Onconews - Modelo ADNEX no diagnóstico de câncer de ovário

Meta-análise e validação externa do ADNEX (Assessment of Different Neoplasias in the adnexa) para diagnóstico de câncer de ovário indicam que o modelo teve bom desempenho na distinção entre tumores benignos e malignos em populações de diferentes países e ambientes, independentemente do uso de CA125 como preditor. Os resultados estão no British Medical Journal e recomendam ADNEX para apoiar decisões clínicas.

O grupo International Ovarian Tumor Analysis (IOTA) desenvolveu o modelo de predição de risco ADNEX baseado em três variáveis preditoras clínicas e seis variáveis ultrassonográficas. O modelo estima o risco de cinco tipos de tumor: benigno, limítrofe, invasivo primário em estágio I, invasivo primário em estágio II-IV e metastático secundário. ADNEX está incluído em algumas diretrizes nacionais (por exemplo, na Bélgica, Países Baixos e Suécia), e é recomendado por diferentes sociedades científicas, como a Sociedade Internacional de Ultrassom em Obstetrícia e Ginecologia, Sociedade Europeia de Ginecologia Oncológica e Sociedade Europeia de Endoscopia Ginecológica.

Neste estudo de Van Calster e colegas, o objetivo foi realizar uma revisão sistemática de estudos de validação externa do modelo ADNEX para diagnóstico de câncer de ovário e apresentar uma meta-análise de seu desempenho.

Os pesquisadores consideraram dados da Medline, Embase, Web of Science, Scopus e Europe PMC, de 15 de outubro de 2014 a 15 de maio de 2023, compreendendo todos os estudos de validação externa do desempenho do ADNEX. A qualidade dos estudos foi avaliada com a diretriz de relato TRIPOD (Relatório Transparente de um modelo de previsão multivariável para prognóstico ou diagnóstico individual), e a conduta metodológica e o risco de viés com o PROBAST (Ferramenta de avaliação de risco de viés do modelo de previsão). As metanálises de efeitos aleatórios da área sob a curva (AUC) consideraram sensibilidade e especificidade no limiar de risco de malignidade de 10% e benefício líquido e utilidade relativa no limiar de risco de malignidade de 10%.

Os resultados foram relatados no British Medical Journal e mostram que 47 estudos (17 007 tumores) foram incluídos na base de análise, com um tamanho médio de amostra de 261 (intervalo 24-4905). Em média, 61% dos itens do TRIPOD foram relatados.

Em pacientes submetidos à cirurgia, a AUC para distinguir tumores benignos de malignos foi de 0,93 (intervalo de confiança de 95% 0,92 a 0,94, intervalo de previsão de 95% 0,85 a 0,98) para ADNEX com o biomarcador sérico CA125 como preditor (9.202 tumores, 43 centros, 18 países e 21 estudos) e de 0,93 (intervalo de confiança de 95% 0,91 a 0,94, intervalo de previsão de 95% 0,85 a 0,98) para ADNEX sem CA125 (6.309 tumores, 31 centros, 13 países e 12 estudos). A probabilidade estimada do modelo ADNEX ter utilização clínica em um novo centro foi de 95% (com CA125) e 91% (sem CA125).

Ao restringir a análise a estudos com baixo risco de viés, os valores resumidos de AUC foram 0,93 (com CA125) e 0,91 (sem CA125), e as probabilidades estimadas de uso clínico do modelo foram de 89% (com CA125) e 87% (sem CA125).

Os resultados da meta-análise indicam que ADNEX teve bom desempenho para discriminar tumores benignos e malignos em populações de diferentes países e ambientes, com ou sem CA 125 como preditor. Os modelos tiveram 95% (com CA125) e 91% (sem CA125) de possibilidade de uso clínico em novos centros quando usado com risco no limite de 10% de malignidade. No entanto, os autores destacam que a calibração do modelo foi raramente descrita, o que representa importante limitação do estudo.

O câncer de ovário tem um dos piores prognósticos entre as doenças ginecológicas, com mais de 300.000 casos em todo o mundo. A maioria das mulheres diagnosticadas com câncer de ovário terá uma recorrência; além disso, as taxas de remissão oscilam em torno de apenas 25% para casos de doença avançada.no BMJ,

Em editorial no BMJ (https://doi.org/10.1136/bmjmed-2024-000896), Saketh Guntupalli, da Divisão de Ginecologia Oncológica da Universidade do Colorado, EUA, lembra que o rastreio e a deteção precoce são a base para melhorar a sobrevida global do câncer de ovário, destacando que esta meta-análise e revisão sistemática doADNEX “fornece uma análise robusta, provocativa e convincente da utilidade deste modelo para profissionais da saúde da mulher”.

A íntegra do artigo de Van Calster e colegas está disponível em acesso aberto.

Referência: Barreñada L, et al. BMJMED 2024;3:e000817. doi:10.1136/bmjmed-2023-000817