A exposição a crimes violentos está correlacionada com a sinalização de glicocorticoides e a mudanças na expressão gênica do câncer de pulmão, sugerindo que as condições sociais têm consequências biofísicas e estão fortemente associadas ao aumento da agressividade tumoral. É o que aponta estudo publicado na Cancer Research Communications, com achados que contribuem para ampliar a compreensão das disparidades do câncer de pulmão no contexto norte-americano.
O câncer de pulmão é a principal causa de mortes relacionada ao câncer em todo o mundo e é responsável por quase 25% de todas as mortes por câncer nos EUA, onde homens negros apresentam maiores taxas de incidência e mortalidade de câncer de pulmão em comparação com brancos, embora fumem menos e comecem a fumar mais tarde. Com esse perfil tabágico, os negros norte-americanos têm menos probabilidade de atender aos critérios de elegibilidade do rastreamento, que se concentram no histórico de tabagismo e na idade.
Neste estudo, Sage J. Kim e colegas analisaram 15 amostras frescas de tumores pulmonares congelados e amostras correspondentes de tecido pulmonar saudável. Todas as amostras eram do biorrepositório da Universidade de Illinois Chicago e foram obtidas de pacientes que residiam em Chicago no momento do diagnóstico e coleta de tecido. As amostras foram coletadas de casos de câncer de pulmão diagnosticados entre 2015 e 2021. Idade, raça, sexo, código postal residencial e tabagismo foram recuperados do prontuário eletrônico.
A partir dos códigos postais residenciais dos pacientes, os pesquisadores identificaram as taxas de crimes violentos (Tabela 1), incluindo estupro, roubo, agressão agravada e homicídio, obtidas do Chicago Health Atlas e do CrimeGrade.org, um sistema que usa computação estatística e aprendizado de máquina (machine learning) para identificar os bairros mais seguros e os mais perigosos.
Kim e colegas utilizaram o teste de Kruskal-Wallis para comparar os indicadores considerados: ser homem, negro, fumante e idade média. A análise também considerou transcriptômica espacial e uma versão do sequenciamento ChIP conhecida como CUT&RUN, além do mapa de calor de genes e análise de motivo, conduzidos com significância estatística de P < 0,05.
Os resultados mostram que a exposição a crimes violentos foi correlacionada com a sinalização de glicocorticoides e aumentou em bairros com maiores taxas de criminalidade. A idade média da amostra foi de 62 anos. Os casos de câncer de pulmão em bairros com baixas taxas de crimes violentos foram em indivíduos mais jovens, com idade média de 57 anos. Não houve outras diferenças na distribuição de gênero, raça e histórico de tabagismo.
“Nossos achados sugerem que a exposição a crimes violentos pode influenciar a biologia do tumor por meio da reprogramação do recrutamento de glicocorticoides. Priorizar o rastreamento do câncer de pulmão em bairros com maior estresse social, como altos níveis de crimes violentos, pode reduzir as disparidades raciais no câncer de pulmão”, propõem os autores.
A íntegra do estudo está disponível na Cancer Research Communications em acesso aberto.
Referência:
Cancer Research Communications (2024) 4 (7): 1643–1654.
https://doi.org/10.1158/2767-9764.CRC-24-0032