Modelos de previsão de risco de câncer de mama têm subestimado o risco para mulheres afro-americanas, contribuindo para reduzir as taxas de recrutamento em ensaios clínicos de prevenção.
Pesquisadores do Boston University’s Slone Epidemiology Center desenvolveram um novo modelo de previsão para esse grupo de mulheres com maior precisão na predição de risco para a doença, o que pode resultar em um aumento da elegibilidade nos estudos de prevenção de câncer de mama.
O modelo Gail tem sido amplamente utilizado para a previsão do risco de câncer de mama em mulheres brancas, mas foi demonstrado que subestima o risco em mulheres afro-americanas, o que contribuiu para a sua sub-representação nos ensaios de prevenção.
Para desenvolver esse novo modelo, os pesquisadores usaram dados prospectivos de 55 mil mulheres com idades entre 30 e 69 anos no início do estudo. Foram incluídos dados sobre histórico familiar de câncer de mama, histórico de doença benigna da mama, idade da primeira menstruação, idade ao primeiro parto, ooforectomia bilateral, uso de contraceptivos orais, uso de hormônios, índice de massa corporal aos 18 anos e altura.
Resultados
Houve uma boa concordância entre o número previsto e o observado de cânceres de mama em geral (razão Observado-Esperado 0,96; 95% CI, 0,88-1,05) e na maioria das categorias de fatores de risco. A acurácia foi maior para mulheres com menos de 50 anos de idade (área sob a curva [AUC], 0,62; 95% CI, 0,58-0,65) do que para as mulheres com mais de 50 anos (AUC, 0,56; 95% CI, 0,53-0,59). Utilizando um risco previsto de 5 anos de 1,66% ou mais como um ponto de corte, 2,8% de mulheres com menos de 50 anos de idade e 32,2% das mulheres com mais de 50 anos de idade foram classificadas no grupo com risco elevado de câncer de mama invasivo.
"O modelo foi bem calibrado na medida em que previu 486 casos em comparação com 506 casos observados durante o período adicional de cinco anos de follow-up", explicou Julie Palmer, epidemiologista da Boston University’s Slone Epidemiology Center e professora de epidemiologia na Boston University School of Public Health.
"Com base no modelo de Estudo da Saúde das Mulheres Negras, 14,6% das mulheres com idade entre 30 e 69 anos têm um risco em cinco anos de pelo menos 1,66%, consideravelmente maior do que a proporção prevista por modelos anteriores", afirmou.
De acordo com a pesquisadora, o novo modelo deve melhorar a gestão de risco e, se for utilizado para determinar a elegibilidade para entrada em estudos clínicos de prevenção, provavelmente resultará em um maior número de mulheres afro-americanas convidadas a se inscrever nos ensaios.
Segundo José Filassi, coordenador do Serviço de Mastologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira (ICESP), o modelo não representa uma grande novidade. “Eles adaptaram o modelo Gail, e usaram também dados do modelo inglês Tyrer-Cuzick. Ao utilizar outros fatores e estudar mais detidamente características étnicas, a tendência é de que esse modelo seja realmente mais fidedigno”, afirma.
Apesar de considerar um bom modelo, o especialista explica que a classificação serve somente às afro-americanas, e não seria aplicável ao nosso panorama epidemiológico. “O Brasil tem uma população heterogênea. Teríamos que fazer um estudo para validação do método em um lugar diferente daquele onde ele foi criado”, diz Filassi.
O financiamento para este estudo foi fornecido pela Susan G. Komen for the Cure Foundation e pelo National Cancer Institute.