Estudo publicado no periódico BMC Palliative Care buscou desenvolver e validar um modelo de nomograma para prever a ocorrência de delirium em pacientes com câncer avançado admitidos em unidades de cuidados paliativos. “Delirium é um transtorno mental comum em cuidados paliativos, e até o momento nenhum modelo preditivo está disponível para essa população”, observam os autores. Carlos Eduardo Paiva (foto), oncologista clínico e paliativista do Hospital de Amor, comenta os resultados.
Este estudo prospectivo, multicêntrico e observacional utilizou a regressão logística para identificar os fatores de risco independentes para delirium incidente entre pacientes com câncer avançado em unidades de cuidados paliativos.
Foram incluídos pacientes com câncer avançado admitidos em unidades de cuidados paliativos entre fevereiro de 2021 e janeiro de 2023 em quatro hospitais em Chengdu, província de Sichuan, China. O desempenho do modelo foi avaliado por meio da área sob a curva ROC, gráficos de calibração e análise da curva de decisão.
Havia 592 pacientes com câncer avançado recebendo cuidados paliativos na coorte de desenvolvimento, 196 na coorte de validação temporal e 65 na coorte de validação externa. O modelo de nomograma final incluiu 8 variáveis (idade, índice de comorbidade de Charlson, função cognitiva, índice de Barthel, bilirrubina, sódio, dose equivalente de morfina opioide e uso de medicamentos anticolinérgicos).
O modelo revelou bom desempenho em termos de discriminação, calibração e praticabilidade clínica, com uma área sob a curva ROC de 0,846 no conjunto de treinamento, 0,838 após bootstrapping, 0,829 na validação temporal e 0,803 no conjunto de validação externa.
“O modelo serve como uma ferramenta confiável para prever o início do delirium em pacientes com câncer avançado em unidades de cuidados paliativos, o que pode facilitar a tomada de medidas preventivas direcionadas precoces para reduzir a carga do transtorno mental”, concluíram os autores.
O estudo em contexto
Por Carlos Eduardo Paiva, oncologista clínico e paliativista do Hospital de Amor (Hospital de Câncer de Barretos)
No estudo, a ocorrência de delirium foi de um para cada três pacientes, uma taxa compatível com a observada em unidades de cuidados paliativos. A avaliação do modelo foi realizada nas primeiras 24 horas de internação, com predição da ocorrência de delirium ao longo da hospitalização, cuja duração média foi de 12 dias. Embora o modelo possa ser válido para aplicação em outros momentos da internação ou de forma sequencial, isso ainda precisa ser testado em estudos futuros.
Alguns casos de delirium nessa população são considerados terminais, podendo representar a via final de morte do paciente. No entanto, o estudo não fez distinção entre os desfechos dos casos de delirium, como o tempo de sobrevivência após o episódio, o que poderia ajudar a determinar se o modelo prediz casos reversíveis ou episódios de delirium terminal.
O estudo apresenta um potencial de aplicabilidade bastante interessante e poderá ser avaliado em ensaios clínicos futuros para medir seu impacto real na redução da ocorrência de delirium em cuidados paliativos após a implementação de estratégias preventivas, sejam elas medicamentosas ou não. A retirada de fatores de risco, estratégias educacionais e comportamentais (orientation cues, uso de dispositivos auditivos ou visuais, protocolos de hidratação) e intervenções medicamentosas poderão ser incorporadas nesses estudos futuros.
Outra possível aplicação do modelo é a orientação de cuidadores familiares sobre o delirium, preparando-os para reconhecer e lidar com o diagnóstico antes que ele ocorra.
Referência:
Guo, D., Zhang, C., Leng, C. et al. Prediction model for delirium in advanced cancer patients receiving palliative care: development and validation. BMC Palliat Care 24, 41 (2025). https://doi.org/10.1186/s12904-025-01683-9