Em indivíduos que apresentaram perda de peso não intencional em período recente (2 anos), sem dietas ou exercícios físicos, a taxa de diagnóstico de câncer aumentou significativamente nos 12 meses seguintes em comparação com aqueles sem perda de peso recente. É o que mostram resultados de Wang et al. em estudo publicado no JAMA.
Nesta análise, os pesquisadores consideraram uma coorte de mulheres com 40 anos ou mais do Nurses' Health Study que foram acompanhadas prospectivamente de junho de 1978 até 30 de junho de 2016, além de homens com 40 anos ou mais do Health Professionals Follow-Up Study, acompanhados de janeiro de 1988 até 31 de janeiro de 2016. O objetivo foi determinar as taxas de diagnósticos de câncer ao longo de 12 meses entre profissionais de saúde com perda de peso nos últimos 2 anos, em comparação com aqueles sem perda de peso recente.
A mudança recente de peso foi calculada a partir dos pesos dos participantes relatados bienalmente. A intencionalidade da perda de peso foi categorizada como alta se a atividade física e a qualidade da dieta aumentassem, média se apenas 1 aumentasse e baixa se nenhuma aumentasse.
Os resultados relatados no JAMA revelam que o seguimento mediano foi de 28 anos. Entre 157.474 participantes (idade média, 62 anos [IQR, 54-70 anos]; 111.912 eram mulheres [71,1%]; 2.631 participantes [1,7%] se identificaram como asiáticos, nativos americanos ou nativos havaianos; 2.678 participantes negros [1,7%] e 149.903 participantes brancos [95,2%]).
Durante o acompanhamento de 1,64 milhão de pessoas-ano, 15.809 casos de câncer foram identificados (taxa de incidência, 964 casos/100.000 pessoas-ano). Durante os 12 meses após a alteração de peso relatada, ocorreram 1.362 casos de câncer/100.000 pessoas-ano entre todos os participantes com perda de peso recente superior a 10,0% do peso corporal, em comparação com 869 casos de câncer/100.000 pessoas-ano entre aqueles sem perda de peso recente (diferença entre grupos, 493 casos/100.000 pessoas-ano [IC 95%, 391-594 casos/100.000 pessoas-ano]; P < 0,001).
Entre os participantes categorizados com baixa intencionalidade para perda de peso, houve 2.687 casos de câncer/100.000 pessoas-ano para aqueles com perda de peso superior a 10,0% do peso corporal, em comparação com 1.220 casos de câncer/100.000 pessoas-ano para aqueles sem perda de peso recente (diferença entre grupos, 1.467 casos/100.000 pessoas-ano [IC 95%, 799-2.135 casos/100.000 pessoas-ano]; P < 0,001).
Os autores descrevem que o câncer do trato gastrointestinal superior (câncer de esôfago, estômago, fígado, trato biliar ou pâncreas) foi particularmente comum entre participantes com perda de peso recente; houve 173 casos de câncer/100.000 pessoas-ano para aqueles com perda de peso superior a 10,0% do peso corporal, em comparação com 36 casos de câncer/100.000 pessoas-ano para aqueles sem perda de peso recente (diferença entre grupos, 137 casos/ano; P < 0,001).
Em conclusão, indivíduos com perda de peso nos últimos 2 anos tiveram risco significativamente maior de câncer durante os 12 meses subsequentes em comparação com aqueles sem perda de peso recente. O câncer do trato gastrointestinal superior foi particularmente comum entre os participantes com perda de peso recente não intencional.
Referência: Wang Q, Babic A, Rosenthal MH, et al. Cancer Diagnoses After Recent Weight Loss. JAMA. 2024;331(4):318–328. doi:10.1001/jama.2023.25869