Onconews - Estudo não mostra associação entre uso de antibióticos e câncer colorretal em pacientes com menos de 50 anos

Estudo liderado por pesquisadores da Kaiser Permanente Northern California sugere que o uso de antibióticos por adultos não está associado ao aumento de diagnósticos de câncer colorretal de início precoce (adultos com menos de 50 anos de idade). “Não encontramos evidências de que o uso de antibióticos na idade adulta aumente o risco de câncer colorretal nessa população”, destacaram os autores em artigo publicado no periódico Clinical Gastroenterology and Hepatology.

Desde a década de 1990, houve um aumento notável no câncer colorretal em pessoas com menos de 50 anos. Para identificar esses cânceres o mais cedo possível, a U.S. Preventive Services Task Force atualizou suas diretrizes em 2021 para recomendar que o rastreamento do câncer colorretal comece aos 45 anos, ao invés de 50 anos. Os pesquisadores também começaram a procurar razões pelas quais as taxas da doença em pessoas mais jovens estavam aumentando.

“Foi levantada a hipótese de que os antibióticos podem perturbar o microbioma de uma forma que promova o câncer colorretal”, disse Jeffrey K. Lee, autor sênior do estudo e pesquisador da Kaiser Permanente.

Esse estudo caso-controle de base populacional foi conduzido entre pacientes do Kaiser Permanente Northern California diagnosticados com câncer colorretal de início precoce em 1998-2020.

A exposição a antibióticos >1 ano antes do diagnóstico/data de índice foi avaliada usando registros de prescrição. A regressão logística condicional foi usada para estimar odds ratios (ORs) e intervalos de confiança de 95% (ICs). Uma análise de sensibilidade foi realizada entre aqueles com ≥10 anos de registros de prescrição contínua.

O estudo incluiu 1.359 membros da Kaiser Permanente Northern California (KPNC) que foram diagnosticados com câncer colorretal entre as idades de 18 a 49. Cada paciente foi pareado com 4 membros saudáveis ​​da KPNC que tinham a mesma idade, sexo e raça ou etnia. Os pesquisadores compararam o uso de antibióticos orais entre os 4.711 pacientes saudáveis ​​e os 1.359 pacientes com câncer colorretal.

O uso de antibióticos na idade adulta não foi significativamente associado ao câncer colorretal de início precoce em análises não ajustadas ou ajustadas (OR ajustado: 1,04; IC de 95%: 0,94-1,26). Nenhuma associação foi observada para o número cumulativo de dispensações de antibióticos orais ou para qualquer período anterior de exposição a antibióticos.

Essas análises consideraram tanto o tipo de antibiótico prescrito quanto o local no cólon ou reto em que o câncer se desenvolveu. O estudo também levou em conta fatores como índice de massa corporal, histórico de tabagismo, diagnósticos de diabetes, diverticulite ou outras doenças, histórico familiar de câncer colorretal e visitas médicas ou hospitalizações anteriores.

Lee disse que as descobertas aumentam as evidências que sugerem que o uso de antibióticos em adultos não está vinculado ao aumento do risco de câncer colorretal. "Muitos estudos analisaram o câncer colorretal e o uso de antibióticos em pessoas com 50 anos ou mais", disse. "Alguns desses estudos mostraram uma ligação fraca e outros não mostraram ligação. Apenas 3 outros estudos — conduzidos fora dos EUA — analisaram o uso de antibióticos em adultos e o câncer colorretal em adultos com menos de 50 anos e esses estudos, como o nosso, não encontraram associação", observou.

Os pesquisadores ressaltam que não se pode descartar se o uso de antibióticos na infância ou adolescência ou a exposição durante a gravidez podem contribuir para o aumento do câncer colorretal em adultos com menos de 50 anos. "É possível que haja certos momentos no início de nossas vidas em que o uso de antibióticos afeta o microbioma intestinal de uma forma que prepara o cenário para o desenvolvimento do câncer colorretal", disse Lee, observando que mais pesquisas são necessárias para responder a esta pergunta.

"Sabemos que a resistência aos antibióticos é uma preocupação real porque muitas vezes as pessoas tomam antibióticos para doenças que não podem ser tratadas com o medicamento, como resfriado, gripe ou bronquite. Precisamos continuar a ter médicos que os prescrevam apenas quando necessário", alertou o especialista.

O estudo foi financiado pelo National Cancer Institute e Kaiser Permanente Northern California Graduate Medical Education.

Referência:

Oral Antibiotic Use in Adulthood and Risk of Early-Onset Colorectal Cancer: A Case-Control Study. Kane, Kevin J. et al. Clinical Gastroenterology and Hepatology, Volume 0, Issue 0