Onconews - Estudo multicêntrico prospectivo analisa prevalência de transtornos emocionais em pacientes com câncer recém-diagnosticados

Estudo que buscou estimar a prevalência de transtornos emocionais em pacientes com câncer recém-diagnosticados e avaliar possíveis variações em relação ao status socioeconômico (SES) mostrou prevalência de 20,9% para qualquer comorbidade emocional, principalmente depressão, trauma e estresse, além de transtornos de ansiedade. A análise identificou dois grupos vulneráveis​​, compreendendo pacientes mais jovens com SES baixo e homens com SES baixo.

A interação entre condições de saúde física e mental, fatores comportamentais e sociais que influenciam a morbidade e a qualidade de vida tanto no início quanto durante o curso da doença é uma área cada vez mais pesquisada.

Neste estudo prospectivo multicêntrico, foram considerados pacientes com um tumor sólido recém-diagnosticado, inscritos dentro de 2 meses do diagnóstico. O status socioeconômico dos pacientes  foi calculado com base em seu nível educacional, qualificação profissional, renda e perfil ocupacional. Um inquérito validado (Structured Clinical Interview for Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5ª edição - SCID-5-CV) foi utilizado para avaliar a prevalência de transtornos emocionais em 4 semanas, além de um questionário de comorbidade para avaliar o nível de comprometimento físico.

Os resultados estão em acesso aberto no ESMO Open. Um total de 1.702 pacientes com câncer foram contatados pessoalmente ou pelo correio, em razão das restrições impostas pela pandemia de coronavírus, e tiveram seus prontuários revisados.  Desse universo, 1.030 pacientes (53,2% homens, idade média de 60,2 anos) concluíram o SCID-5-CV. Quando ponderados de acordo com a distribuição do SES,  os autores descrevem que 20,9% [intervalo de confiança (IC) de 95% 18,1% a 23,6%] dos pacientes foram diagnosticados com algum transtorno emocional. Os mais prevalentes foram transtornos depressivos (9,9%, IC 95% 7,9% a 11,9%), transtornos relacionados a traumas e estresse (6,3%, IC 95% 4,7% a 7,9%), além de transtornos de ansiedade (4,2%, IC 95% 2,9% a 5,6%). Não foram encontradas diferença em nenhum transtorno emocional entre pacientes com alto, médio ou baixo SES.

As análises de regressão logística multivariada revelaram maior proporção de pacientes com qualquer transtorno emocional em indivíduos com menos de 60 anos [odds ratio (OR) 0,42; P < 0,001], em pacientes sem parceiro (OR 1,84; P < 0,001), em mulheres com tumor em órgãos genitais femininos (OR 2,45; P < 0,002) e naquelas com maior nível de comprometimento (OR 1,05, IC 95% 1,03-1,07; P < 0,001). O SES não teve influência significativa na comorbidade emocional em pacientes de câncer recém diagnosticados.

Referência:

DOI: https://doi.org/10.1016/j.esmoop.2024.103655