Inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (SGLT2i) têm o potencial de melhorar os resultados para pacientes com câncer gastrointestinal, sem efeitos colaterais significativos. É o que sugere estudo com participação do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), em trabalho que tem como primeiro autor o médico Lucas E. Flausino (foto) e como autor sênior e correspondente o médico Roger Chammas (na foto, à direita). “Nossos achados indicam que o uso de SGLT2i está fortemente ligado a melhores resultados no câncer gastrointestinal”.
O papel dos medicamentos inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (SGLT2i) no tratamento de diabetes e doenças cardiovasculares está bem estabelecido, mas evidências emergentes sugerem efeitos potenciais nos resultados do câncer, incluindo cânceres gastrointestinais (GI).
Neste estudo de coorte retrospectivo com dados do banco de dados de pesquisa TriNetX (https://trinetx.com), foram considerados pacientes com câncer GI tratados com quimioterapia e/ou radioterapia entre 2013 e 2023. A coorte de intervenção consistiu em pacientes com câncer GI que receberam SGLT2i, enquanto a coorte de controle não. Modelos de riscos proporcionais de Cox e regressão logística avaliaram os riscos de mortalidade e morbidade entre as coortes.
O estudo incluiu 6.389 pacientes do sexo masculino e 3.457 do sexo feminino com câncer GI (CID-10: C15-C25). Em um seguimento de 5 anos, os resultados mostram que
o uso de SGLT2i foi significativamente associado à melhora da sobrevida para pacientes do sexo masculino (HR 0,568; IC 95% 0,534–0,605) e do sexo feminino (HR 0,561; IC 95% 0,513–0,614) submetidos à quimioterapia e/ou radioterapia. Os autores descrevem que o uso de SGLT2i também se correlacionou significativamente com menores taxas de hospitalização em pacientes do sexo masculino (OR 0,684; IC 95% 0,637–0,734) e do sexo feminino (OR, 0,590; IC 95% 0,536–0,650). A análise dos subtipos de câncer GI também demonstrou benefícios semelhantes, sem efeitos adversos significativos.
Em conclusão, reutilizar inibidores de SGLT2 para tratamento de câncer pode melhorar os resultados para pacientes com câncer gastrointestinal, sem causar efeitos colaterais significativos. Os pesquisadores destacam que mais ensaios clínicos são necessários para confirmar esses resultados e estabelecer a condição ideal para a aplicação de SGLT2i no tratamento do câncer GI.
Além de Lucas Flausino e Roger Chammas, do Centro de Pesquisa Translacional em Oncologia do ICESP e do Centro Integral de Oncologia de Precisão da Universidade de São Paulo, o estudo tem participação de Alexis Germán Murillo Carrasco, Tatiane Katsue Furuya e Wen-Jan Tuan (Penn State College of Medicine).
A íntegra do estudo está em acesso aberto, na BMC Cancer (Nature).
Referência:
Flausino, L.E., Carrasco, A.G.M., Furuya, T.K. et al. Impact of SGLT2 inhibitors on survival in gastrointestinal cancer patients undergoing chemotherapy and/or radiotherapy: a real-world data retrospective cohort study. BMC Cancer 25, 542 (2025). https://doi.org/10.1186/s12885-025-13966-8