Alexandre Jácome (foto), postdoctoral fellow em Oncologia Gastrointestinal no MD Anderson Cancer Center, em Houston, Estados Unidos, é co-autor de estudo de Fase II que acaba de reportar resultados avaliando um novo regime experimental no tratamento do carcinoma de células escamosas do canal anal (SCCA, da sigla em inglês).
A incidência de SCCA apresenta curva crescente nos Estados Unidos. O padrão de tratamento para a doença localmente avançada inclui 5-fluorouracil infusional com mitomicina C ou cisplatina concomitante com radioterapia (RT).
Neste estudo Fase II, de braço único, com pacientes com SCCA estágio II a IIIB (TX, 1-4NxM0), os pesquisadores avaliaram o regime composto por capecitabina (825 mg/m2 duas vezes por dia durante 5 dias) e oxaliplatina (50 mg/m2 semanalmente) durante as semanas 1 a 6, concomitante com RT (XELOX-XRT; grupo 1).
Os autores descrevem que após os primeiros 11 pacientes, o estudo foi alterado para omitir a quimioterapia durante a terceira e a sexta semanas (grupo 2). O endpoint primário foi o tempo para a falha do tratamento (TTF) em três anos, além de dados de segurança. Endpoints secundários foram taxa de resposta completa (RC), controle locorregional, sobrevida livre de colostomia (CFS) e sobrevida global (SG).
Resultados
Vinte pacientes foram inscritos. RC ocorreu em 100% dos 19 pacientes avaliados para resposta em 12 a 14 semanas. Após acompanhamento médio de 47,6 meses, 2 pacientes tiveram recidiva local e 1 recidiva distante. TTF em três anos foi de 90,0%, com taxas semelhantes entre os grupos 1 e 2 (respectivamente, 90,9% vs. 88,8%, P = 0,984). O CFS em três anos foi de 90,0%. A média de sobrevida global não foi atingida. Em relação ao perfil de segurança, 7 pacientes do grupo 1 (63%) desenvolveram toxicidade grau 3 versus 22% no grupo 2. Nenhuma toxicidade grau 4 foi observada na população avaliada. A dose mediana de RT foi de 55 Gy.
Os resultados indicam que o regime XELOX-XRT foi seguro, com eficácia promissora, e deve ser explorado em estudos maiores para o tratamento de pacientes com SCCA localmente avançado.
"O tratamento padrão do câncer de canal anal localmente avançado baseia-se na combinação de quimioterapia e radioterapia, com elevadas taxas de resposta. No entanto, os regimes quimioterápicos combinam 5-fluorouracil infusional com mitomicina ou cisplatina, apresentando as desvantagens da necessidade de bomba infusional, a mielotoxicidade e a nefrotoxicidade, respectivamente”, explica Jácome.
O especialista observa que o ineditismo do estudo fase II realizado no MD Anderson Cancer Center está na proposição do uso da oxaliplatina em substituição a cisplatina ou mitomicina. “Tinha-se a preocupação da toxicidade da oxaliplatina concomitante à radioterapia conhecida dos estudos em câncer de reto, mas o nosso trabalho demonstra que o uso de um regime semanal de oxaliplatina com pausas a cada duas semanas é uma opção segura e eficaz”, diz.
Jácome ressalta que o estudo não propõe a modificação do tratamento padrão. Apenas oferece uma alternativa de tratamento aos pacientes que possuem limitações ao uso da cisplatina ou mitomicina. “É particularmente interessante no cenário brasileiro pela dificuldade de acesso à mitomicina e pelas situações relativamente frequentes de contraindicações ao uso da cisplatina na prática clínica", conclui.
Referência: Eng, C., Jacome, A. A., Das, P., Chang, G. J., Rodriguez-Bigas, M., Skibber, J. M., … Crane, C. H. (2019). A Phase II Study of Capecitabine (Xeloda®)/Oxaliplatin (Eloxatin®) with Concurrent Radiotherapy (XRT), XELOX-XRT, in Locally Advanced Squamous Cell Carcinoma of the Anal Canal. Clinical Colorectal Cancer. doi:10.1016/j.clcc.2019.06.003