As atuais diretrizes da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) recomendam olanzapina ou proclorperazina para náuseas refratárias induzidas por quimioterapia, mas faltam comparações diretas para estabelecer sua eficácia relativa. Pesquisa apresentada em sessão oral no ASCO Quality Care Cancer Symposium 2024 preenche uma lacuna nas comparações empíricas, com resultados que solidificam a posição de olanzapina como uma intervenção promissora para náusea refratária, com benefício clínico e estatisticamente significativo na qualidade de vida.
Apesar dos avanços em antieméticos administrados durante a quimioterapia, a náusea continua sendo um problema clinicamente significativo e prejudica muito a qualidade de vida (QV).Neste estudo de Fase III (NCT03367572), realizado pelo programa de pesquisa do NCI (NCI Community Oncology Research Program) foram inscritos 1.363 pacientes com câncer de mama virgens de quimioterapia iniciando um regime de quimioterapia emetogênica alta/moderada. Os antieméticos foram prescritos de acordo com as diretrizes da ASCO.
A triagem ocorreu durante o Ciclo 1, seguida pela randomização no Ciclo 2. Pacientes com náusea moderada (≥3 em uma escala de 1-7) no Ciclo 1 e dispostos a continuar foram randomizados (proporção 1:1:1) em 3 braços (n=310) para receber : 1) regime ASCO mais olanzapina (OLZ), 2) regime ASCO mais proclorperazina (PC) ou 3) regime ASCO mais placebo. A náusea foi avaliada usando um diário domiciliar de quatro dias (4x ao dia), tendo como resultados primários mudanças na náusea média (méd.) e máxima (máx.). O inquérito validado FACT-G mediu a qualidade de vida. As análises primárias de intenção de tratar (ANOVA e tamanho do efeito Δ de Cohen) avaliaram se OLZ ou PC melhoraram a náusea, testando diferenças entre os braços na mudança de náusea do Ciclo 1 para 2 em comparação com placebo em um nível de significância de p=0,025 corrigido para 3 braços.
Os pacientes inscritos tinham idade média de 50,7 anos, com 80,7% brancos/12,3% negros/5,8% asiáticos/4,2% latinos, distribuídos uniformemente entre os grupos. Os autores descrevem que a mudança na pontuação média de náusea foi estatisticamente significativa para os braços OLZ (mudança média = −1,07: Δ de Cohen = 0,49) e PC (mudança média = −0,94: Δ de Cohen = 0,38) em comparação com placebo (mudança média = −0,50; p <0,001 vs OLZ, p = 0,01 vs PC). Mudanças semelhantes, mas maiores, foram observadas na pontuação máxima de náusea nos braços OLZ (mudança máxima = −2,57: Δ de Cohen = 0,86) e PC (mudança máxima = −2,01: Δ de Cohen = 0,47) em relação ao placebo (mudança máxima = −1,30; p < 0,001 vs OLZ, p < 0,01 vs PC).
O braço OLZ teve uma mudança clinicamente significativa na qualidade de vida geral da pré-quimio para o Ciclo 2 versus placebo (diferença média FACT-G = +4,91; p = 0,006), mas o braço PC vs placebo não mostrou benefício (diferença média FACT-G = −0,87; p = 0,61). OLZ exibiu superioridade sobre PC em termos de mudanças na náusea máxima (diferença média = −0,56; p = 0,023) e QOL (diferença média FACT-G = +5,80; p = 0,006), mas não para náusea média (diferença média = −0,13; p = 0,418).
Em síntese, esses resultados revelam que olanzapina demonstra controle superior da náusea máxima, com benefício clínico e estatisticamente significativo na qualidade de vida.
Referência:
A nationwide double-blind phase III randomized clinical trial (RCT) of olanzapine vs. prochlorperazine for the treatment of refractory nausea in patients receiving moderately or highly emetogenic chemotherapy among NCI Community Oncology Research Program (NCORP) practices.
Abstract 185
Luke Joseph Peppone, et al.
University of Rochester Medical Center