhados que podem ajudar a enquadrar futuros estudos de pesquisa sobre o risco de câncer em pacientes sintomáticos e atualizar e refinar a política sobre encaminhamento e investigação diagnóstica de pacientes na atenção primária”, destacam os autores.

Este estudo é motivado pela necessidade de evidências para apoiar a atualização das diretrizes de prática clínica para o gerenciamento de cuidados primários de pacientes que apresentam sintomas de possível câncer subjacente. A análise destaca que as diretrizes atuais lidam com os principais fatores de risco de câncer de forma subótima, pois o tabagismo é normalmente ignorado como um estratificador de risco e a idade frequentemente não é considerada uma variável contínua, levando à perda de informações.

 “Essas evidências são necessárias tanto em termos de quantificação do risco absoluto de diferentes tipos de câncer quanto da probabilidade de pacientes morrerem sem um diagnóstico de câncer. Também pretendemos auxiliar no desenvolvimento e complementar o uso de ferramentas de previsão de risco, descrevendo em detalhes as associações entre sintomas e risco de câncer”, propõem.

A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto na BMJ Oncology.

Referência:

Matthew E Barclay, Cristina Renzi, Hannah Harrison, Ana Torralbo, Becky White, Samantha Hiu Yan Ip, Juliet Usher-Smith, Jane Lange, Nora Pashayan, Spiros Denaxas, Angela M Wood, Antonis Antoniou, Georgios Lyratzopoulos - Cancer incidence and competing mortality risk following 15 presenting symptoms in primary care: a population-based cohort study using electronic healthcare records: BMJ Oncology 2024;3:e000500.