Sulayne Guimarães (foto), da Universidade Federal do Maranhão, é primeira autora de estudo que analisou o perfil imune do carcinoma espinocelular de pênis em pacientes HPV-positivos e HPV-negativos, com achados que fornecem insights para a compreensão do microambiente tumoral e podem informar o desenvolvimento de estratégias de imunoterapia.
O carcinoma espinocelular de pênis (PSCC) é frequentemente negligenciado, especialmente em regiões subdesenvolvidas e está associado a fatores de risco, como baixo status socioeconômico, fimose e infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV). Ao contrário de outros cânceres urogenitais, sua fisiopatologia e alvos de tratamento permanecem pouco compreendidos. Neste estudo, o objetivo foi elucidar o papel do sistema imunológico no PSCC, analisando perfis de infiltração de células imunes, maturação de células dendríticas e apoptose de linfócitos em pacientes HPV-positivos e HPV-negativos.
Dados clínicos e histopatológicos, juntamente com amostras de sangue periférico e tecido tumoral, foram coletados de 30 pacientes, com 19 doadores saudáveis adicionais servindo como controles. As células imunes infiltrantes do tumor foram avaliadas por meio de digestão enzimática do tecido seguida por análise fenotípica. Os pesquisadores descrevem que um microambiente tumoral simulado foi gerado usando sobrenadantes de culturas primárias de tumores PSCC HPV-positivos. Células mononucleares do sangue periférico foram isoladas e diferenciadas em células dendríticas (Mo-DCs) para ensaios de fenotipagem e linfoproliferação. Linfócitos de doadores saudáveis e de pacientes foram expostos a sobrenadantes de cultura tumoral para avaliar a apoptose induzida pelo microambiente tumoral.
A coorte do estudo incluiu principalmente indivíduos com baixos níveis de escolaridade, majoritariamente trabalhadores rurais, com idade média de 60,18 anos (intervalo: 26-94), com relacionamentos estáveis. Os fatores de risco incluíram tabaco, álcool e fimose. Entre os pacientes com PSCC, 66,6% eram HPV-positivos e 33,3% HPV-negativos.
As células infiltradas no tumor revelaram que os tumores HPV-positivos exibiram frequências de linfócitos T mais baixas do que os tumores HPV-negativos. Para os testes imunológicos, as amostras positivas tinham subtipos virais 16 (66,7%) e 18 (33,3%), definidos como HPV oncogênico de alto risco (hrHPV). Os resultados da análise revelam que os pacientes hrHPV-positivos demonstraram taxas reduzidas de Mo-DCs maduros e expressão coestimulatória diminuída em comparação com doadores saudáveis. Mo-DCs hrHPV-positivos mostraram capacidade de linfoproliferação prejudicada em relação aos controles, enquanto pacientes HPV-negativos exibiram uma tendência de queda. No microambiente tumoral simulado, os linfócitos de doadores saudáveis passaram por apoptose, contrastando com os linfócitos dos pacientes, que mostraram maior viabilidade.
“Essas descobertas destacam a influência da infecção por HPV na infiltração de linfócitos T, maturação de Mo-DC e sobrevivência de linfócitos no PSCC, fornecendo insights essenciais para a compreensão do microambiente tumoral e para informar o desenvolvimento de estratégias de imunoterapia”, concluem os autores.
Ao lado de Sulayne J. Guimarães, o estudo tem participação de André A. Vale, Mirtes C. Rocha, Ana Luiza d. Butarelli, Jenilson da Silva, Amanda J. Deus, Leudivan Nogueira, Ronald Wagner P. Coelho e Silma Regina Pereira, além de Ana Paula Azevedo-Santos, do Laboratório de Imunologia Aplicada ao Câncer da Universidade Federal do Maranhão, que assina como autora correspondente.
Referência:
Front. Oncol. Sec. Genitourinary Oncology - Volume 14 - 2024 | Human papillomavirus infection affects the immune microenvironment and antigen presentation in penile cancer I doi: 10.3389/fonc.2024.1463445