A progressão da doença (PD) em pacientes com tumores sólidos é um diagnóstico comum durante hospitalizações não planejadas e está associada a maiores taxas de mortalidade hospitalar e pior sobrevida global após a alta. É o que demonstra pesquisa do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), que revelou taxa de mortalidade hospitalar de 18,9% entre 3,7 mil internações não planejadas em 2021, motivadas principalmente por progressão da doença (34%), infecção (31,1%) e dor oncológica (13,4%). “Os oncologistas devem estar cientes das implicações prognósticas de hospitalizações não planejadas por progressão da doença e alinhar as metas de tratamento com seus pacientes”, destaca a análise. Os oncologistas Cassio Murilo Hidalgo Filho e Felippe Lazar Neto (foto) assinam como primeiro autor.
A maioria das evidências sobre as causas e resultados das hospitalizações de pacientes com câncer vem de dados administrativos ou pequenos estudos retrospectivos de países de alta renda. Neste trabalho, os pesquisadores buscaram capturar a realidade de um centro de assistência oncológica, em uma das maiores coortes brasileiras já relatadas.
A base de análise considerou pacientes com tumores sólidos hospitalizados no ICESP de 1º de fevereiro de 2021 a 31 de dezembro de 2021. Os pesquisadores coletaram retrospectivamente dados sobre diagnóstico de câncer, sintomas na admissão, diagnóstico de hospitalização e resultados clínicos de sobrevivência durante a internação hospitalar (mortalidade hospitalar) e após a alta (taxas de readmissão e sobrevida global [SG]). O diagnóstico de doença progressiva durante a admissão foi recuperado da revisão de prontuários.
Os resultados foram publicados no JCO Global Oncology e mostram 3.726 internações únicas não planejadas identificadas no período. Os sintomas mais comuns na admissão foram dor (40,6%), náusea (16,8%) e dispneia (16,1%). Progressão da doença (34,0%), infecção (31,1%) e dor oncológica (13,4%) foram os motivos mais frequentes para internação. Os autores identificaram uma taxa de mortalidade hospitalar de 18,9%. “Essa taxa é maior do que a observada na Turquia e em outras coortes nos Estados Unidos”, comparam. Pacientes com progressão da doença tiveram alta taxa de mortalidade hospitalar em todos os grupos de tumores e maior risco de morte hospitalar (razão de risco, 3,5 [IC de 95%, 3,0 a 4,2]).
A pesquisa do ICESP também chama a atenção para a elevada taxa de readmissões após a alta hospitalar, revelando que mais da metade dos pacientes são readmitidos em 90 dias, com maior incidência entre aqueles com progressão da doença na hospitalização. As taxas de readmissão em 7, 30 e 90 dias foram de 11,9%, 33,5% e 54%, respectivamente. A mediana de sobrevida global (mSG) pós-alta foi de 12,6 meses (IC de 95%, 11,6 a 13,7). Sobrevida pós-alta mais pobre foi observada entre pacientes com PD (mSG, 5 meses v 18 meses; P < 0,001; razão de risco, 2,4 [IC 95%, 2,1 a 2,6]).
“Os oncologistas devem estar cientes das implicações prognósticas de hospitalizações não planejadas por progressão da doença e alinhar-se com os pacientes, suas famílias e os planos de cuidados futuros da equipe multidisciplinar durante a hospitalização ou na alta hospitalar”, recomendam os autores. Nesse contexto, destacam que a integração precoce de cuidados paliativos reduz o tempo de internação e seus custos associados, ao mesmo tempo em que alivia a carga de sintomas, “uma consideração crítica para pacientes com progressão da doença”.
Aproximadamente um terço dos pacientes com tumores sólidos internados por condições agudas terão um diagnóstico de progressão da doença na internação.
Além de Cassio Murilo Hidalgo Filho e Felippe Lazar Neto, o estudo tem participação de
Vitor Pinheiro Sobottka, João Wilson da Rocha, Lucas Tadeu Barrak Stangler, Heloisa Guedes Andrade, Gustavo Benfatti Olivato, Mateus Zapparoli Claro, Danillo Zeferino de Oliveira Souza, Victor Junji Yamamoto, Mateus Marinho Nogueira Soares, Maria del Pilar Estevez-Diz, Paulo M. Hoff e Renata Colombo Bonadio.
Referência
Cassio Murilo Hidalgo Filho et al., Unplanned Hospital Admissions in Patients With Solid Tumors in Brazil: Causes and Progressive Disease's Impact on Outcomes. JCO Glob Oncol 10, e2400063(2024). DOI:10.1200/GO.24.00063