Uma nova tecnologia baseada em alterações epigenéticas pode encurtar drasticamente a espera por um diagnóstico definitivo de câncer de mama, discriminando lesões cancerígenas ou benignas a partir do tecido biopsiado em apenas cinco horas. É o que mostram resultados preliminares de estudo liderado por pesquisadores do Johns Hopkins Kimmel Cancer Center, com a participação do brasileiro Antonio Wolff (foto).
Embora os resultados sejam preliminares e precisem de validação adicional, o teste tem o potencial de reduzir o tempo necessário para diagnóstico definitivo de câncer de mama, o que se traduz em benefício estratégico especialmente em países com limitada disponibilidade de recursos. “Atrasos no diagnóstico são uma barreira para iniciar o tratamento, especialmente em países em desenvolvimento, que têm um pequeno número de patologistas para examinar biópsias de mama e atender a uma enorme população", ilustram os autores, em artigo publicado online na edição de julho da Clinical Cancer Research.
Os pesquisadores utilizaram 226 amostras de tecido mamário de mulheres de 25 a 85 anos, provenientes dos EUA, China e África do Sul, representando todos os subtipos de câncer de mama. Quatro tipos diferentes de lesões benignas também foram representados, assegurando uma coleção ampla e com resultados geneticamente aplicáveis. A partir dessas amostras, os pesquisadores analisaram as diferenças de metilação até compor um painel de 10 genes capaz de distinguir as características de metilação de lesões benignas e malignas. O painel foi testado em mais de 246 amostras de tecido mamário e, posteriormente, em um estudo piloto com 73 amostras de aspirados de agulha fina, obtidas de lesões mamárias consideradas suspeitas pela mamografia. O teste diferenciou as 49 lesões benignas das 24 cancerígenas, com 96% de acurácia.
Estes resultados sugerem que o teste é promissor como um "primeiro passo" para distinguir entre tumores de mama malignos e benignos, disse o investigador principal, Saraswati Sukumar, professor de oncologia e patologia do Johns Hopkins Kimmel Cancer Center. “É um teste que abre a oportunidade de acelerar o diagnóstico para milhares de mulheres em todo o mundo", destacou.
Globalmente, a incidência de câncer de mama continua a crescer. Em 1980, o GLOBOCAN registrou 641 mil novos casos de câncer de mama em todo o mundo. Em 2018, a incidência estimada subiu para 2,1 milhões de casos de câncer de mama, representando aumento anual de 3,2%, com 626 mil mortes.
Referência: Downs, B., Mercado-Rodriguez, C., Cimino-Mathews, A., Chen, C., Yuan, J., Van Den Berg, E. J., … Sukumar, S. (2019). DNA Methylation Markers for Breast Cancer Detection in the Developing World. Clinical Cancer Research, clincanres.3277.2018. doi:10.1158/1078-0432.ccr-18-3277