À medida que os serviços de rastreamento do câncer de mama avançam em direção ao uso de inteligência artificial (IA), conhecer o olhar da mulher e a opinião pública feminina sobre a introdução dessas novas tecnologias é vital para manter a confiabilidade do sistema de saúde e apoiar os tomadores de decisão a responder aos valores e prioridades da população. “Os serviços de triagem devem demonstrar forte governança para manter o controle clínico, demonstrar excelente desempenho do sistema de IA, garantir proteção de dados e mitigação de vieses, além de dar boas razões para justificar a implementação”, destaca estudo de pesquisadores australianos publicado na The Breast.
Stacy M. Carter e colegas sintetizaram visões públicas de IA aplicada à saúde e revisaram estudos que primariamente avaliaram a visão das mulheres sobre IA no rastreamento do câncer de mama. “As pessoas geralmente parecem abertas à IA aplicada à saúde e seus benefícios potenciais, apesar de uma ampla gama de preocupações; da mesma forma, as mulheres estão abertas à IA na triagem de mama por causa dos benefícios potenciais, mas estão preocupadas com uma ampla gama de riscos”, escrevem os autores.
A análise mostra que as mulheres querem que os radiologistas permaneçam centrais na rotina do rastreamento de câncer de mama e apontam outras questões-chave, entre elas supervisão, avaliação e desempenho, cuidado, equidade e preconceito, transparência e responsabilidade, aspectos que segundo os pesquisadores sugerem que as mulheres podem ser menos tolerantes a erros de IA do que a erros humanos.
O estudo identificou quatro condições principais na implementação de IA no rastreamento do câncer de mama: 1) manter o controle humano; 2) forte evidência de desempenho; 3) apoiar a familiarização com a IA; e 4) fornecer razões adequadas para a introdução da IA. Três soluções foram oferecidas para dar suporte à familiarização: transparência e informação; implementação lenta e em etapas; e permitir que as mulheres optem por não participar da leitura de IA. “Quando essas medidas são colocadas em prática, as mulheres têm mais probabilidade de ver o uso de IA na triagem de mama como legítimo e aceitável”, analisam os pesquisadores.
O modelo australiano de rastreamento do câncer de mama é reconhecido como um dos mais bem sucedidos programas de rastreio populacional do mundi. A mortalidade por câncer de mama diminuiu desde que o BreastScreen Austrália começou, de 74 mortes por 100.000 mulheres com idades entre 50 e 74 anos em 1991, para 41 mortes por 100.000 mulheres em 2019. “O rastreio do câncer de mama tem um forte significado social e cultural, especialmente para mulheres que se sentem invisíveis em outras partes do sistema de saúde e as participantes têm geralmente um forte sentimento positivo em relação ao rastreio. Alterações significativas nos serviços de rastreamento do câncer de mama têm o potencial de perturbar esta relação entre serviços e participantes, evidenciando como é importante que os serviços de rastreio compreendam as opiniões das mulheres”, sublinha a publicação.