Onconews - Pesquisa mostra disparidades no diagnóstico de tumores de cabeça e pescoço no Brasil

O estágio avançado do câncer é um fator determinante no mau prognóstico. Os carcinomas espinocelulares  de cabeça e pescoço (CEC) são altamente incidentes no Brasil e o diagnóstico em estágio avançado ainda é uma realidade, associado principalmente à idade, ao local do tumor primário e a fatores socioeconômicos, como aponta estudo de Flávia Nascimento de Carvalho (foto) e colegas, no Lancet Global Health Americas.

Neste estudo, o objetivo foi identificar os fatores associados ao estadiamento clínico avançado dos CEC no Brasil, com base em dados secundários coletados de Registros Hospitalares de Câncer (HBCR) entre 2000 e 2017. Análise descritiva de dados e regressão de Poisson com variância robusta foram realizadas para determinar as razões de prevalência.

Os resultados mostram que entre os 145.365 casos de carcinomas espinocelulares  de cabeça e pescoço coletados, 78,2% (90.267/115.371) foram diagnosticados nos estágios III ou IV. A maior parcela de tumores em estágio avançado foi de hipofaringe [91,3% (10.186/11.159)], seguida por orofaringe [86,6% (28.578/32.991)], cavidade oral [75,1% (27.121/36.120)] e câncer de laringe [69,5% (24.382/35.101)].

“Observamos tendências de aumento anual de 0,29% e 0,38% para tumores em estágio avançado de cavidade oral e orofaríngea, respectivamente”, destacam os autores, acrescentando que pacientes com menos de 50 anos, com baixo nível de escolaridade, com tumor primário localizado na hipofaringe ou orofaringe e consumidores de álcool e tabaco foram positivamente associados ao estágio avançado.

A análise mostra, ainda,  efeito dose-resposta de uma redução estatisticamente significativa na prevalência de casos diagnosticados em estágios avançados à medida que a faixa etária ou o nível de escolaridade dos pacientes aumenta, revelando desigualdades que devem ser mitigadas para permitir acesso e diagnóstico mais universais e equitativos em estágios iniciais.

Além de Flávia Nascimento de Carvalho (INCA), o estudo tem a participação de Marianna de Camargo Cancela (INCA), Luciano Mesentier da Costa (INCA), Luís Felipe Leite Martins (INCA), Fernando Luiz Dias (INCA), Dyego Leandro Bezerra de Souza (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e Luís Felipe Ribeiro Pinto (INCA, UERJ), que assina como autor correspondente.

Referência:

Disparities in stage at diagnosis of head and neck tumours in Brazil: a comprehensive analysis of hospital-based cancer registries

Nascimento de Carvalho, Flávia et al. The Lancet Regional Health – Americas, Volume 42, 100986. https://doi.org/10. 1016/j.lana.2024. 100986