Onconews - Vigilância ativa pode de-escalonar tratamento e evitar cirurgia no ESCC localmente avançado

Pacientes com carcinoma de células escamosas de esôfago que tiveram resposta completa ao tratamento com quimiorradioterapia neoadjuvante podem adiar ou evitar a cirurgia utilizando uma estratégia de vigilância ativa com avaliação clínica de resposta para monitorar doença residual ou recorrência à distância. É o que sugere estudo selecionado em Rapid Abstract Session no 2024 ASCO Breakthrough. “Esses resultados podem apoiar os clínicos a determinar quando escalonar ou de-escalonar o tratamento”, destacou o oncologista Vishwanath Sathyanarayanan (foto), do Apollo Hospitals Bangalore, na Índia.

A terapia neoadjuvante seguida de quimiorradioterapia é o tratamento padrão para pacientes com carcinoma de células escamosas de esôfago (ESCC, na sigla em inglês) ressecável, com doença localmente avançada. No entanto, a cirurgia é associada a riscos de complicações que podem comprometer seriamente a qualidade de vida, mas para justificar a omissão da ressecção cirúrgica, os pacientes com doença residual devem ser identificados com precisão.

Neste estudo multicêntrico prospectivo envolvendo uma grande coorte de pacientes (NCT03937362; preSINO trial), o objetivo foi avaliar uma estratégia de vigilância ativa proposta para pacientes com ESCC com resposta clinicamente completa (cCR) após quimiorradioterapia neoadjuvante (nCRT).

Foram inscritos pacientes com ESCC esofágico ressecável programados para receber nCRT de acordo com o regime CROSS e cirurgia planejada, recrutados de quatro centros asiáticos. Após 4 a 6 semanas da conclusão da nCRT, os pacientes foram avaliados por uma primeira avaliação de resposta clínica (CRE-1), consistindo de endoscopia com biópsias. Em pacientes sem evidência histológica de tumor residual (ou seja, sem biópsias positivas), a cirurgia foi adiada por mais 6 semanas. Uma segunda avaliação de resposta clínica (CRE-2) foi realizada 10-12 semanas após a conclusão da nCRT, consistindo de PET-CT, endoscopia com biópsias com aspiração por agulha fina guiada por ultrassonografia endoscópica (EUS). Imediatamente após o CRE-2, todos os pacientes sem evidência de metástases à distância foram submetidos a esofagectomia. Os resultados do CRE-1 e CRE-2, assim como os resultados das três modalidades de diagnóstico, foram correlacionados à resposta patológica no espécime de ressecção (padrão ouro) para cálculo de sensibilidade, especificidade, valor preditivo negativo e valor preditivo positivo.

Um total de 250 pacientes compuseram a base de análise após quimirradioterapia neoadjuvante, avaliações subsequentes e  cirurgia. Os principais endpoints foram a taxa de falso negativo para detectar doença residual maior (TRG 3-4 ou TRG 1-2 com YpN+) na amostra cirúrgica. Dezoito de 133 pacientes tiveram doença residual maior que não foi identificada pela biópsia após EUS e aspiração com agulha fina. A taxa de falso negativo foi de 13,5%, o que coincidiu com o endpoint primário pré-determinado no estudo.

Os pesquisadores avaliaram então o valor preditivo dos testes de vigilância em prever doença residual (resposta completa não-patológica). A biópsia com agulha fina guiada por EUS  resultou em 82% de acurácia e confirmou em 93% das vezes a ausência de doença residual.

O estudo ainda analisou se uma biópsia líquida por ctDNA durante a avaliação de resposta clínica poderia contribuir na predição de recorrência à distância após quimiorradioterapia neoadjuvante e cirurgia. Para 75 pacientes que tiveram ctDNA positivo, 21 (28%) desenvolveram metástases distantes. Para 57 pacientes com teste ctDNA negativo, apenas 3 (5%) tiveram metástases distantes.

Em síntese, a biópsia com agulha fina guiada por EUS foi capaz de detectar com acurácia a presença locorregional de câncer residual e o ctDNA mostrou potencial promissor em predizer indivíduos com  maior risco de doença sistêmica residual.

Embora seja responsável por cerca de 30% dos casos de câncer de esôfago nos Estados Unidos, na Ásia o ESCC é o tipo mais comumente diagnosticado.

“O estudo prospectivo preSINO demonstrou a importância da avaliação de resposta clínica após quimiorradioterapia neoadjuvante em pacientes com carcinoma de células escamosas de esôfago. Esses resultados podem apoiar os clínicos a determinar quando escalonar ou descalonar o tratamento”, destacou o oncologista Vishwanath Sathyanarayanan, do Apollo Hospitals Bangalore.

O congresso ASCO Breakthrough foi realizado em Yokohama, no Japão, de 8 a10 de agosto.
Referência:

Accuracy of detecting residual disease after neoadjuvant chemoradiotherapy for esophageal squamous cell carcinoma (preSINO trial): a prospective multicenter diagnostic cohort study in Asia.

First Author:  Zhigang Li

2024 ASCO Breakthrough

Session Type: Rapid Oral Abstract Session

Session Title:  Rapid Oral Abstract Session B: Trials and Omics

Clinical Trial Registration Number: NCT03937362

J Clin Oncol 42, 2024 (suppl 23; abstr 196)

Abstract # 196