No final do mês de janeiro o FDA aprovou o mesilato de eribulina (Halaven) para o tratamento do lipossarcoma. A decisão foi baseada em uma análise de subgrupo de um estudo de fase 3 realizado em 110 centros de 22 países, entre eles o Brasil, representado pela oncologista Veridiana Camargo (foto), do ICESP e do Hospital Sírio Libanês. Os resultados foram publicados na edição on-line de 10 de fevereiro do Lancet.
“A eribulina é uma droga interessante. Ela inibe a ação dos microtúbulos causando apoptose celular, modifica o ambiente tumoral promovendo remodelação vascular e impedindo a migração e invasão das células tumorais", explica a especialista.
A aprovação é mais um capítulo que demonstra a evolução no tratamento dos sarcomas, após décadas sem nenhum progresso. O medicamento é o terceiro aprovado pela agência nos últimos anos, ao lado da trabectedina (Yondelis), aprovada em outubro de 2015 para uso em lipossarcoma ou leiomiossarcoma, e o pazopanib (Votrient), aprovado para uso em sarcomas de tecidos moles em 2012.
O estudo envolveu 452 pacientes com lipossarcoma ou leiomiossarcoma avançado ou metastáticoque receberam pelo menos dois regimes anteriores para a doença avançada (incluindo uma antraciclina). Segundo Veridiana, a inclusão dos dois tipos de sarcoma se deve à dificuldade em realizar estudos apenas com um determinado tipo de sarcoma. “O fato de ter colocado só dois tipos já é uma vitória enorme. Normalmente entram mais de 10 tipos de sarcoma em um mesmo estudo. A fase II foi realizada com vários subtipos de sarcoma, e os únicos que tiveram benefício com eribulina foram o lipossarcoma e o leimiosarcoma, que foram escolhidos para o estudo fase III”, esclarece.
Entre 10 de março de 2011 e 22 de maio de 2013 foram distribuídos aleatoriamente pacientes para eribulin (n=228) ou dacarbazina (n=224). Os participantes foram distribuídos aleatoriamente (1:1) para receber mesilato de eribulina (1,4 mg/m2 por via intravenosa nos dias 1 e 8) ou dacarbazina (850 mg/m2, 1000 mg/m2, ou 1200 mg/m2 [dose dependente do centro ou do clínico] por via intravenosa no dia 1) a cada 21 dias até progressão da doença.
A sobrevida global, endpoint primário do estudo, foi significativamente melhor com eribulina do que com dacarbazina (13,5 vs 11,5 meses; hazard ratio [HR], 0,768; P=0.169). No entanto, a mediana de sobrevida livre de progressão foi a mesma nos grupos eribulina e dacarbazina (2,6 vs 2,6 meses; HR, 0,88; P = 0,23). “Ao isolar o grupo de leiomiosarcoma, não houve diferença de sobrevida entre a eribulina e a dacarbazina. A inclusão do lipossarcoma na análise geral torna o estudo positivo”, diz.
Não foram observadas respostas completas. As taxas de resposta parcial foram semelhantes nos grupos eribulina e dacarbazina (4% vs 5%) e para a doença estável (52% vs 48%), bem como a taxa de resposta objetiva (4% eribulina vs. 5% dacarbazina; P = 0,62). Além disso, também não houve diferença significativa entre os grupos eribulina e dacarbazina para o controle da doença (56% vs 53; P = 0,438).
Aprovação
Apesar de ambos os tipos de L-sarcomas terem sido avaliados no estudo, a eribulina foi aprovada apenas para lipossarcoma. Uma análise exploratória de subgrupos pré-planejada mostrou que os efeitos do tratamento de eribulin foram limitados a pacientes com lipossarcoma, sem evidência de sua eficácia em pacientes com leiomiossarcoma avançado ou metastático.
A aprovação do FDA foi concedida com base em resultados do subgrupo de 143 pacientes com lipossarcoma. Segundo a agência, a melhor sobrevida com eribulina comparada à dacarbazina neste subgrupo foi "clinicamente significativa" (15,6 vs 8,4 meses). A mediana de sobrevida livre de progressão, endpoint secundário, também foi melhor com eribulina (2,9 vs 1,7 meses). “O que mais me chamou a atenção foi sua atividade no lipossarcoma de retroperitônio, um sarcoma realmente muito difícil de responder à quimioterapia. Nesse subgrupo de pacientes acredito que seja justificável seu uso, inclusive em segunda linha”, diz.
Eventos adversos relacionados ao tratamento foram mais frequentes com eribulina (224 pacientes (99%)) do que aqueles que receberam dacarbazina (218 (97%)). Eventos adversos de grau 3 ou mais elevadas foram mais comuns nos pacientes que receberam eribulina (152 [67%]) do que naqueles que receberam dacarbazina (126 [56%]), assim como os óbitos (10 [4%] vs 3 [1%]); uma morte (no grupo eribulina) foi considerado relacionado com o tratamento-por parte dos investigadores.
Os autores afirmaram que que a eribulina pode ser uma opção de tratamento para sarcoma avançado dos tecidos moles. “É uma doença órfã, e mais opções para o tratamento são sempre bem-vindas. Por seu perfil de toxicidade, é importante verificar qual grupo de pacientes pode realmente se beneficiar. Em sarcomas a seleção de pacientes é essencial”, conclui.
Financiado pela Eisai, o estudo está registrado com ClinicalTrials.gov (NCT01327885).
Referências: Eribulin versus dacarbazine in previously treated patients with advanced liposarcoma or leiomyosarcoma: a randomised, open-label, multicentre, phase 3 trial
FDA approves first drug to show survival benefit in liposarcoma