A U.S. Preventive Services Task Force publicou um projeto de revisão das suas recomendações para o rastreamento do câncer colorretal, e pela primeira vez sugere o início da triagem aos 45 anos (recomendação B). O screening de pessoas entre 50 e 75 anos de idade permanece (recomendação A), assim como a decisão individual para adultos entre 76 a 85 anos (recomendação C). Quem analisa é a endoscopista e pesquisadora Denise Guimarães (foto), coordenadora do programa de rastreamento do câncer colorretal do Hospital de Câncer de Barretos (Hospital de Amor).
Esta não é a primeira vez que o rastreamento de câncer de cólon e reto aos 45 anos é considerado. Em 2018, a American Cancer Society atualizou suas diretrizes para o início do rastreamento de câncer colorretal aos 45 anos. No entanto, a USPSTF não alterou suas diretrizes.
A revisão da recomendação é baseada em dados epidemiológicos que indicam um risco crescente de câncer colorretal entre adultos jovens, com idades entre 45 e 49 anos, e se aplica a pessoas sem sintomas e que não apresentam história pessoal de pólipos colorretais, ou história familiar de doenças genéticas que aumentem o risco de câncer colorretal.
Apesar das fortes evidências de que o rastreamento do câncer colorretal é eficaz, cerca de um quarto das pessoas com idades entre 50 e 75 anos nunca foram rastreadas. O documento observa ainda que adultos negros apresentam a doença com mais frequência se comparados com outras populações, com maior risco de morte. A Força-Tarefa reconhece esse risco desproporcional e incentiva os médicos a oferecer o rastreamento recomendado do câncer colorretal para seus pacientes negros a partir dos 45 anos.
“Novas evidências sobre o câncer colorretal em pessoas mais jovens nos permitiu expandir nossa recomendação para rastrear todos os adultos a partir dos 45 anos, especialmente os adultos negros, que têm maior probabilidade de morrer da doença”, ressalta o documento.
A USPSTF recomenda dois tipos de testes para a triagem do câncer colorretal: testes de visualização direta, tais como a colonoscopia e a retossigmoidoscopia, e testes nas fezes. . “Existem muitos testes disponíveis que podem rastrear com eficácia o câncer colorretal. O ideal é que os médicos de atenção primária discutam os prós e contras das várias opções com seus pacientes para decidir qual teste é melhor para cada pessoa”, afirma o documento.
O draft da declaração de recomendação, a revisão das evidências e o relatório de modelagem estão disponíveis em www.uspreventiveservicestaskforce.org. As contribuições podem ser enviadas até o dia 23 de novembro em www.uspreventiveservicestaskforce.org/tfcomment.htm.
Implementação de um programa nacional de rastreamento do câncer colorretal ainda é um desafio
Por Denise Guimarães, coordenadora do programa de rastreamento do câncer colorretal do Hospital de Câncer de Barretos
Desde a recomendação pela American Cancer Society, em 2018, várias discussões sobre o benefício de se iniciar o rastreamento do câncer colorretal aos 45 anos foram iniciadas em diferentes fóruns, incluindo diversos países e Sociedades Médicas. As discussões levantadas são principalmente relacionadas ao fato de risco ser ainda maior na população mais idosa, e que os esforços deveriam ser direcionados à população entre 50 e 75 anos.
Esse draft da USPSTF, de onde são saem as principais recomendações seguidas por diferentes países, incluindo o Brasil, nos faz refletir se deveríamos seguir também o mesmo caminho.
No Brasil, as recomendações atuais do Ministério da Saúde preconizam que o rastreamento seja feito a partir dos 50 anos (grau de recomendação A) com o teste de sangue oculto nas fezes. Entretanto, não existe atualmente um programa populacional nacional organizado ou oportunístico para o câncer colorretal, apesar do aumento de incidência nos últimos anos e estimativas de aumento de incidência para os próximos 20 anos.
Iniciativas regionais, como a realizada pelo Hospital de Câncer de Barretos (Hospital de Amor), em 2015, com teste de sangue oculto nas fezes a partir dos 50 anos, mostra que a implementação de um programa organizado é viável e reduz o estadiamento do câncer colorretal diagnosticado durante o rastreamento. Entretanto, a implementação de um programa Nacional ainda é um desafio, diante da grandeza do nosso país, diversidade de incidência e de recursos necessários.
Essa implementação deve ser planejada e iniciada baseado nos exemplos regionais existentes e, idealmente, em estudos de custo-efetividade. E, a custo-efetividade e o benefício de se iniciar aos 45 anos ao invés dos 50 anos devem também ser investigados na nossa população antes de seguirmos a recomendação feita pela USPSTF.