Revisão sistemática e meta-análise de Hao Tan et al. publicada online 4 de março no Lancet Oncology descreve a apresentação clínica e os resultados de pacientes com carcinoma hepatocelular relacionado à doença hepática gordurosa não-alcoólica (DHGNA). Os achados revelam que o carcinoma hepatocelular relacionado à DHGNA está associado a uma proporção maior de pacientes sem cirrose e a taxas de vigilância mais baixas do que o carcinoma hepatocelular devido a outras causas.
Nesta revisão sistemática e meta-análise, o objetivo foi estabelecer a prevalência, características clínicas, taxas de vigilância, alocação de tratamento e resultados do carcinoma hepatocelular relacionado à DHGNA. Os autores pesquisaram as bases da MEDLINE e Embase desde o início até 17 de janeiro de 2022, selecionando artigos em inglês que comparavam características clínicas e resultados do carcinoma hepatocelular relacionado à DHGNA versus carcinoma hepatocelular devido a outras causas. Foram incluídos estudos observacionais transversais e longitudinais e excluídos estudos pediátricos. Os desfechos primários foram (1) a proporção de carcinoma hepatocelular secundário à DHGNA, (2) comparação das características do paciente e do tumor e (3) comparação da vigilância, alocação do tratamento e resultados de sobrevida livre de carcinoma hepatocelular relacionado à DHGNA versus não relacionado à DHGNA.
A meta-análise pareada foi realizada para obter o odds ratio (OR) ou diferença média, enquanto a análise agrupada de taxas de risco foi avaliada para comparar os resultados de sobrevida.
Resultados
Dos 3.631 registros identificados, 61 estudos (de janeiro de 1980 a maio de 2021; 94 636 pacientes) preencheram os critérios de inclusão. No geral, a proporção de casos de carcinoma hepatocelular secundários à DHGNA foi de 15,1% (IC 95% 11,9–18,9). Os pacientes com carcinoma hepatocelular relacionado à DHGNA eram mais velhos (p<0,0001), com IMC mais alto (p<0,0001) e mais propensos a apresentar comorbidades metabólicas (diabetes [p<0,0001], hipertensão [p <0,0001], e hiperlipidemia [p<0,0001]) ou doença cardiovascular na apresentação (p=0,0055). Eles também foram mais propensos a não ser cirróticos (38,5%, 27,9-50,2 vs 14,6%, 8,7-23,4; p <0,0001).
Os resultados mostram que pacientes com carcinoma hepatocelular relacionado à DHGNA apresentaram diâmetros tumorais maiores (p=0,0087), foram mais propensos a ter lesões uninodulares (p=0,0003), mas tiveram índices semelhantes nos critérios de Barcelona, no status de desempenho ECOG, estágios TNM e concentração de alfafetoproteína comparados a pacientes com carcinoma hepatocelular não relacionado à DHGNA. Uma proporção menor de pacientes com carcinoma hepatocelular relacionado à DHGNA foi submetida à vigilância (32,8%, 12,0-63,7) na comparação com pacientes com carcinoma hepatocelular de outras causas (55,7%, 24,0-83,3; p<0,0001). Não houve diferenças significativas na alocação do tratamento (terapia curativa, terapia paliativa e melhores cuidados de suporte) entre pacientes com carcinoma hepatocelular relacionado à DHGNA e aqueles com carcinoma hepatocelular devido a outras causas. A sobrevida global não diferiu entre os dois grupos (taxa de risco 1,05, IC 95% 0,92-1,20, p = 0,43), mas a sobrevida livre de doença foi maior para pacientes com carcinoma hepatocelular relacionado à DHGNA (0,79, 0,63–0,99; p=0,044).
“O carcinoma hepatocelular relacionado à DHGNA está associado a uma proporção maior de pacientes sem cirrose e taxas de vigilância mais baixas do que o carcinoma hepatocelular devido a outras causas. Estratégias de vigilância devem ser desenvolvidas para pacientes com DHGNA sem cirrose e com alto risco de desenvolver carcinoma hepatocelular”, concluem os autores.
A íntegra do artigo está disponível em acesso aberto no Lancet Oncology:
Referência: Hao Tan et al. Clinical characteristics, surveillance, treatment allocation, and outcomes of non-alcoholic fatty liver disease-related hepatocellular carcinoma: a systematic review and meta-analysis. DOI:https://doi.org/10.1016/S1470-2045(22)00078-X