A detecção do câncer de pulmão em seus estágios iniciais melhora significativamente as taxas de sobrevida e projeta a triagem do câncer de pulmão com tomografia computadorizada (TC) de baixa dosagem como componente essencial na luta contra a doença, que continua sendo a principal causa de mortes relacionadas ao câncer em todo o mundo. No entanto, artigo publicado no Journal of Thoracic Oncology, periódico da International Association for the Study of Lung Cancer (IASLC), mostra que atualmente não há evidências suficientes para apoiar o rastreamento do câncer de pulmão para aqueles que nunca fumaram, com ou sem histórico familiar de câncer de pulmão.
O artigo (Screening Low-Risk Individuals for Lung Cancer: The Need May Be Present, but the Evidence of Benefit Is Not), de Gerard A. Silvestri e colegas, apresenta resultados do Early Detection Program for Lung Cancer em Taiwan, onde a taxa de detecção de câncer para aqueles rastreados com TC de baixa dose foi mais que o dobro em fumantes leves ou nunca fumantes com histórico familiar de câncer de pulmão em comparação com indivíduos de alto risco expostos a mais de 30 anos-maço, atendendo aos critérios da U.S. Preventive Services Task Force. Mais de 90% dos cânceres detectados em indivíduos com histórico familiar estavam em estágio inicial. Com base nesses achados, os pesquisadores de Taiwan concluíram que a triagem de parentes de primeiro grau com histórico familiar de câncer de pulmão, independentemente do status de tabagismo, levaria a uma redução na mortalidade por câncer de pulmão.
O grupo da IASLC, no entanto, alerta para o risco do excesso de diagnóstico (overdiagnosis), observando que “... as descobertas nesta coorte e outras semelhantes representam um diagnóstico excessivo substancial e os danos associados à triagem de uma população com baixa probabilidade de desenvolver cânceres letais não foram completamente considerados".
O diagnóstico excessivo pode levar a tratamentos e procedimentos desnecessários, apresentando riscos a indivíduos que talvez nunca tivessem desenvolvido câncer com risco de vida. “Os falsos positivos também são uma preocupação significativa, resultando em ansiedade, testes adicionais e procedimentos invasivos”, destacam os autores.
Silvestri é professor de oncologia torácica na Universidade de Carolina do Sul, EUA, e nesse artigo está à frente de um grupo de renomados pesquisadores de câncer de pulmão e profissionais de saúde pública. “Por fim, acreditamos que há uma necessidade de identificar de forma mais discriminatória os indivíduos de baixo risco que podem desenvolver câncer de pulmão letal em oposição a um indolente. O que não pode ser defendido atualmente é a triagem de uma população onde o risco de dano a muitos pode superar o risco de benefício a poucos”, analisam. "Estender a triagem sem evidências robustas pode levar a mais danos do que benefícios".
A íntegra do artigo está disponível em acesso aberto:
https://www.jto.org/article/S1556-0864(24)00206-5/fulltext
A IASLC (Associação Internacional para o Estudo do Câncer de Pulmão) é a única organização global dedicada exclusivamente ao estudo do câncer de pulmão e outras malignidades torácicas. Fundada em 1974, a associação reúne mais de 11.000 especialistas em câncer de pulmão, em mais de 100 países.