Estudo publicado na New England Journal of Medicine (NEJM) mostra que o tratamento com ibrutinibe-venetoclax-ibrutinibe monitorado por análise de Doença Residual Mínima (DRM) melhorou a sobrevida livre de progressão e a sobrevida global de pacientes com leucemia linfocítica crônica (LLC) em relação ao esquema fludarabina-ciclofosfamida-rituximabe (FCR) em monoterapia. O hematologista Nelson Hamerschlak (foto), do Hospital Israelita Albert Einstein, analisa os resultados.
Neste estudo de fase 3, multicêntrico, randomizado, controlado e de plataforma aberta, os pesquisadores inscreveram pacientes com LLC não tratada para comparar ibrutinibe-venetoclax e ibrutinibe com FCR. No grupo ibrutinibe-venetoclax, após 2 meses de ibrutinibe, foi adicionado venetoclax por até 6 anos de terapia. A duração do tratamento com ibrutinibe-venetoclax foi definida por DRM avaliada no sangue periférico e na medula óssea e foi o dobro do tempo necessário para atingir a DRM indetectável. O endpont primário foi a sobrevida livre de progressão no grupo ibrutinibe-venetoclax em comparação com o grupo FCR. Os principais endpoints secundários foram sobrevida global, resposta, DRM e segurança.
Um total de 523 pacientes foi randomizado para o grupo ibrutinibe-venetoclax ou para o grupo FCR. Em uma mediana de 43,7 meses, os resultados relatados por Munir et al. na NEJM mostram que houve progressão da doença ou morte em 12 pacientes no grupo ibrutinibe-venetoclax e em 75 pacientes no grupo FCR (razão de risco, 0,13; intervalo de confiança [IC] de 95%, 0,07 a 0,24; P <0,001). A morte ocorreu em 9 pacientes no grupo ibrutinibe-venetoclax e em 25 pacientes no grupo FCR (razão de risco, 0,31; IC 95%, 0,15 a 0,67). Aos 3 anos, 58,0% dos pacientes do grupo ibrutinibe-venetoclax interromperam a terapia devido a DRM indetectável. Após 5 anos de terapia com ibrutinibe-venetoclax, 65,9% dos pacientes apresentavam DRM indetectável na medula óssea e 92,7% apresentavam DRM indetectável no sangue periférico.
Em relação ao perfil de segurança, os resultados revelam que o risco de infecção foi semelhante no grupo ibrutinibe-venetoclax e no grupo FCR. A porcentagem de pacientes com eventos adversos cardíacos graves foi maior no grupo ibrutinibe-venetoclax do que no grupo FCR (10,7% vs. 0,4%).
“Ibrutinibe-venetoclax dirigido por MRD melhorou a sobrevida livre de progressão em comparação com o FCR e os resultados de sobrevida global também favoreceram ibrutinibe-venetoclax”, destacam os autores.
“O estudo traz duas mensagens que em conjunto são muito importantes no manuseio da leucemia linfocítica crônica. “A possibilidade de um tratamento finito com duas drogas orais (ibrutinibe e venetoclax) e a monitorização com doença residual mínima mostrando a profundidade de resposta. O estudo usa como grupo comparador o esquema FCR que em pacientes com estado mutado da cadeia pesada da imunoglobulina apresentava um platô na curva de sobrevida ao redor de 50%”, afirma Hamerschlak.
“Os resultados mostraram não somente uma maior sobrevida livre de progressão como significativa melhora na sobrevida global, com perfil de toxicidade semelhante. Sabemos que todas as novas drogas inibidoras de BTK e/ou Venetoclax com anticorpos monoclonais mostraram superioridade quando comparados com esquemas de quimioterapia com imunoterapia. Este estudo guiado por doença residual mínima nos oferece uma excelente opção oral sem quimioterapia e com resultados excelentes”, conclui.
Este estudo foi financiado pela Cancer Research UK e realizado pelo National Cancer Research Institute Chronic Lymphocytic Leukemia Subgroup (EudraCT: 2013-001944-76).
Referência: January 25, 2024. N Engl J Med 2024; 390:326-337. DOI: 10.1056/NEJMoa2310063