Comparada à mastectomia, a cirurgia conservadora da mama garante controle local e sobrevida equivalentes, com menor morbidade e melhor qualidade de vida (QV). Estudo prospectivo de pesquisadores do Hospital de Câncer de Barretos analisou a percepção estética e a QV de mulheres tratadas com cirurgia conservadora. O trabalho tem como primeiro autor o mastologista Idam de Oliveira Júnior (foto), em artigo na Frontiers in Oncology. “Em nosso estudo, identificamos que condições não mamárias podem influenciar a cosmese autorrelatada, pois a parte funcional e a dor podem afetar negativamente a avaliação da paciente”, analisam os autores.
Neste estudo prospectivo, transversal, que contou com apoio da FAPESP, foram inscritas pacientes em acompanhamento no ambulatório de Mastologia e Reconstrução Mamária do Hospital de Câncer de Barretos, submetidas à cirurgia conservadora de mama (CCM) para câncer de mama.
As pacientes responderam a questionários validados de qualidade de vida - EORTC QLQ - C30, EORTC QLQ-BR23 e Breast Cancer Treatment Outcome Scale (BCTOS) -, tiveram suas mamas fotografadas e foram submetidas à autoavaliação cosmética das mamas.
As fotografias foram analisadas usando o Breast Cancer Conservative Treatment. Cosmetic Results (BCCT.core). Para as variáveis categóricas, foram calculadas as frequências; para as variáveis numéricas, a média e o desvio padrão. Os resultados do BCCT.core foram comparados com os resultados cosméticos das pacientes, gerando quatro resultados possíveis: satisfação concordante, satisfação discordante, insatisfação concordante e insatisfação discordante (avaliação satisfatória do BCCT.core, mas insatisfação da paciente). O teste kappa foi usado para concordância entre variáveis categóricas. O teste t de Student e Mann-Whitney foram usados para avaliar a relação entre a qualidade de vida e os resultados cosméticos. A ANOVA foi realizada com a correção de Bonferroni ajustada para comparar os quatro grupos.
Os resultados relatados mostram que 300 pacientes foram avaliadas, 298 foram submetidas à autoavaliação das mamas (76,8% de resultados satisfatórios e 23,2% insatisfatórios) e 297 foram submetidas à avaliação do BCCT.core (29,9% de resultados satisfatórios e 79,1% insatisfatórios), kappa de 0,095 (p = 0,01).
Na autoavaliação, os autores descrevem que pacientes com resultados estéticos insatisfatórios apresentaram pior saúde geral, com impacto na capacidade física, funcional, emocional, cognitiva e social, fadiga, dor, dispneia, dificuldades financeiras, imagem corporal; perspectivas futuras, efeitos colaterais, sintomas mamários, aspectos funcionais, estética e edema. Esses achados não foram observados com a avaliação do software. Em pacientes com “insatisfação discordante” foram encontrados maiores escores de dor e pior funcionalidade no lado tratado.
Em conclusão, um resultado estético insatisfatório foi associado a pior QV, o que pode estar associado a outros fatores, como dor e funcionalidade mamária. O estudo sublinha a importância de entender a relação entre o resultado estético tardio das mamas e sua correlação com a qualidade de vida das pacientes e seus potenciais fatores associados.
Além de Idam de Oliveira Júnior, o estudo conta com a participação de Fabíola Cristina Brandini da Silva, Almir José Sarri e René Aloísio da Costa Vieira.
Referência:
de Oliveira-Junior I, da Silva FCB, Sarri AJ and Vieira RAdC (2025) Do non-mammary conditions influence patients’ cosmetic perception after breast conserving surgery? Front. Oncol. 14:1432206. doi: 10.3389/fonc.2024.1432206
