Onconews - ORIENT-32: novo regime mostra benefício como primeira linha no carcinoma hepatocelular

Duilio Rocha 2020 ok 2A China tem alta carga de carcinoma hepatocelular e a infecção pelo vírus da hepatite B (HBV) é o principal fator causal. A assertiva é de pesquisadores do ensaio de Fase II/III ORIENT-32, que reportaram no Lancet Oncology os resultados do anti PD-1 sintilimabe combinado a bevacizumabe biossimilar (IBI305) versus sorafenibe como tratamento de primeira linha em pacientes com carcinoma hepatocelular irressecável associado ao HBV. O oncologista Duilio Rocha Filho (foto), chefe do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital Universitário Walter Cantídio (UFC-CE) e membro da diretoria do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG).

Neste estudo de Fase 2-3, randomizado e aberto, realizado em 50 centros clínicos na China, foram elegíveis pacientes com 18 anos ou mais, com diagnóstico histológico ou citológico de carcinoma hepatocelular metastático ou irressecável, sem tratamento sistêmico prévio e com bom status de desempenho (ECOG 0 -1). Na fase 2 do estudo, os pacientes receberam sintilimabe intravenoso (200 mg a cada 3 semanas) mais IBI305 intravenoso (15 mg / kg a cada 3 semanas). Na fase 3, os pacientes foram randomizados (2: 1) para receber sintilimabe mais IBI305 (grupo sintilimabe-bevacizumabe biossimilar) ou sorafenibe (400 mg por via oral duas vezes ao dia; grupo sorafenibe), até a progressão da doença ou toxicidade inaceitável. Na Fase 2, o objetivo primário do estudo foi a segurança, avaliada em todos os pacientes que receberam pelo menos uma dose do medicamento do estudo. Na Fase 3, endpoints  co-primários foram sobrevida global e sobrevida livre de progressão avaliada por comitê de revisão radiológica independente (IRRC) de acordo com Critérios de Avaliação de Resposta em Tumores Sólidos (RECIST) versão 1.1 na população por intenção de tratar.

Resultados

Entre 11 de fevereiro de 2019 e 15 de janeiro de 2020, foram inscritos 595 pacientes: 24 foram inscritos na fase 2 e 571 foram randomizados para sintilimabe-bevacizumabe biossimilar (n = 380) ou sorafenibe (n = 191). Na fase 2 do estudo, 24 pacientes receberam pelo menos uma dose do regime avaliado, com taxa de resposta objetiva de 25,0% (IC 95% 9,8–46,7).

Os dados preliminares de segurança e atividade da Fase 2, na qual eventos adversos relacionados ao tratamento de grau ≥3 ou superior ocorreram em sete (29%) dos 24 pacientes, embasaram a etapa seguinte e a Fase 3 foi iniciada. Os autores relatam que no corte de dados (15 de agosto de 2020), em um seguimento mediano de 10, 0 meses, os resultados indicaram benefício robusto da combinação de sintilimabe-bevacizumabe biossimilar frente a sorafenibe, com sobrevida livre de progressão mediana significativamente mais longa avaliada pelo IRRC (4, 6 meses [IC de 95% 4 · 1–5 · 7]) do que os pacientes no grupo de sorafenibe (2, 8 meses [2,7–3, 2]; razão de risco estratificada [HR] 0,56, IC de 95% 0,46–0,70; p <0 · 0001). Na primeira análise interina de sobrevida global, sintilimabe-bevacizumabe biossimilar mostrou sobrevida global significativamente superior a sorafenibe (mediana não alcançada [IC de 95% não alcançado - não alcançado] vs 10,4 meses [8,5 - não alcançado]; HR 0 · 57, IC 95% 0,43–0,75; p <0 · 0001).

Em relação ao perfil de segurança, os eventos adversos mais frequentes de grau 3-4 relacionados ao tratamento foram hipertensão (55 [14%] de 380 pacientes no grupo biossimilar de sintilimabe-bevacizumabe vs 11 [6%] de 185 pacientes no grupo de sorafenibe) e síndrome de eritrodisestesia palmo-plantar (nenhum vs 22 [12%]). 123 (32%) pacientes no grupo sintilimabe-bevacizumabe biossimilar e 36 (19%) pacientes no grupo sorafenibe tiveram eventos adversos graves.

Duilio observa que a imunoterapia é um tratamento estabelecido no manejo do carcinoma hepatocelular avançado. “Após o estudo IMbrave150, a associação atezolizumabe + bevacizumabe tornou-se o novo padrão de tratamento de primeira linha em pacientes aptos. Além disso, em doentes com falha à terapia inicial com um inibidor de tirosina-quinase, há aprovação nos EUA para o uso de nivolumabe +/- ipilimumabe e de pembrolizumabe”, esclarece.

O especialista explica que o sintilimab é um agente anti-PD1 aprovado na China para o tratamento de câncer de pulmão e da doença de Hodgkin que, no estudo ORIENT-32, mostrou ter atividade contra carcinoma hepatocelular quando combinado com um biossimilar do bevacizumabe. “A redução de risco de progressão e de óbito e o perfil de toxicidade se assemelham ao identificado no estudo IMbrave 150”, diz.

Para Duilio, é preciso ponderar que a população de pacientes com carcinoma hepatocelular na China tem características diferentes do encontrado no Ocidente. “Infecção por HBV é uma causa majoritária da doença no Oriente e foi um critério de inclusão no estudo ORIENT-32. Além disso, os pacientes incluídos em estudos chineses costumam ter função hepática melhor do que seus correspondentes ocidentais. São características que dificultam a comparação dos resultados com os obtidos em trabalhos conduzidos fora da Ásia”, conclui.

Este estudo (ORIENT-32) está inscrito na plataforma ClinicalTrials.govNCT03794440

Referências: Sintilimab plus a bevacizumab biosimilar (IBI305) versus sorafenib in unresectable hepatocellular carcinoma (ORIENT-32): a randomised, open-label, phase 2–3 study - Prof Zhenggang Ren, MD; Prof Jianming Xu, MD; Prof Yuxian Bai, MD; Prof Aibing Xu, MD; Prof Shundong Cang, MD; Prof Chengyou Du, MD et al - Published:June 15, 2021 DOI:https://doi.org/10.1016/S1470-2045(21)00252-7