Onconews - Pesquisa analisa mortalidade por câncer em 343 cidades latino-americanas

Estudo ecológico buscou descrever a variabilidade nas taxas de mortalidade por câncer em 343 cidades em nove países latino-americanos, incluindo o Brasil. Os resultados mostram que compreender os padrões de urbanização e desenvolvimento da América Latina, assim como seus efeitos sobre exposições especificamente ligadas ao câncer, é essencial para orientar esforços de prevenção e controle do câncer na região. O trabalho tem participação da médica Waleska Teixeira Caiaffa (foto), do Observatório de Saúde Pública da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

De acordo com a Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer, houve aproximadamente 10 milhões de mortes por câncer em 2022 e 20 milhões de novos casos de câncer, 70% deles em países de baixa e média renda (LMICs, das iniciais em inglês).

Nesta análise, Alfaro et al. lembram que a urbanização pode contribuir para o aumento das taxas de câncer associadas a mudanças comportamentais, como estilos de vida mais sedentários, maior consumo de alimentos ultraprocessados, aumento do tabagismo e do consumo de álcool e maior exposição a poluentes. No entanto, a urbanização também oferece maiores oportunidades para o controle do câncer (ou seja, prevenção, detecção e tratamento).

Os pesquisadores utilizaram dados de cidades na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, México e Panamá. Dados vitais de registro e população de 1º de janeiro de 2015 a 31 de dezembro de 2019 foram considerados para estimar as taxas de mortalidade por câncer específicas por sexo e padronizadas por idade para cada cidade, compreendendo sete tipos de câncer (mama, pulmão, colorretal, estômago, fígado, próstata e cervical). Os pesquisadores buscaram associações entre as taxas de morte e o desenvolvimento socioeconômico das cidades analisadas.

Os resultados publicados no Lancet Global Health revelam ampla variabilidade na mortalidade por câncer por cidade (as taxas gerais de mortalidade por câncer ajustadas por idade variaram em quase três vezes), sexo e sítio do câncer. A variabilidade entre cidades dentro do mesmo país foi maior para câncer cervical e de próstata.

As causas mais comuns de mortes por câncer foram câncer de mama (305 cidades) para mulheres e câncer de próstata (167 cidades) e câncer de pulmão (132 cidades) para homens. O câncer de fígado e cervical foi a principal causa de mortalidade por câncer em menos de dez cidades cada, a maioria na Guatemala e no México.

Os autores descrevem que o menor desenvolvimento socioeconômico das cidades analisadas foi associado a maior mortalidade por câncer de fígado, estômago, câncer cervical e de próstata, enquanto foi associado a menor mortalidade por câncer de mama, colorretal e pulmão, com variações por sexo.

“Encontramos considerável heterogeneidade na mortalidade por câncer entre cidades, padrões geográficos e associações entre taxas de mortalidade por câncer e desenvolvimento socioeconômico”, concluem os autores. “Nossos resultados destacam a necessidade de considerar os contextos de cada cidade ao planejar intervenções para reduzir a mortalidade por câncer e orientar futuros esforços de prevenção e controle do câncer em áreas urbanas dentro da região”, analisam.

Na América Latina, houve cerca de 1,5 milhão de novos casos de câncer e 750 mil mortes por câncer em 2022. Em contraste com a maioria dos países de alta renda, as taxas de mortalidade por câncer em LMICs estão aumentando ou estagnando, assim como tem aumentado a incidência de câncer. 

A íntegra do artigo de Alfaro et at. está disponível em acesso aberto no Lancet Global Health

Referência:

Variability and social patterning of cancer mortality in 343 Latin American cities: an ecological study. Alfaro, Tania et al. The Lancet Global Health, Volume 13, Issue 2, e268 - e276