Onconews - Guideline para sobreviventes de câncer de próstata

ASCO_prostata_1.jpgA American Society of Clinical Oncology (ASCO) aprovou novas diretrizes de cuidados para os sobreviventes de câncer de próstata. 

A recomendação tem o apoio da American Cancer Society (ACS) e fornece orientações de conduta para ajudar os especialistas em câncer de próstata e médicos de cuidados primários a oferecer cuidados de alta qualidade aos pacientes com doença localizada

Embora a maioria das 39 recomendações anteriores tenha sido endossada, a ASCO acrescentou 13 recomendações ao guideline atual.

Segundo Roberto Machado, coordenador do departamento de uro-oncologia do Hospital de Câncer de Barretos, oque salta aos olhos nessa atualização é a preocupação com a qualidade de vida do paciente. “O intervalo do exame de PSA é um indicador dessa preocupação, uma vez que a maior chance de recidiva é nos primeiros dois anos. A recomendação, agora, é fazer o seguimento com uma ou duas dosagens anuais de PSA nos primeiros cinco anos após o tratamento oncológico, porque se o médico exige o exame com menos frequência, o paciente consegue esquecer um pouco a doença”, afirma.

Ele explica que ao solicitar o PSA a cada três, quatro ou seis meses, como previsto nas recomendações anteriores, o paciente não desliga da doença. “Existe aí um fator relacionado com a depressão, com o stress. Com o exame uma vez por ano, ou a cada dois anos, o paciente tem a sensação de alívio, de que está tudo indo bem”.
 
Desenvolvidas por um grupo de trabalho multidisciplinar composto por 16 especialistas no tratamento de pacientes com câncer de próstata, as diretrizes são um ponto de referência para os prestadores de cuidados primários, médicos oncologistas, urologistas e outros profissionais da saúde.
 
As orientações incluem promoção da saúde, vigilância na recorrência, rastreamento e detecção precoce de um segundo câncer primário, gestão física e psicossocial de longo prazo, além da avaliação de efeitos tardios e suas implicações práticas. As áreas mais importantes no cuidado clínico de sobreviventes de câncer de próstata incluem a função urinária, sexual e intestinal, bem como a saúde psicológica.
 
As diretrizes são dirigidas aos pacientes tratados de câncer de próstata localizado que não tenham nenhuma evidência de doença, e que por uma conjugação de razões podem ter seus cuidados fornecidos por um médico da atenção primária. “Um dos pontos ressaltados é o incentivo a transições suaves entre especialistas em câncer de próstata, como urologistas e oncologistas, e médicos de cuidados primários", disse Matthew J. Resnick, professor assistente de cirurgia urológica no Vanderbilt University Medical Center, membro do ASCO Endorsement Panel.
 
No cenário brasileiro, no entanto, a situação é um pouco mais complexa. Machado explica que o uro-oncologista costuma realizar o tratamento e acompanhamento desse paciente por um período de dois a cinco anos. Se depois desse período ele estiver sem evidência de doença e for um paciente com baixo risco de recidiva, esse paciente é encaminhado para a atenção primária. ““A grande maioria, 70%, 80% dos casos, acaba voltando para a atenção primária. Mas tenho que admitir que no Brasil ainda não temos um serviço público adequado para receber esses pacientes pós-tratamento. Nós teríamos que ter um médico e uma equipe preparados para tentar amenizar esses efeitos colaterais e continuar o seguimento, o que não acontece no Brasil”, lamenta.
 
Confira algumas das alterações propostas pela ASCO.
 
Monitoramento do PSA
 
O Painel ASCO acrescentou que o monitoramento do PSA deve ser mais frequente durante o período inicial pós-tratamento, especialmente naqueles pacientes com maior risco de recorrência e/ou homens com câncer de próstata que podem ser candidatos à terapia de resgate. A ASCO recomenda a medição dos níveis de PSA a cada 6 a 12 meses nos primeiros 5 anos, e uma verificação anual após essa data. O calendário exato para a medição de PSA deve ser determinada tanto pelo especialista em câncer de próstata como pelo médico da atenção primária em colaboração.

Exame de toque

Os médicos de cuidados primários devem discutir com os especialistas em câncer de próstata a necessidade de exame de toque retal anual, especificamente no que se refere à detecção de recorrência da doença em sobreviventes de câncer de próstata. Há pouca evidência apoiando o rendimento do toque retal na identificação de recorrência da doença entre os sobreviventes de câncer de próstata, e tem sido sugerido omitir essa conduta dos cuidados de acompanhamento na maioria dos casos.

O Painel ASCO reconhece que alguns pacientes com câncer de próstata podem se beneficiar da rotina do exame de toque, particularmente aqueles submetidos à vigilância ativa, com doença de alto risco e baixo PSA pré-tratamento, e aqueles com uma discordância entre a extensão da doença e o PSA pré-tratamento. O painel acredita, especificamente, que há pouco benefício em realizar o exame de rotina em pacientes após a prostatectomia radical, sem qualquer evidência bioquímica da doença. Assim, a colaboração com os especialistas em câncer de próstata é valiosa para identificar os pacientes que podem se beneficiar do exame de rotina.

Câncer de bexiga e colorretal

A ASCO também ressaltou que pacientes e médicos devem ser informados sobre o aumento do risco de câncer de bexiga e colorretal após a radioterapia pélvica. Os pacientes devem ser submetidos a exames de rotina para uma avaliação adequada de quaisquer sinais ou sintomas sugestivos. Estudos epidemiológicos relatam uma taxa de incidência de câncer de bexiga de 5% a 6% nos pacientes que receberam radioterapia para câncer de próstata. No entanto, não há evidências sugerindo melhora na sobrevida global ou específica da doença com o aumento da intensidade da triagem.

Para os sobreviventes que apresentam hematúria, deve ser realizada uma avaliação completa para determinar a causa dos sintomas e descartar o câncer de bexiga, incluindo o encaminhamento do urologista para cistoscopia e avaliação do trato urinário superior. Na suspeita de câncer colorretal, a linha de conduta ressalta a importância da avaliação pelo especialista adequado (oncologista, gastroenterologista, cirurgião colorretal).

Hemograma

O Painel ASCO alterou a recomendação de "fazer hemograma completo anual" para "considerar hemograma anual" para monitorar os níveis de hemoglobina em homens que apresentam sintomas sugestivos de anemia. Dada a ausência de evidências, a ASCO não acredita que a triagem de rotina para anemia assintomática em sobreviventes de câncer de próstata mereça recomendação.

Angústia/ depressão/ ansiedade do PSA

A avaliação de sintomas psicológicos, como angústia e depressão, deve ser realizada no início do tratamento, e posteriormente, em intervalos apropriados, conforme indicado clinicamente, e não necessariamente uma avaliação anual como era determinado.  A recomendação traz um link para o guideline sobre depressão e ansiedade, com informações mais detalhadas sobre o rastreamento, avaliação e gestão de depressão e ansiedade em adultos com câncer.

Saúde óssea

Deve ser desenvolvida uma estreita colaboração entre o médico de cuidados primários e os especialistas em câncer de próstata para otimizar a saúde óssea em homens com risco de osteoporose. Esta estratégia deve incluir uma discussão aprofundada dos benefícios e malefícios de agentes-alvo ósseos. No entanto, os potenciais benefícios destes tratamentos farmacológicos devem ser avaliado  frente aos possíveis danos, particularmente com respeito à osteonecrose da mandíbula.

Efeitos tardios do tratamento

O painel removeu a referência ao EPIC-CP [ExpandedProstateCancer Index Composite for ClinicalPractice] considerando a falta de avaliação do sangramento retal e de outros efeitos tardios possíveis vividos por sobreviventes de câncer de próstata. O uso de instrumentos específicos, embora muitas vezes abrangente, é frequentemente oneroso no contexto dos cuidados primários. O painel concorda com a recomendação da ACS sobre a necessidade de avaliação contínua das possíveis sequelas funcionais do câncer de próstata e seu tratamento; no entanto, acredita que é mais apropriado identificar os domínios funcionais relevantes, como potencial urinário, problemas de ordem sexual e sintomas hormonais no contexto dos cuidados primários.
 
Leia a lista completa de recomendações aqui