Onconews - Pesquisa do Icesp avalia linfadenectomia estendida no câncer de próstata de alto risco

jean lestingi ok bxO urologista Jean Lestingi (foto), do ICESP, é primeiro autor de estudo brasileiro reportado na European Urology, que discute o papel da linfadenectomia pélvica estendida (EPLND) no tratamento cirúrgico de pacientes com câncer de próstata (CaP), com o objetivo de determinar se EPLND tem melhores resultados oncológicos do que PLND limitado (LPLND).” O que fica de take home message é que a linfadenectomia pélvica atualmente é o padrão ouro no estadiamento linfonodal no câncer de próstata e deve continuar fazendo parte do tratamento cirúrgico dos pacientes com maior risco de invasão linfonodal”, destaca Lestingi, ressaltando que este foi o primeiro estudo randomizado que comparou a linfadenectomia estendida vs. limitada em pacientes com câncer de próstata de risco intermediário e alto submetidos a tratamento cirúrgico.

Neste estudo prospectivo de Fase III de instituição única (ICESP) foram considerados pacientes com CaP clinicamente localizado de risco intermediário ou alto. Os pacientes foram randomizados (1: 1) para LPLND (nódulos obturadores) ou EPLND (obturador, ilíaco externo, ilíaco interno, ilíaco comum e nódulos pré-sacrais), bilateralmente.

endpoint primário foi a sobrevida livre de recorrência bioquímica (BRFS, da sigla em inglês). Endpoints secundários foram sobrevida livre de metástases (MFS), sobrevida câncer-específica (CSS) e achados histopatológicos. O estudo foi projetado para mostrar vantagem mínima de 15% no BRFS de 5 anos em relação à EPLND.

Resultados

De maio de 2012 a dezembro de 2016, um total de 300 pacientes foram randomizados para LPLND (N= 150) e EPLND (N= 150). Os dados reportados mostram que a BRFS mediana foi de 61,4 meses no grupo LPLND e não alcançada no grupo EPLND ([HR] 0,91, intervalo de confiança de 95% [IC] 0,63-1,32; p = 0,6).

Lestingi et al. descrevem que a mediana de MFS não foi alcançada em nenhum dos grupos (HR 0,57, IC 95% 0,17-1,8; p = 0,3). Os dados de CSS não estavam disponíveis porque nenhum paciente morreu de CaP antes da data de corte. “Na análise de subgrupos, os pacientes com biópsia pré-operatória dos grupos 3-5 de acordo com critérios da Sociedade Internacional de Patologia Urológica (ISUP) tratados com EPLND tiveram melhor BRFS (HR 0,33, IC 95% 0,14-0,74, interação p = 0,007).

Entre as limitações do estudo estão o curto período de seguimento e a heterogeneidade dos cirurgiões.

“Este ensaio clínico randomizado confirma que EPLND fornece melhor estadiamento patológico, mas não mostrou diferenças nos resultados oncológicos iniciais”, destacam os autores. “Nossa análise de subgrupo sugere um benefício potencial de BCRFS em pacientes diagnosticados com ISUP 3-5; no entanto, esses achados devem ser considerados geradores de hipóteses e outros ensaios clínicos randomizados com coortes maiores e acompanhamento mais longo são necessários para definir melhor o papel de EPLND durante a prostatectomia radical”, concluem.

Referência: Lestingi JFP, Guglielmetti GB, Trinh QD, Coelho RF, Pontes J Jr, Bastos DA, Cordeiro MD, Sarkis AS, Faraj SF, Mitre AI, Srougi M, Nahas WC. Extended Versus Limited Pelvic Lymph Node Dissection During Radical Prostatectomy for Intermediate- and High-risk Prostate Cancer: Early Oncological Outcomes from a Randomized Phase 3 Trial. Eur Urol. 2021 May;79(5):595-604. doi: 10.1016/j.eururo.2020.11.040. Epub 2020 Dec 5. PMID: 33293077.