Pesquisa que estimou os gastos com saúde nos próximos 30 anos em países da América Latina e Caribe mostra que a pressão da inovação tecnológica vai se sobrepor à demografia e à epidemiologia, promovendo um aumento médio per capita de 2,75 vezes até 2050, com gastos relacionados principalmente à carga do câncer e a doenças do sistema circulatório. “O controle dos gastos com saúde e o uso mais eficiente dos recursos devem se tornar uma prioridade para a região”, alerta o estudo, financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O trabalho foi publicado no Lancet Regional Health Americas, com participação da brasileira Carla Jorge Machado (foto), do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade Federal de Minas Gerais.
Os países da América Latina e Caribe (ALC) vivenciaram importantes desenvolvimentos demográficos, epidemiológicos, econômicos e políticos que levantam preocupações sobre sua capacidade de arcar com os gastos com saúde no futuro. Neste estudo, os pesquisadores buscaram estimar como os gastos atuais com saúde (CHE) nos países da ALC mudarão nos próximos 30 anos e identificar os principais impulsionadores do crescimento dos gastos com saúde.
Um modelo estatístico foi desenvolvido para prever o CHE com base na mudança da carga de doenças, crescimento econômico, tecnologia e demografia. O CHE por idade e grupo de doenças na linha de base (2018/19) foi estimado para países na região da ALC com base em sete países índices. Os gastos da linha de base foram projetados para 2050.
Os resultados revelam que o CHE per capita aumentará em toda a região da ALC (aumento médio de 2,75 vezes) até 2050. “Em quase todos os países da América Latina e em alguns países do Caribe, há pelo menos uma duplicação de CHE per capita entre a linha de base e 2050. Espera-se que o crescimento médio anual de CHE per capita da linha de base até 2050 para os países da América Latina seja de cerca de 3,2% ao ano e 2,4% para o Caribe”, descrevem os autores, sinalizando que os maiores aumentos estão relacionados a neoplasias, sistema circulatório e condições geniturinárias.
As projeções também revelam que uma proporção cada vez maior dos gastos com saúde será com grupos etários mais velhos. O modelo estatístico mostra que os aumentos nos gastos com saúde serão impulsionados em grande parte pelo crescimento econômico e tecnologia, enquanto a demografia e a epidemiologia tiveram efeitos menores (incluindo crescimento populacional, envelhecimento e prevalência de doenças específicas por idade).
“O aumento dos gastos com saúde é uma preocupação devido à acessibilidade”, analisam os autores, que propõem não apenas maior controle dos gastos com saúde, mas maneiras de aumentar a eficiência dentro do sistema de saúde.
Este é o primeiro estudo a fazer projeções abrangentes dos gastos com saúde em países da América Latina e Caribe. A íntegra do artigo está disponível em acesso aberto.
Current health expenditure per capita (2018 US$) in Latin America, 2018/2019*–2050
Referência:
Future health expenditures and its determinants in Latin America and the Caribbean: a multi-country projection study
DOI: https://doi.org/10.1016/j.lana.2024.100781