Os padrões alimentares proinflamatórios aumentam o risco de desenvolver câncer colorretal? Estudo publicado no JAMA Oncology, que acompanhou mais de 121 mil adultos durante 26 anos mostra que a ingestão de dietas proinflamatórias foi associada a um risco significativamente maior de desenvolver câncer colorretal, em homens e mulheres. Dan Waitzberg (foto), professor associado do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e diretor do GANEP Nutrição Humana, comenta para o Onconews.
“Há muito tempo se discute o valor efetivo de hábitos alimentares na gênese de câncer, com resultados controversos. Existem alimentos que podem gerar uma resposta inflamatória em nosso organismo, como por exemplo, ricos em gorduras com ácidos graxos omega-6, ou que possam ser metabolizados por bactérias no intestino e gerar carcinógenos”, diz Waitzberg.
Para examinar a associação entre risco de câncer colorretal e dietas proinfamatórias, os pesquisadores analisaram duas coortes prospectivas, com 46.804 homens (Health Professionals Follow-up Study: 1986-2012) e 74.246 mulheres (Nurses 'Health Study: 1984-2012). Também foram avaliados o consumo de álcool e peso corporal.
O estudo utilizou um modelo empírico de padrão inflamatório com base na soma ponderada de 18 grupos de alimentos que tiveram seu potencial inflamatório caracterizado por níveis circulantes de biomarcadores de inflamação (proteína C-reativa (PCR), interleucina-6 (IL-6) e fator de necrose tumoral alfa (TNF). As pontuações foram calculadas a partir de questionários de frequência alimentar aplicados a cada 4 anos.
Resultados
Após um acompanhamento de 26 anos, foram documentados 2699 casos de câncer colorretal, 1441 em mulheres e 1258 em homens.
No quintil mais baixo, a incidência foi de 113 casos em homens (por 100 000 pessoas/ano) e de 80 em mulheres. No quintil mais elevado, a incidência foi de 151 casos em homens e de 92 em mulheres, levando a uma diferença na taxa não ajustada de 38 e 12 casos de câncer colorretal, respectivamente, entre aqueles que consomem dietas altamente proinflamatórias.
As maiores pontuações foram associadas a um risco 44% maior de câncer colorretal em homens (HR, 1,44; IC 95%, 1,19-1,74; P <0,001), 22% em mulheres (HR, 1,22; IC 95%, 1,02-1,45; P = 0,007) e 32% na amostra combinada (homens e mulheres: FC combinada, 1,32; IC 95%, 1,12-1,55; P <0,001).
Em homens e mulheres, as associações foram positivamente observadas em todos os sítios anatômicos, com exceção do reto em mulheres. Os resultados variaram de acordo com o nível de ingestão de álcool, com associações mais fortes entre os homens (Q5 vs Q1 HR, 1,62; IC 95%, 1,05-2,49; P = 0,002) e em mulheres (Q5 vs Q1 HR, 1.33; 95% CI, 0.97-1.81; P = .03) que não consomem álcool. O peso corporal também impactou os resultados, com associações mais fortes entre homens com sobrepeso / obesidade (Q5 vs Q1 HR, 1,48; IC 95%, 1,12-1,94; P = 0,008) e em mulheres magras (Q5 vs Q1 HR, 1,31; IC 95%, 0,99-1,74; P = 0,01).
Em conclusão, a inflamação é um mecanismo que liga os padrões alimentares ao desenvolvimento do câncer colorretal. As intervenções para reduzir o papel adverso das dietas pró-inflamatórias podem ser mais efetivas entre os homens com sobrepeso/ obesidade e em mulheres magras, ou homens e mulheres que não consomem álcool.
“O artigo epidemiológico de pesquisadores americanos publicado no JAMA Oncology pretende entender o efeito de dietas alimentares consideradas pró-inflamatórias sobre o aparecimento de câncer colorretal em homens e mulheres. Como fator de confusão verificaram o consumo de álcool e obesidade. O efeito da dieta se manifestou mais claramente em quem não fez uso de álcool e em homens obesos, mas mulheres magras. Estes indivíduos poderiam a largo prazo se beneficiar de uma mudança de hábitos alimentares ao evitar o consumo de alimentos considerados pró-inflamatórios”, explica Waitzberg.
“Por se tratar de estudo observacional e baseado em inquérito alimentar, a pesquisa é sujeita a críticas, mas, de certa forma, confirma dados experimentais in vitro e in vivo. Fica valendo a recomendação de uma dieta saudável, o mais colorida e variada possível”, conclui o especialista.
Referências: Fred K. Tabung, Li Liu, MD, Weike Wang et al - Association of Dietary Inflammatory Potential With Colorectal Cancer Risk in Men and Women - JAMA Oncol. doi:10.1001/jamaoncol.2017.4844 - Published online January 18, 2018.