Onconews - Novos dados revelam que perfil molecular pode guiar decisões cirúrgicas e de RT no tratamento de meningiomas

Estudo que avaliou dados moleculares de uma grande coorte de meningiomas, somando informações do ensaio de fase 2  NRG Oncology RTOG-0539, traz novos insights sobre biomarcadores moleculares de resposta ao tratamento. “Este estudo destaca o potencial do perfil molecular para refinar a tomada de decisões cirúrgicas e de radioterapia”, analisam os autores, em artigo na Nature Medicine. A oncologista Camila Yamada (foto), chair do LACOG Neuro-Oncology e titular da BP, a Beneficência Portuguesa de São Paulo, comenta os resultados.

Os meningiomas são os tumores intracranianos primários mais comuns em adultos. Embora novas classificações moleculares e sistemas prognósticos tenham sido descritos para meningiomas, a resposta à cirurgia e radioterapia (RT) continua a variar amplamente entre os pacientes, e o papel do tratamento no contexto desses biomarcadores moleculares não foi totalmente explorado.  

Neste estudo, Justin Wang e colegas usaram dados retrospectivos de 2.824 meningiomas, incluindo dados moleculares e clínicos de 1.686 tumores de 10 instituições, além de dados coletados prospectivamente de 100 meningiomas do estudo de fase 2 RTOG-0539, para definir biomarcadores moleculares de resposta ao tratamento e propor um modelo preditivo. “Usando a correspondência do escore de propensão, identificamos que a ressecção macroscópica do tumor foi associada a uma sobrevida livre de progressão (SLP) mais longa em todos os grupos moleculares e uma sobrevida global mais longa em meningiomas proliferativos”, destacam.

Os resultados mostram que o tratamento da margem dural (grau 1/2 de Simpson) prolongou a SLP em comparação com nenhum tratamento (grau 3 de Simpson). A classificação do grupo molecular previu a resposta à radioterapia, inclusive na coorte RTOG-0539. O modelo molecular desenvolvido a partir desses achados foi superior à classificação padrão para prever a resposta ao tratamento  e refinar a tomada de decisões cirúrgicas e de radioterapia.

“Nossos resultados mostram que a ressecção total bruta (GTR, na sigla em inglês) confere sobrevida livre de progressão favorável em todos os grupos moleculares em comparação à ressecção subtotal (STR) e, embora os benefícios da GTR sejam menos duráveis ​​em relação ao controle local em meningiomas mais agressivos biologicamente, a ressecção completa confere um benefício de sobrevida global para esses meningiomas proliferativos definidos molecularmente”, descrevem os pesquisadores.

A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto na Nature Medicine.

O estudo em contexto
Por Camila Yamada, Chair do LACOG Neuro-Oncology e titular da BP, a Beneficência Portuguesa de São Paulo

O mais interessante desse estudo é que ele avaliou os meningiomas não só em relação às características histológicas, que são as mais utilizadas para indicar tratamento complementar e estratificar o risco, mas também avaliou esses pacientes por subgrupo molecular e pelo perfil de metilação de Heidelberger. Com isso, identificaram subtipos que tendem a ser mais agressivos, inclusive alguns que não respondem satisfatoriamente, mesmo tendo sido submetidos a uma ressecção completa.

Diante desses achados, é possível entender que há nichos de meningiomas que devem ser melhor avaliados em relação ao tratamento complementar. Por outro lado, o estudo mostrou pacientes que, mesmo com indicação de tratamento complementar, não tiveram recidiva no intervalo de tempo avaliado, assim como mostrou que, em alguns pacientes com meningiomas, temos que escalonar o tratamento para uma intervenção mais agressiva, em razão da rádio resistência.

Esse estudo mostra a importância de tentar atingir a maior ressecção possível, a ressecção mais ampla desses meningiomas, que foi, indubitavelmente, mais um dado para corroborar o papel da cirurgia nesses pacientes.

Referência:

Wang, J.Z., Patil, V., Landry, A.P. et al. Molecular classification to refine surgical and radiotherapeutic decision-making in meningioma. Nat Med (2024). https://doi.org/10.1038/s41591-024-03167-4