Onconews - Padrões de expressão do receptor hormonal afetam resultados no câncer de mama HER2+

Estudo de Chen et al. é a maior análise discriminando pacientes com câncer de mama HER2-positivos com expressão simultânea do receptor de estrogênio e progesterona, receptor hormonal (HR) único ou ausência de HR no contexto da terapia neoadjuvante. Os dados de mundo real mostram três subtipos distintos de receptor hormonal, com diferentes manifestações clínicas e variadas respostas ao tratamento no cenário neoadjuvante. O mastologista Rafael da Silva Sá (foto), Professor de Medicina da Universidade do Oeste Paulista, comenta os resultados.

O impacto de padrões distintos de expressão tumoral do receptor de estrogênio (ER) e do receptor de progesterona (PR) no comportamento do tumor e nos resultados do tratamento no câncer de mama HER2-positivo não é totalmente explorado.

Neste estudo, o objetivo dos pesquisadores foi examinar as diferenças clínicas entre pacientes com câncer de mama HER2-positivo que abrigam padrões distintos de expressão de ER e PR no cenário neoadjuvante.

Esta análise retrospectiva incluiu 871 pacientes com câncer de mama HER2-positivos tratados com terapia neoadjuvante entre 2011 e 2022 no centro de tumores de mama do Sun Yat-sen Memorial Hospital, na China. As comparações foram realizadas entre os três subtipos específicos de receptor hormonal (HR), ou seja, ER-negativo/PR-negativo/HER2-positivo (ER-/PR-/HER2+), o subtipo HR-positivo único (HR+)/HER2+ e o subtipo triplo-positivo de câncer de mama (TPBC).

Dos 871 pacientes, 21,0% tinham tumores ER-/PR-/HER2+, 33,6% tinham doença HR+/HER2+ única e 45,4% tinham TPBC. Indivíduos com tumores HR+/HER2+ únicos e casos de TPBC demonstraram taxas de resposta patológica completa (pCR) significativamente mais baixas em comparação com aqueles com tumores ER-/PR-/HER2+ (36,9% vs. 24,3% vs 49,2%, p<0,001).

A análise multivariada confirmou o TPBC como significativamente associado à diminuição da probabilidade de pCR (OR=0,42, IC 95% 0,28-0,63, p<0,001). Os resultados de sobrevida, incluindo sobrevida livre de doença (SLD) e sobrevida global (SG), não mostraram diferenças significativas entre os subtipos específicos de HR na população geral de pacientes. No entanto, em pacientes sem terapia anti-HER2, o TPBC foi associado a melhor SLD e a uma tendência para melhor SG.

A conclusão dos autores mostra que o câncer de mama HER2-positivo exibe três subtipos distintos específicos de receptor hormonal, com manifestações clínicas e respostas ao tratamento variadas. Esses achados sugerem estratégias de tratamento personalizadas, considerando os padrões de expressão de ER e PR, enfatizando a necessidade de pesquisas adicionais para desvendar características moleculares subjacentes ao câncer de mama HER2-positivo com padrões distintos de expressão de HR.

Chen et al. destacam que a análise multivariada e as análises de subgrupos confirmaram a associação significativa entre TPBC e menor taxa de pCR. Quando estratificado pela administração de terapia anti-HER2 neoadjuvante, o TPBC demonstrou correlação com taxas reduzidas de pCR dentro do subgrupo tratado com trastuzumabe e pertuzumabe, enquanto essa associação não foi evidente dentro do subgrupo sem terapia anti-HER2 e no subgrupo tratado apenas com trastuzumabe. Além disso, o estágio clínico T, o estágio N, o tipo histológico e a terapia anti-HER2 neoadjuvante foram fatores independentes para prever pCR.

O estudo em contexto

Por Rafael da Silva Sá, mastologista, Professor de Medicina da Universidade do Oeste Paulista

O tratamento da paciente portadora de câncer de mama HER 2+ sofreu grandes mudanças desde o conhecimento deste oncogene com as publicações iniciais de King et al em 1985 e Slamon et al em 1987.

Cerca de 20% de todos os carcinomas mamários apresentam expressão HER 2+. Atualmente, muitas pacientes são candidatas à terapia neoadjuvante como as que apresentam tumores maiores que 1cm (T1c) HER2+, considerando que múltiplos estudos revelaram a importância do tratamento sistêmico precoce em pacientes HER 2+ e em pacientes com câncer de mama Triplo Negativo, assim como evidenciaram a importância da avaliação da resposta patológica pós neoadjuvância, sempre objetivando a resposta patológica completa (pCR).

Todavia, existe uma preocupação sobre o comportamento e a resposta à terapia neoadjuvante em pacientes dos diferentes subtipos HER 2+: HER 2+ RH-, HER2+ RH único + (Receptor de Estrógeno (RE) + ou Progestágeno (RP) +) e HER2+ RE+ RP+.

Neste cenário, Chen et al publicaram recentemente no The Breast uma investigação que avaliou 871 mulheres com câncer de mama HER2 que realizaram neoadjuvância entre 2011 e 2022 no Sun Yat-Sen Memorial Hospital, localizado em Guangzhou, China. Este grupo de pesquisadores refere que este estudo é o que mais incluiu pacientes até hoje na investigação dos subgrupos HER 2+ em relação ao status dos receptores hormonais (RE+ RP+). Notavelmente, esta investigação reiterou o que já imaginávamos: o subgrupo HER 2+ RH- apresentou maior taxa de pCR, porém sem diferenças na sobrevida livre de doença ou global. Os autores reforçam a ideia de que no futuro devam surgir pesquisas clínicas para selecionar terapias específicas para cada subgrupo HER2.

A História do HER 2 dentro da oncologia mamária é muito bonita e o tratamento preciso deste oncogene aumenta a taxa de cura e sobrevida de muitas das nossas pacientes.

Fica a dica do conhecido filme “Uma chance para viver” / título original: Living Proof, de 2008, que narra a luta do Professor Dennis Slamon na pesquisa do Trastumuzabe.

Referência: https://doi.org/10.1016/j.breast.2024.103733