Onconews - Estudo mostra impacto da pandemia de COVID-19 na mortalidade por câncer no Brasil

No primeiro ano da pandemia da COVID-19, as projeções de dados indicaram aumento da mortalidade por câncer para os anos seguintes, refletindo a sobrecarga dos serviços de saúde e as mudanças nas prioridades de saúde. Estudo de Amanda Ramos da Cunha e José Leopoldo Ferreira Antunes (foto) publicado na BMC Cancer identificou que a mortalidade por todos os tipos de câncer e pelos cinco tipos mais comuns de câncer no Brasil foi menor do que o esperado de 2020 a 2022, durante a pandemia de COVID-19, revelando que o câncer de estômago foi o tipo que apresentou a maior diferença entre as taxas observadas e previstas.

Neste estudo, o objetivo foi analisar o impacto da pandemia de COVID-19 na mortalidade por todos os tipos e pelos cinco tipos mais comuns de câncer no Brasil, além de investigar a relação entre a densidade de leitos hospitalares e a mortalidade por COVID-19 em pacientes com câncer nas Regiões Geográficas Intermediárias (RGIs) do Brasil.

O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) forneceu dados sobre os óbitos por câncer de traqueia, brônquios e pulmão, colorretal, estômago, mama feminina e próstata e todos os tipos de câncer, e por COVID-19 em indivíduos que tiveram câncer como causa contribuinte de morte. As taxas previstas para 2020–2022 foram comparadas com as observadas, por meio de uma razão de taxas (RR). Os pesquisadores realizaram uma análise de associação, por meio de regressão linear multivariada, entre a mortalidade por COVID-19 em pacientes com câncer, a taxa de leitos hospitalares por 100.000 habitantes e o Índice de Desenvolvimento Humano dos 133 RGIs do Brasil.

Os resultados mostram que em 2020, 2021 e 2022, a mortalidade por todos os cânceres no Brasil foi menor do que o esperado, com RR de 0,95, 0,94 e 0,95, respectivamente, entre as taxas observadas e previstas. Os autores descrevem que o câncer de estômago apresentou a maior diferença entre as taxas observadas e esperadas: RR = 0,89 em 2020 e 2021; RR = 0,88 em 2022. A mortalidade por COVID-19 em pacientes com câncer, que atingiu seu pico em 2021 (6,0/100.000), foi negativamente associada à densidade de leitos hospitalares no sistema público de saúde.

“A mortalidade por câncer menor do que o esperado durante 2020–2022 parece ser parcialmente explicada pela mortalidade por COVID-19 em pacientes com câncer, que provavelmente foi subestimada no Brasil. Os achados sugeriram um papel protetor da disponibilidade de cuidados hospitalares em relação às mortes por COVID-19 nessa população”, concluem os pesquisadores, que recomendam um acompanhamento mais extenso para entender o impacto da pandemia de COVID-19 na mortalidade por câncer.

Os achados do presente estudo parecem se alinhar à hipótese de causa concorrente, pois as menores taxas de mortalidade por todos os cânceres parecem ter sido parcialmente compensadas pela taxa de mortalidade por COVID-19 em pacientes com câncer. Essa explicação sustenta que muitos indivíduos com câncer podem ter morrido de COVID-19. “ No entanto, esse raciocínio precisa de reflexão adicional: a causa contribuinte da morte provavelmente é subnotificada no sistema de informações de mortalidade, especialmente considerando o primeiro ano da pandemia, em que os serviços de saúde despreparados – responsáveis ​​por completar as causas de morte – estavam sob enorme pressão e sobrecarga na luta contra a COVID-19”, analisam.

Referência:

da Cunha, A.R., Antunes, J.L.F. Impact of the COVID-19 pandemic on cancer mortality in Brazil. BMC Cancer 24, 1125 (2024). https://doi.org/10.1186/s12885-024-12761-1