O uso de inibidores de tirosina-quinase do receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) é padrão de primeira linha no tratamento de pacientes com câncer de pulmão não pequenas células avançado (CPNPC) que abriga mutações ativadoras de EGFR. Estudo de meta-análise com participação brasileira comparou afatinibe, erlotinibe e gefitinibe frente ao doublet de platina. Os resultados foram publicados na Oncotarget. O oncologista clínico Ramon Andrade de Melo (foto), pesquisador do Hospital Haroldo Juaçaba, do Instituto do Câncer do Ceará (ICC), em Fortaleza, é o primeiro autor do trabalho.
Com o objetivo de fornecer dados de eficácia e toxicidade capazes de ajudar na seleção do tratamento, a meta-análise considerou os principais estudos clínicos randomizados que avaliaram inibidores de tirosina-quinase do EGFR (TKI) no tratamento do câncer de pulmão avançado, compreendendo os agentes atualmente aprovados em primeira.
O principal resultado avaliado por esta meta-análise foi taxa de resposta objetiva (ORR, da sigla em inglês) avaliada por RECIST (v1.1). Também foram considerados resultados de sobrevida livre de progressão (SLP), sobrevida global (SG) e incidência de eventos adversos (AE). Para esta análise comparativa, o estudo considerou as bases de dados do Medline, Embase, Scopus e do Information Sciences Institute (ISI).
Resultados
A análise considerou dados de 3.179 pacientes tratados com TKIs do EGFR, a partir de 9 estudos randomizados. Todos demonstraram superioridade na comparação com a quimioterapia padrão em relação à taxa de resposta objetiva (ORR) e sobrevida livre de progressão (SLP). As taxas de ORR com afatinibe, erlotinibe e gefitinibe foram de 61,6%, 67,3% e 52,1% respectivamente.
A comparação de SLP também favoreceu os EGFR TKIs frente à quimioterapia com doublet de platina, com HR= 0,40 (IC 95%, 0,20-0,83) para afatinibe, HR= 0,28 (IC 95%, 0,17-0,45) para erlotinibe e HR= 0,62 (IC 95%, 0,38-1,00) para gefitinibe.
Apesar de ser um estudo retrospectivo que incluiu grande número de pacientes, vale lembrar que a meta-análise também tem limitações, a começar da comparação indireta entre os EGFR TKIs avaliados, diante da escassez de estudos head to head.
“Os três medicamentos disponíveis e aprovados pela ANVISA no Brasil para esse contexto (afatinibe, erlotinibe, gefitnibe) apresentam resultados semelhantes em termos de sobrevida global, mas com perfis de toxicidade diferentes”, analisa Ramon Andrade de Melo, pesquisador do Hospital Haroldo Juaçaba, do Instituto do Câncer do Ceará (ICC), em Fortaleza. “A nossa meta-análise traz um grande impacto na oncologia torácica, ao mostrar a semelhante eficácia entre esses três medicamentos, abrindo margens a negociações para padronizar aquele que se demonstrar mais custo-efetivo para as entidades pagadoras, quer seja o SUS ou convênios”, conclui.
O estudo está disponível, em acesso aberto.
Referência: Comparative outcome assessment of epidermal growth factor receptor tyrosine kinase inhibitors for the treatment of advanced non-small-cell lung cancer: a network meta-analysis - Oncotarget. 2018; 9:11805-11815. https://doi.org/10.18632/oncotarget.23668