A psico-oncologista Cristiane Bergerot (foto), do Centro de Câncer de Brasília (CETTRO), é autora de editorial publicado no Journal Cancer Investigation que discute o impacto da pandemia da COVID-19 em pacientes com câncer. “Os indivíduos com câncer devem agora lidar não apenas com a incerteza em torno de seu prognóstico, mas também com a ansiedade associada ao COVID-19, possível isolamento de amigos e familiares e interrupções em seu tratamento oncológico”, destaca a publicação1.
No artigo que acompanha o editorial, Papautsky e Hamlish buscaram determinar a extensão da preocupação relacionada à saúde em função da vulnerabilidade das sobreviventes do câncer de mama, bem como avaliar a associação entre o relacionamento com a equipe de saúde e a sensação de vulnerabilidade e preocupação dessas pacientes.2
Em uma coorte de 633 participantes com câncer de mama pesquisadas por meio de plataformas de mídia social, 62% estavam em terapia ativa. Os resultados mostraram que pacientes classificadas como vulneráveis (em tratamento, imunocomprometidas e com atrasos no atendimento) estavam mais preocupadas com o diagnóstico. Além disso, a confiança na equipe de saúde foi uma covariável significativa de vulnerabilidade e preocupação, enfatizando a importância da comunicação e da confiança na promoção de uma assistência adequada e eficaz no tratamento do câncer. “Este estudo fornece informações importantes sobre o impacto emocional associada a COVID-19 e destaca a necessidade de um melhor preparo e rápida adaptação, dos profissionais envolvidos na assistência psicossocial aos pacientes oncológico, para oferecer um adequado suporte nestes tempos desafiadores, direcionado as reais necessidades de cada paciente”, observa o editorial.
Neste editorial, os autores esclarecem que estudos anteriores observaram que os pacientes com câncer estão experimentando taxas aumentadas de medo e ansiedade associadas a COVID-19. “As taxas crescentes de distress e ansiedade associadas ao COVID-19 destacam o papel crítico que a comunicação e o adequado suporte psicológico desempenham no tratamento do câncer. Ainda não está claro quando, ou se o atendimento oncológico retornará ao seu estado pré-COVID. Portanto, permanece crítico encontrar novas maneiras de estarmos física e emocionalmente conectados com nossos pacientes, mantendo o distanciamento social, garantindo que todas as informações sejam transmitidas e compreendidas. É preciso ainda proporcionar um ambiente de confiança para que os pacientes se sintam capazes de discutir e expressar suas próprias necessidades ou preocupações, com foco na tomada de decisão compartilhada, independentemente da distância física”, avaliam os autores.
“É um tema que vem sendo mais bem explorado e que busca alternativas para melhorar a assistência em um período de grandes e rápidas mudanças. O impacto psicossocial era previsível. Contudo, não sabemos a consequência deste impacto no desfecho do tratamento, nas estratégias de enfrentamento utilizadas por esses pacientes, ou na adoção de comportamentos de risco e de proteção. Os desafios impostos por essa pandemia reforçam a necessidade de desenvolvermos recursos e estratégias de suporte psicossocial via internet (chamado eHealth)”, conclui Cristiane.
Referências:
1 - Cristiane Decat Bergerot & Errol J. Philip (2020) Emotional Burden Associated with COVID-19: Trust and Communication in Cancer Care, Cancer Investigation, DOI: 10.1080/07357907.2020.1847383
2 - Elizabeth Lerner Papautsky & Tamara Hamlish (2020) Emotional Response of US Breast Cancer Survivors during the COVID-19 Pandemic, Cancer Investigation, DOI: 10.1080/07357907.2020.1841220
