Dados do mundo real de pacientes com adenocarcinoma ductal pancreático tratados com radioterapia corporal estereotática (SBRT) foram selecionados no programa científico do ESMO GI 2024, em apresentação da oncologista Carolina C. Ferreira (foto), do Real Hospital Português de Beneficência, em Recife. Os resultados da experiência brasileira são encorajadores, favorecendo o controle local em quase 2 anos de acompanhamento, com sobrevida global mediana de 27 meses para todos os estadiamentos.
No adenocarcinoma ductal pancreático (PDAC, na sigla em inglês), o controle sistêmico com quimioterapia é fundamental, mas sabe-se que cerca de 30% desses pacientes podem morrer com câncer pancreático localmente destrutivo. A radioterapia corporal estereotática (SBRT) locorrregional pode evitar o comprometimento de estruturas anatômicas próximas ao pâncreas, minimizando atrasos na terapia sistêmica.
Neste estudo, o objetivo foi analisar a taxa de controle local (RECIST 1.1), sobrevida, alívio da dor e resultados de segurança de pacientes submetidos à SBRT pancreática. Dados do mundo real de prontuários médicos foram coletados retrospectivamente de pacientes com PDAC submetidos à SBRT na lesão pancreática tratados em um único centro no Brasil, de janeiro de 2017 a julho de 2023.
A análise envolveu 51 pacientes, com mediana de 64 anos. A mediana de CA 19-9 no diagnóstico foi de 251 U/mL. Quarenta e seis pacientes (90,2%) receberam quimioterapia. A dose mediana de SBRT foi de 33 Gy em 3-5 dias. Na primeira imagem após a SBRT, 39 (83%) dos pacientes apresentaram doença estável e 4 (8,5%) tiveram resposta parcial. Quarenta e três (93,5%) pacientes obtiveram controle local na primeira avaliação de imagem e o tempo mediano para progressão local foi de 11,97 meses. Com um tempo mediano de acompanhamento de 23,94 meses, os autores descrevem que a sobrevida global mediana foi de 27 meses para todos os estadiamentos, com vantagem de sobrevida para aqueles submetidos a mais de duas linhas de regimes de quimioterapia durante a doença (34,36 em comparação com 19,89 meses) com p = 0,012.
Dezesseis pacientes (31,4%) relataram dor abdominal associada ao câncer de pâncreas. Após a SBRT, 13 (86,7%) relataram alívio da dor. Nove pacientes (17,64%) tiveram eventos adversos por SBRT e 3 (5,88%) foram de grau 3 ou 4, mas nenhum resultou em morte relacionada ao paciente.
“O controle local e a sobrevida global foram encorajadores. Como as terapias sistêmicas para câncer de pâncreas continuam a surgir com pouco aumento na sobrevida global, o controle local pode ser importante para manter o paciente fora de complicações, evitando internações hospitalares, melhorando a dor e proporcionando melhor qualidade de vida”, concluem os autores. “Este foi um estudo gerador de hipóteses que mostra os resultados de dados do mundo real de pacientes com PDAC tratados com SBRT locorregional no Brasil”, destacam.
Além de Carolina C. Ferreira, o trabalho tem participação de Matheus Santos Erlon Gil, Antonio Carlos Buzaid e Camilla Y. Yamada.
O ESMO GI 2024 é realizado de 26 a 29 de junho, em Munique, Alemanha.
Referência:
366P - Survival and local control in patients submitted to locoregional SBRT in pancreatic adenocarcinoma: Real-world outcomes in Brazil