innovationA carga global do câncer continua a movimentar o ambiente de pesquisa e projeta a oncologia na liderança da inovação no setor farmacêutico. A pesquisa em câncer está na dianteira quando se considera o nível de atividade de ensaios clínicos, o tamanho do pipeline em desenvolvimento, o número de empresas investindo em novos medicamentos e substâncias ativas e, mais ainda, os gastos com esses medicamentos. Os dados são da IQVIA1 e mostram que as despesas globais com oncologia devem ultrapassar US$ 300 bilhões até 2026.

Na era dos biomarcadores, a medicina de precisão continua a dar o tom e plataformas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) investem alto em terapias-alvo, terapias gênicas e celulares, além de imuno-oncológicos, que crescem em indicações e cenários de tratamento. Nos últimos anos (2016-2021), anticorpos capazes de inibir a proteína da morte celular programada e seu ligante (PD-1/PD-L1) cresceram a uma taxa três vezes maior que as taxas da oncologia como um todo, com um CAGR de 45%, o Compound Annual Growth Rate, sinalizando a previsão de atingir 58 bilhões de dólares em vendas até 20252.  

Em 2021, ano em que farmacêuticas e biotechs atingiram níveis históricos no lançamento de ensaios clínicos, com aumento de 56% em relação ao recorde anterior de 2016, nada menos que 740 empresas estavam diretamente envolvidas na pesquisa de produtos oncológicos. Dessas, 135 são consideradas big pharmas, enquanto as demais se dividem em farmacêuticas de médio porte, biofarmacêuticas emergentes e pequenas empresas. Entre as companhias que aquecem o ambiente de pesquisa em câncer, 501 atuam com foco 100% em oncológicos.

O volume de investimentos dedicado à P&D também cresceu. Levantamento da IQVIA aponta que as 15 maiores empresas farmacêuticas investiram a cifra recorde de 133 bilhões de dólares em P&D em 2021, um aumento de 44% desde 2016.

Expansão

Compreender como a COVID-19 impactou o ritmo da pesquisa em câncer ajuda a entender o pipeline atual. Basta dizer que mesmo no período mais agudo da pandemia, os ensaios clínicos se mantiveram, com declínio de apenas 1% no nível de atividade. E mais: a produtividade do desenvolvimento clínico – métrica composta de taxas de sucesso, complexidade e duração do estudo clínico – se recuperou em 2022, revertendo tendência de queda de 10 anos, segundo dados da IQVIA.

Sinalizando a retomada, 64 novas substâncias ativas (NASs) foram lançadas em 2022, com presença marcante da Oncologia no cenário de inovação. A pesquisa em câncer permanece como carro-chefe, compreendendo quase 40% do pipeline total das farmacêuticas de 2018 a 2022. Para os próximos cinco anos são esperados 100 novos medicamentos contra o câncer em todo o mundo, com a maioria deles disponíveis nos EUA no momento do lançamento3. Resta saber se a agenda de P&D dialoga com as prioridades de pesquisa dos países em desenvolvimento, os chamados LMICs (do inglês Low and Middle Income Countries). 

No esteio da medicina
de precisão, terapias-alvo, terapias celulares
e imunobiológicos fomentam o ambiente
de pesquisa

Com mais de 40% do pipeline, cânceres raros continuam a concentrar o interesse da pesquisa clínica, em tendência que deve se manter nos próximos anos. Dados da International Cancer Research Partnership (ICRP) mostram a distribuição dos investimentos em P&D, revelando que o financiamento à pesquisa do câncer pancreático triplicou entre 2006 (US$ 62 milhões) e 2018 (US$ 259 milhões). Da mesma forma, o investimento na pesquisa de tumores cerebrais mais que dobrou no mesmo período, de US$ 130 milhões em 2006 para US$ 391 milhões em 20183.

Em termos absolutos, pesquisas em câncer de mama, colorretal e próstata absorveram maior volume de investimento, mas o financiamento está longe de atender todas as áreas estratégicas. Enquanto cresceu o investimento em novas terapias, a análise mostra que diminuiu a pesquisa dedicada à prevenção. Composta por mais de 140 organizações de pesquisa em câncer nos Estados Unidos, Canadá, Europa, Japão e Austrália, a ICRP mantém a única fonte pública de financiamento para a pesquisa em câncer, que desde sua criação em 2000 investiu mais de US$ 80 bilhões.

Referências:

  1. Global Oncology Trends, 2022 – IQVIA https://www.iqvia.com/insights/the-iqvia-institute/reports/global-oncology-trends-2022
  2. In the Eye of the Storm: PD-(L)1 Inhibitors Weathering Turbulence Challenges and opportunities as the immune checkpoint inhibitor market matures MARKUS GORES, Vice President, European Thought Leadership, IQVIA, disponível em https://www.iqvia.com/-/media/iqvia/pdfs/library/white-papers/iqvia_in-the-eye-of-the-storm_pd-1-inhibitors-weathering-turbulence_05-22-forweb.pdf
  3. Global Use of Medicines 2023 – Outlook to 2027, IQVIA - https://www.iqvia.com/insights/the-iqvia-institute/reports/the-global-use-of-medicines-2023
  4. Pramesh, C.S., Badwe, R.A., Bhoo-Pathy, N. et al. Priorities for cancer research in low- and middle-income countries: a global perspective. Nat Med 28, 649–657 (2022). https://doi.org/10.1038/s41591-022-01738-x
  5. Trends in International Cancer Research Investment 2006-2018 - DOI: 10.1200/GO.20.00591 JCO Global Oncology no. 7 (2021) 602-610. Published online April 28, 2021.