O Journal of Clinical Oncology (JCO) publicou uma série especial dedicada à radioterapia (vol. 32, nº 26). O objetivo é informar sobre os mais recentes desenvolvimentos neste campo, assim como o potencial e perspectivas futuras da especialidade.
A radioterapia viveu avanços sem precedentes com o ‘casamento’ da tomografia computadorizada com a ressonância magnética e a tomografia PET. Sem dúvida, melhorou o planejamento do tratamento e consequentemente diminuíram os efeitos adversos. A especialidade vive a era da radioterapia conformada tridimensional (3D) e estratégias de planejamento do tratamento em quatro dimensões (em 3D + uma componente do movimento de respiração), sem falar nos softwares que planejam feixes de intensidade modulada para irradiar o paciente.
A série especial do JCO traz artigos de grandes especialistas e enfatiza também o papel da radioterapia em cuidados paliativos.
Radioterapia estereotáxica
Jason P. Sheehan e colegas assinam o artigo que apresenta a história e evolução do conceito de radiocirurgia estereotáxica (RE), primeiramente descrito por Lars Leksell, em 1951, proposto como uma alternativa não invasiva para abordagens neurocirúrgicas. Nas décadas seguintes, a RE se consagrou como técnica para entregar radiação ionizante de altas doses para um alvo intracraniano, de forma dirigida. A convergência de múltiplos feixes focalizados produz um efeito terapêutico potente no alvo e reduz o risco de danos colaterais às estruturas circundantes. Normalmente, a radiocirurgia estereotáxia é administrada em uma única sessão, mas pode ser dada em até cinco sessões ou frações.
Ao fornecer um efeito ablativo de forma não invasiva, a RE alterou os paradigmas de tratamento para tumores benignos intracranianos, distúrbios funcionais malignos e malformações vasculares. Extensa literatura sobre radiocirurgia intracraniana tem demonstrado o benefício da RE em pacientes selecionados.
Recentemente, os princípios da RE têm sido estendidos para casos de cirurgia extracraniana, em sítios como o pulmão e fígado A radioterapia estereotáxica tornou possível aplicar uma única irradiação com elevada dose sem causar morbidades tardias.
Ao avaliar as perspectivas futuras da RE, Robert D. Timmerman e colegas fala dos prós e contras da radiocirurgia estereotáxica e lembra que entre os pontos fracos estão graus de toxicidade de difícil manejo (por exemplo, ulceração, estenose, fibrose e até mesmo necrose) que podem ocorrer após o tratamento. No entanto, os autores concluem com a análise de que ensaios clínicos em uma variedade de órgãos têm mostrado bons resultados em pacientes adequadamente selecionados e sinalizam perspectivas positivas. “Há grande esperança de que a radiocirurgia estereotáxica fracionada vai encontrar um lugar de destaque no tratamento de câncer metastático, como um parceiro de consolidação com a terapia sistêmica”, projetam os autores.
Feixe de prótons, custos e evidências
A terapia com feixe de prótons é a forma mais comum de terapia de radiação com partículas pesadas. O especial do JCO traz artigo de Timur Mitin e Anthony L. Zietman
sobre as promessas e armadilhas da protonterapia. Os autores analisam as evidências clínicas e os benefícios frente às alternativas disponíveis. A técnica não é nova, mas o custo elevado tem fomentado sua expansão, ainda que os resultados inspirem cautela. Para Mitin e Zietman, é preciso ter consciência dos custos na saúde. “Os hipotéticos benefícios da terapia com feixe de prótons precisam ser suportados por ganhos clínicos comprovados”, lembram.
A radioterapia na era da terapia-alvo
O desenvolvimento de terapias alvo molecular em oncologia é o resultado de muitos anos de investigação científica sobre os mecanismos celulares ligados ao câncer e a sua progressão. As últimas duas décadas têm trazido um ritmo acelerado para a investigação clínica de novos agentes com alvos específicos, particularmente no contexto da doença metastática. Neste cenário, a combinação com outras modalidades terapêuticas bem estabelecidas, como a radioterapia, tem papel crescente.
Em artigo de revisão, Zachary S. Morris e Paul M. Harari discutem a interação da radioterapia com a terapêutica alvo molecular e observam que a dinâmica da resposta celular de diferentes tumores demonstra benefício para os pacientes com essa associação. Ao usar o receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) como um exemplo primário, Morris e Harari discutem estudos clínicos recentes que ilustram o potencial de sinergia de drogas alvo com radioterapia, destacando o valor clínico dessa combinação.
Cuidados paliativos
A radioterapia é uma intervenção que traz benefícios ao paciente no contexto de cuidados paliativos, é bem-tolerada e se demonstra custo-efetiva, o que é crucial para a prestação de cuidados paliativos em oncologia. A distinção entre os objetivos curativos e paliativos não é bem definida em muitos pacientes com câncer. A escolha do tratamento é comumente feita com base em fatores relacionados ao paciente (status performance, idade avançada, perda de peso significativa, comorbidades graves), ao câncer (doença metastática, histologia agressiva), ou ao tratamento (ou seja, a má resposta à terapia sistêmica, radioterapia anterior). Metas podem incluir o alívio dos sintomas no local do tumor primário ou lesões metastáticas. Abordagens inovadoras incluem a adoção da radioterapia em cuidados paliativos, bem como a formação de serviços de radioterapia paliativa em centros acadêmicos. Algumas orientações de conduta estão bem definidas, como é o caso das intervenções de radioterapia paliativa em metástases ósseas.
Referências: http://jco.ascopubs.org/content/32/26/2825.full.pdf+html